País

Reorganização judiciária e cortes salariais devem marcar abertura de ano judicial

Reorganização judiciária, cortes salariais dos magistrados, o papel do Tribunal Constitucional, o relacionamento política/justiça, apoio judiciário, falta de funcionários judiciais e crime económico são temas quase certos, hoje, na abertura do ano judicial.

A cerimónia vai assinalar a estreia do presidente do Supremo Tribunal  de Justiça, Henriques Gaspar, e da bastonária da Ordem dos Advogados, Elina  Fraga, numa maratona de intervenções solenes que inclui ainda discursos  da procuradora-geral da República (PGR), Joana Marques Vidal, da ministra  da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, em representação do primeiro-ministro,  e do Presidente da República. 

Elina Fraga, que sucedeu a Marinho e Pinto com o apoio deste nas últimas  eleições, deverá insistir na questão das defesas oficiosas, numa altura  em que o Ministério da Justiça reconhece que tem por liquidar, até final  de fevereiro, uma verba de 17 milhões de euros aos advogados que prestam  o serviço garantido pelo Estado a pessoas financeiramente carenciadas. 

A desjudicialização da justiça e a alegada privatização de serviços  e mecanismos judiciais de resolução de litígios podem ser outra das pedras  de toque do discurso da bastonária. 

A ministra da Justiça deverá elencar as reformas legislativas, incluindo  o novo Código de Procedimento Administrativo, e indicar o esforço financeiro  direcionado para obras ligadas ao novo mapa judiciário, ao sistema prisional  e à nova sede da Polícia Judiciária em Lisboa. 

Nas prisões, a intenção é alargar a lotação em 600 lugares, numa altura  em que se regista um número recorde de reclusos, que ultrapassa os 14.100.

Aguarda-se que Paula Teixeira da Cruz anuncie medidas para atenuar  a enorme falta de oficiais de justiça, situação que leva a situações de,  em alguns tribunais, existirem mais magistrados do que funcionários judiciais,  o que também condiciona e afeta o trabalho de juízes e magistrados do Ministério  Público. 

A ministra poderá apresentar, como dado mais animador, novos indicadores  da taxa de resolução de litígios que supostamente apontam para o fecho de  mais processos do que aqueles que entram nos tribunais. A ação executiva  (cobrança de dívidas) deverá ser também um tema do seu discurso. 

Joana Marques Vidal, a quem a Associação Sindical dos Juízes Portugueses  pediu que suscitasse junto do Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva  da constitucionalidade do Orçamento do Estado para 2014, na parte tocante  ao agravamento dos cortes salariais, deverá centrar a sua intervenção em  aspetos menos polémicos, depois de a última auditoria da Procuradoria, sobre  violação do segredo de justiça e respetivas recomendações, lhe terem valido,  sobretudo, críticas. 

Numa altura em que casos importantes ligados aos submarinos alemães,  aos Pandur, às parcerias público-privadas, à operação Furação, ao Banco  Português de Negócios (o processo em separado, envolvendo Dias Loureiro)  e aos "swap" permanecem ainda em investigação, espera-se que a procuradora-geral  da República diga algo de substantivo sobre o combate à grande criminalidade  económica e à corrupção. 

Henriques Gaspar, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, deverá  retomar a questão da utilização cada vez mais frequente da justiça como  palco do combate político e enfatizar a rapidez do Supremo na resolução  de processos. 

De Cavaco Silva espera-se, basicamente, um discurso apaziguador e de  apelo a consensos.

Últimas