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Pais e professores juntaram-se contra o "empobrecimento da educação especial" 

Dezenas de pais e professores de alunos com  necessidades educativas especiais (NEE) concentraram-se esta tarde frente  ao Ministério da Educação, em Lisboa, para reivindicar apoios efetivos e  o fim de uma "política de empobrecimento da educação especial". 

"É extremamente importante que pais e professores se juntem, é uma situação  inédita. Achamos que o Ministério está a seguir uma política de empobrecimento  da educação especial, de empobrecimento de recursos, quando as necessidades  são as mesmas. Administrativamente parece que está tudo bem, mas as escolas  estão a ter cada vez mais dificuldade em proporcionar uma educação com qualidade.  Estamos aqui a lutar pelos direitos educacionais e sociais dos alunos com  dificuldades", disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Docentes  de Educação Especial -- Pró Inclusão (Pin), David Rodrigues. 

Lado a lado com outros professores, pais e algumas crianças e jovens  com NEE, David Rodrigues justificou a presença frente ao Ministério tutelado  por Nuno Crato, classificando este ano letivo como um "ano anómalo", com  menos professores colocados, com professores colocados mais tarde e com  orçamentos reduzidos para os centros para a inclusão. "Sobretudo, não há uma política organizada, estruturada, de melhoria  em relação às crianças com dificuldades", criticou David Rodrigues, referindo  ainda que as estimativas são de que este ano haja nas escolas cerca de menos  25% a 30% de professores de educação especial face aos cerca de 4.600 que  havia no ano letivo anterior. 

Luísa Beltrão, presidente da Associação Pais em Rede, e mãe de uma jovem  adulta com um atraso cognitivo, deu o exemplo da própria filha, e dos progressos  que esta obteve por frequentar instituições de apoio e ter conseguido um  lugar no mercado de trabalho, para defender um investimento de toda a sociedade  nas pessoas com deficiências ou necessidades especiais. 

Sublinhando que este foi o ano em que se "agravaram as fragilidades  que já vinham de trás", Luísa Beltrão disse que a presença em frente ao  Ministério, na avenida 05 de Outubro, se enquadrava numa "atitude construtiva". "Sabemos que o país atravessa uma situação difícil e estamos aqui para  encontrar soluções conjuntas", disse. 

Maria Manuel, mãe de um rapaz de 13 anos com um atraso cognitivo provocado  pela Síndrome de X Frágil, que o prende a uma idade mental de três anos,  esteve hoje na concentração, mais pelos outros do que pela sua própria situação.

Regressou a Portugal para encontrar soluções de apoio para o filho e  encontrou-as em Sintra, depois de uma experiência menos positiva numa escola  em Cascais. A escola onde o seu filho agora frequenta uma turma de ensino  estruturado "é extraordinária, desde o diretor aos auxiliares", e os apoios  que quase todos os pais reivindicam para os filhos com NEE, como terapia  da fala e psicólogos, vão estar disponíveis na escola a partir da próxima  segunda-feira. 

Já Célia Colaço, mãe de um menino de nove anos, que sofre da mesma síndrome,  não tem uma história tão feliz para contar. Revoltada com o Ministério,  disse que praticamente teve que "mendigar para ter acesso a apoios instituídos"  e que deviam estar disponíveis na escola pública. "Felizmente, até agora ainda tenho emprego. Outros apoios, como terapia  da fala, tive que pagar, porque neste momento não há vaga na escola", disse.

Fátima Delgado foi à concentração pedir "uma saída para os 'adolescentes-adultos'".  Mãe de uma jovem de 20 anos, desde que a filha completou os 18 anos de idade  que tem que pagar a frequência na instituição em que está inscrita, porque,  com a maioridade da filha Inês, perdeu o direito a comparticipações estatais. "O que a lei diz é que, a partir dos 18 anos, podem frequentar cursos  técnico-profissionais, mas não há cursos técnico-profissionais para estes  miúdos. Há as CERCI's, mas não há lugar, estão completamente lotadas. A  solução é ficar em casa. Quando está em casa tento que faça as tarefas domésticas,  é uma maneira de se tornar independente, um dia, esperemos", contou. 

Professores e pais de crianças com NEE concentraram-se hoje frente ao  Ministério da Educação com o objetivo de denunciar "os graves atropelos"  aos direitos daqueles alunos, e exigir da tutela a resolução "urgentemente"  do problema. 

A ação de protesto foi organizada pela Pin e pela Associação Pais em  Rede, com o nome de "Concentração Nacional por Uma Educação Inclusiva de  Qualidade". 

 

Lusa

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