Opinião

Sessão de Cinema: “Os Carabineiros”

No período da Nova Vaga francesa, este é um dos filmes mais insólitos, e também mais fascinantes, de Jean-Luc Godard: uma parábola política sobre a guerra.

Em toda a filmografia de Jean-Luc Godard, “Os Carabineiros” (1963) é, por certo, o título que, a par de “Alphaville” (1965), mais se assume como uma verdadeira parábola política. Tudo se passa num país imaginário, gerido por um rei que mobiliza o povo para a guerra…

Que guerra? Implacável e destrutiva. As duas figuras centrais são dois rapazes do mundo rural que, recebendo um uniforme e uma arma, partem para aquilo que, ilusoriamente, lhes surge como uma aventura empolgante, porventura redentora…

Filmado num austero preto e branco, tirando o máximo partido de cenários naturais, num tom de “quase” reportagem, este é, de facto, um admirável poema pacifista. Ficou como um momento exemplar da Nova Vaga francesa, tendo estreado no mesmo ano em que Godard também dirigiu “O Desprezo”.

Aliás, a simples evocação destes dois títulos é reveladora da agilidade — de produção e concepção — que sempre distinguiu o universo “godardiano”. Assim, “O Desprezo” pertence à linha da frente da grande indústria, adaptando o romance homónimo de Alberto Moravia e tendo como cabeça de cartaz aquela que era, na altura, a grande vedeta do cinema francês e, em boa verdade, uma estrela mundial: Brigitte Bardot.

Por sua vez, “Os Carabineiros” faz-se com um elenco de quase desconhecidos, a começar pelos dois protagonistas — Patrice Moullet e Marino Masé —, ainda que contando com um dos mais notáveis colaboradores da filmografia de Godard, sobretudo ao longo da década de 60. A saber: esse genial director de fotografia que foi Raoul Coutard.

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