Várias espécies de baleias empregam diferentes tipos de vocalizações para comunicarem entre si. Os cachalotes, a maior das baleias com dentes, comunicam através de uma sequência de pequenos estalidos, uma espécie de cliques que fazem lembrar o código de Morse. Nos últimos anos, este código tem sido estudado por investigadores que descobriram o sistema de comunicação dos cachalotes é mais sofisticado do que se julgava.
Uma análise dos registos de vários anos de vocalizações de cachalotes no Leste das Caraíbas descobriu que o código de comunicação destes animais exibe uma estrutura interna complexa que os cientistas designaram por “alfabeto fonético”.
Os investigadores identificaram semelhanças com aspetos de outros sistemas de comunicação animal e até mesmo da linguagem humana. Como todos os mamíferos marinhos, os cachalotes são animais muito sociais, como demonstram os sons que usam para comunicar entre si.
O novo estudo, publicado a 7 de maio na revista Nature Communications, proporcionou uma compreensão mais completa do sistema que estas baleias usam para comunicar.
"Os cachalotes comunicam entre si usando breves sequências de cliques, um som chamado codas, que soa um pouco como o código Morse. A nossa pesquisa mostra que essas codas têm uma estrutura interna complexa, com semelhanças em alguns aspetos a outros sistemas de comunicação animal, e até mesmo alguns aspetos da linguagem humana", explica à agência Reuters Jacob Andreas, professor de ciência da computação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e membro do Projeto CETI.
O Cetacean Translation Initiative (CETI, da sigla em inglês) visa investigar se a Inteligência Artificial (IA) e demais tecnologias computacionais avançadas são capazes de decodificar o "canto" das baleias.
"As baleias não produzem sequências arbitrárias de cliques. Em vez disso, pretendem produzi-los num conjunto relativamente limitado de padrões fixos. E a nossa investigação dá passos no sentido de explicar como estes padrões realmente surgem", acrescenta.
Os investigadores descobriram que variações no número, ritmo e frequência dos cliques produziram diferentes tipos de codas. Entre outras coisas, as baleias alteraram a duração das codas e às vezes acrescentaram um clique extra no final, como um sufixo na linguagem humana.
"Estamos apenas no início deste processo, penso que há muito para investigar que temos de aprofundar para percebermos se é uma boa ideia tentar comunicar com eles ou mesmo ter uma noção se isso será possível. Ao mesmo tempo, estou otimista de que seremos capazes de aprender muito mais sobre que informação está realmente codificada nestas vocalizações que estamos a ouvir, que tipo de informação está contida nestes cliques, nessas codas, à medida que começamos a entender o contexto comportamental em que isso ocorre", sublinha Jacob Andreas.
Os cachalotes, que podem atingir cerca de 18 metros de comprimento, têm um cérebro maior do que qualquer animal. São mergulhadores de águas profundas e alimentam-se de lulas gigantes e outras presas.
Os cientistas que realizaram este estudo integram o Projeto CETI e examinaram, com recurso a análise estatística tradicional e IA, "cantos" feitos por cerca de 60 baleias registados pelo Projeto Cachalote da ilha Dominica, nas Caraíbas, um programa de pesquisa que reuniu um grande conjunto de dados sobre a espécie.