A presidente da Comissão Europeia defendeu esta quarta-feira que a fome provocada por Israel em Gaza "não pode ser uma arma de guerra" e "tem de acabar" e anunciou medidas para aumentar a pressão sobre Telavive.
No discurso sobre o Estado da União, na sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo, Ursula von der Leyen descreveu: "Pessoas mortas enquanto imploravam por comida, mães segurando bebés sem vida... Estas imagens são simplesmente catastróficas e, por isso, quero começar com uma mensagem muito clara, a fome provocada pelo homem nunca pode ser uma arma de guerra".
Depois de ter sido bastante criticada pelo silêncio sobre Gaza e por ser próxima de Israel, a responsável alemã vincou, obtendo aplausos dos eurodeputados: "Pelo bem das crianças, pelo bem da humanidade, isto tem de acabar".
"Esta é uma clara tentativa de minar a solução de dois Estados"
De acordo com Ursula von der Leyen, o que está a acontecer no enclave palestiniano devido à ofensiva israelita "abalou consciência do mundo" e "é inaceitável".
"Isto também faz parte de uma mudança mais sistemática nos últimos meses que é simplesmente inaceitável", adiantou a política alemã de centro-direita, condenando o sufoco financeiro da Autoridade Palestiniana, os planos para colonização da Cisjordânia ocupada e "as ações e declarações dos ministros mais extremistas do governo israelita".
Para a líder do executivo comunitário, "esta é uma clara tentativa de minar a solução de dois Estados, de minar a visão de um Estado palestiniano viável, e não se pode permitir que isso aconteça".
Ao vincar que "a Europa deve liderar o caminho", Ursula von der Leyen anunciou mais medidas para pressionar Israel a acabar com a ofensiva em Gaza, como a suspensão do apoio bilateral, a interrupção dos pagamentos sem afetar o trabalho com a sociedade civil, a introdução de sanções contra os ministros extremistas e os colonos violentos e ainda a suspensão parcial do Acordo de Associação da UE com Telavive no que diz respeito a questões comerciais.
"Estou ciente de que será difícil obter maiorias e sei que qualquer ação será excessiva para alguns e insuficiente para outros", considerou.
Pendente no Conselho da UE, por falta de consenso entre os Estados-membros, está a proposta da Comissão Europeia para suspender partes do financiamento a Israel no âmbito do projeto Horizonte Europa.
"Sei que, para muitos cidadãos, a incapacidade da Europa de chegar a acordo sobre um caminho comum a seguir é igualmente dolorosa. Eles perguntam quanto pior as coisas têm de ficar para que haja uma resposta unânime e eu compreendo", referiu.
Apoio financeiro e ajuda humanitária da UE "supera em muito os de qualquer outro parceiro"
Ainda assim, Ursula von der Leyen lembrou que o apoio financeiro e ajuda humanitária da UE "supera em muito os de qualquer outro parceiro" e também o papel comunitário na defesa de uma solução de dois Estados, exortando "os outros a intensificarem também esforços com urgência, tanto na região como fora dela".
A posição surge quando se assinalam quase dois anos de guerra na Faixa de Gaza, na qual já morreram mais de 64 mil pessoas e mais de 160 mil ficaram feridas, sobretudo devido aos ataques israelitas, indicam números do Governo de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas, considerados fiáveis pela ONU.
A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, no qual morreram 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
A presidente da Comissão Europeia faz esta quarta-feira o seu quinto discurso sobre o Estado da União e o primeiro do novo mandato, iniciado em dezembro passado, quando enfrenta críticas relacionadas com a postura passiva sobre Gaza e desequilíbrio no acordo com os Estados Unidos.