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Amnistia Internacional denuncia escalada de execuções na Arábia Saudita

Atualmente, estão em risco de execução sete jovens, alguns com apenas doze anos na altura dos crimes, dos quais quatro foram recentemente julgados de novo e mais uma vez condenados à morte.

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Lusa

A Amnistia Internacional denunciou, esta segunda-feira, a escalada alarmante de execuções na Arábia Saudita, nos últimos anos, incluindo de cidadãos estrangeiros e de menores condenados por crimes relacionados com drogas.

De acordo com o novo relatório anual da organização não governamental que defende os direitos humanos, divulgado esta segunda-feira, entre janeiro de 2014 e junho deste ano, a Arábia Saudita executou 1.816 pessoas, segundo a agência de notícias oficial.

Atualmente, estão em risco de execução sete jovens, alguns com apenas doze anos na altura dos crimes, dos quais quatro foram recentemente julgados de novo e mais uma vez condenados à morte.

Das mais de 1.800 pessoas executadas, quase uma em cada três foi condenada à pena de morte por crimes relacionados com drogas.

"O uso implacável e cruel da pena de morte pela Arábia Saudita após julgamentos grosseiramente injustos, não só demonstra um desprezo assustador pela vida humana, como a sua aplicação por crimes relacionados com drogas é também uma violação flagrante do direito internacional", afirmou, em comunicado, a diretora regional adjunta da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África, Kristine Beckerle.

Das 597 pessoas executadas por crimes relacionados com drogas durante aquele período de dez anos, os cidadãos estrangeiros representaram quase 75% das execuções.

Em 2024, a Arábia Saudita realizou um número 'recorde' de 345 execuções, das quais cerca de 35%, ou 122 pessoas, por crimes relacionados com drogas, o total anual mais elevado desde que a Amnistia começou a registar execuções na Arábia Saudita em 1990.

A Arábia Saudita foi um dos únicos quatro países em todo o mundo onde foram registadas execuções por crimes relacionados com drogas, em 2024.

Entre janeiro e junho deste ano, já foram executadas 180 pessoas.

Só no mês de junho, a Arábia Saudita executou 46 pessoas, incluindo 37 por crimes relacionados com drogas, o que representa uma média de mais de uma execução por dia relacionada com este tipo de crimes.

Destas, 34 eram estrangeiros do Egito, Etiópia, Jordânia, Nigéria, Paquistão, Somália e Síria.

"Tendência verdadeiramente horrível"

"Estamos a assistir a uma tendência verdadeiramente horrível, com cidadãos estrangeiros a serem condenados à morte a um ritmo alarmante por crimes que nunca deveriam ser punidos com a pena de morte", salientou Kristine Beckerle.

As nacionalidades particularmente afetadas na última década incluem paquistaneses (155 executados), sírios (66), jordanos (50), iemenitas (39), egípcios (33), nigerianos (32), somalis (22) e etíopes (13), entre outros.

A Amnistia documentou 25 casos de cidadãos estrangeiros do Egito, Etiópia, Jordânia, Paquistão e Somália condenados por crimes relacionados com drogas que se encontram atualmente no corredor da morte ou foram executados na Arábia Saudita.

O relatório apontou falhas sistémicas na garantia do direito a um julgamento justo, incluindo a falta de acesso a um representante legal, apoio consular inadequado e ausência de acesso a interpretação eficaz.

Tortura e outros maus-tratos durante a prisão preventiva

Há ainda relatos de tortura ou outros maus-tratos durante a prisão preventiva para obter confissões.

"Em todos os casos documentados pela Amnistia Internacional, as autoridades sauditas retiveram os corpos dos executados, negando às famílias o direito de chorar a sua morte e de lhes dar sepultura de acordo com as suas práticas religiosas, uma prática condenada pelos organismos da ONU como uma forma de maus-tratos", refere o documento.

Além dos crimes relacionados com drogas, o relatório indica um recurso alarmante à pena de morte por crimes relacionados com "terrorismo", contra a minoria xiita da Arábia Saudita, responsável por cerca de 42% das execuções por este motivo entre janeiro de 2014 e junho de 2025.

"Os aliados da Arábia Saudita na comunidade internacional devem exercer pressão urgente sobre as autoridades para que suspendam a onda de execuções e cumpram as obrigações internacionais em matéria de direitos humanos", concluiu a organização.
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