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Comeria um filete de garoupa em 3D? Cientistas prometem que é igual à verdadeira

Uma empresa de Israel e outra de Singapura uniram-se para criar filetes de garoupa sintética, o primeiro peixe pronto a cozinhar usando células estaminais cultivadas em laboratório.

Um prato confecionado com garoupa impressa em 3D
AMIR COHEN/REUTERS

Catarina Solano de Almeida

Ana Isabel Pinto

Esqueça o anzol e a linha para obter um peixe. Uma empresa israelita de tecnologia de alimentos imprimiu em 3D o primeiro filete de peixe pronto a cozinhar usando células animais cultivadas em laboratório.

Depois da carne de laboratório como uma forma de contornar o impacto ambiental e fazer frente às preocupações com o bem-estar animal, é agora a vez dos produtos do mar.

A Steakholder Foods de Israel fez uma parceria com a Umami Meats, com sede em Singapura, para fazer filetes de peixe sem a necessidade de pescar.

A Umami Meats extrai células estaminais - por enquanto de garoupa - e transforma-as em músculo e gordura. A Steakholder Foods adiciona uma “bio-tinta” adequada para impressoras 3D especiais. O resultado: um filete que imita as características do peixe pescado no mar, garantem.

As empresas esperam lançar os seus primeiros produtos no mercado no próximo ano, começando em Singapura e depois, dependendo da regulamentação, em países como Estados Unidos e Japão.

O cultivo de células em laboratório ainda é muito caro para igualar o custo dos produtos recolhidos do mar por isso, por enquanto, as células de peixe são diluídas com ingredientes à base de plantas na bio-tinta.

"Com o passar do tempo, a complexidade e o nível desses produtos serão maiores, e os preços associados à sua produção diminuirão", disse Arik Kaufman, presidente-executivo da SteakholderFoods.

Impressão a três dimensões com células estaminais

Um prato de vidro desliza para a frente e para trás na impressora 3D, a cada passagem vai sendo criada uma camada do filete branco que acabará com o comprimento de um dedo.

Desfaz-se em lascas como o peixe tradicional e, quando frito e temperado, é difícil notar a diferença, afirma quem provou.

O processo é mais simples do que com carne bovina, mas há algumas desvantagens.

Células estaminais de vaca foram estudadas extensivamente, mas sabe-se muito menos sobre peixes, explicou o responsável da Umami, Mihir Pershad.

“Temos que descobrir o que as células gostam de comer, como elas gostam de crescer, e não há muita literatura científica ainda. O número de cientistas a trabalhar em biologia de células estaminais de peixe é uma pequena fração daqueles que trabalham em células animais e células humanas”.

Para já, descobriram um processo para a garoupa e para a enguia e esperam acrescentar outras três espécies ameaçadas de extinção nos próximos meses.

A meta é alcançar o mesmo preço do peixe do mar.

“Queremos que os consumidores escolham com base no sabor e no que podem fazer pelo mundo e pelo ambiente. E queremos levar em consideração o custo”.

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