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Inteligência Artificial analisa nova "árvore genealógica das plantas", qual o objetivo?

Ao cruzar as sequências genéticas com propriedades medicinais conhecidas, a IA pode prever que plantas inexploradas têm potencial para novos tratamentos.

Elisa Macedo

Ana Isabel Pinto

Uma equipa internacional de cientistas está a aproveitar o poder da Inteligência Artificial (IA) para prever potenciais propriedades medicinais, através da análise de uma nova “árvore genealógica das plantas com flores” de todo o mundo. Além de explorar o potencial para o desenvolvimento de novos tratamentos, os dados recolhidos ajudarão também a identificar novas espécies.

O projeto foi liderada por uma equipa de investigadores do Jardim Botânico de Kew, a sudoeste de Londres, e sequenciou pela primeira vez o ADN de mais de 9.500 plantas com flores, incluindo 800 espécies que até agora não tinham sido estudadas.

“É essencialmente como uma ‘árvore genealógica’, mas para as plantas”, disse à agência Reuters Melanie-Jayne Howes, líder da equipa britânica.

“É um estudo enorme que sequenciou o ADN de milhares de espécies de plantas para entender como se relacionam entre si”, explicou a investigadora.

O conjunto de dados utilizou 1,8 mil milhões de letras de código genético para desenvolver um mapa abrangente da história evolutiva destas plantas e espera-se que ajude substancialmente na descoberta de compostos medicinais.

Ao cruzar as sequências genéticas com propriedades medicinais conhecidas, a IA pode prever que espécies de plantas inexploradas podem ter potencial para novos tratamentos.

“Esta é uma tarefa gigantesca”, sublinhou Howes.

“O projeto que estou a liderar em Kew visa enfrentar esse desafio e desenvolver uma abordagem de inteligência artificial para prever quais as espécies de plantas que teriam maior probabilidade de conter compostos líderes para a descoberta de medicamentos”, acrescentou.

O estudo, publicado em abril na revista Nature, também usa novas técnicas da genética para sequenciar ADN de uma ampla variedade de materiais vegetais, incluindo espécies centenárias e extintas.

Além da descoberta medicinal, os dados ajudarão na identificação de novas espécies, no aprofundar do conhecimento sobre a classificação das plantas e, assim, apoiar os esforços de conservação.

A investigação fornece ainda novas perspetivas sobre o mistério de Charles Darwin sobre a rápida diversificação das plantas com flores, que aconteceu há mais de 140 milhões de anos.

A equipa tornou todos os dados acessíveis ao público e à comunidade científica, sublinhando o potencial para descobertas contínuas à medida que a compreensão da "árvore genealógica das plantas" se expande.

"Ao compreender com precisão, a partir deste conjunto de dados, como as plantas estão relacionadas, isto pode permitir-nos compreender como as plantas podem ter evoluído e como podem ter características ou propriedades semelhantes que lhes permitiram, por exemplo, sobreviver no seu próprio ambiente, mas também, mais uma vez, para nos ajudar a identificar quais as características que são comuns a espécies intimamente relacionadas para nos ajudar a encontrar potenciais soluções para muitos desafios que temos.

Tais como a segurança alimentar, a descoberta de medicamentos, as alterações climáticas, a conservação, por isso é uma compreensão absolutamente relevante para o conhecimento da ‘arvore genealógica das plantas’", resume a investigadora Melanie-Jayne Howes, em entrevista à agência Reuters.

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