Mundo

Telescópio espacial Euclid desvenda a primeira parte do mapa cósmico

As primeiras imagens captadas pelo telescópio espacial europeu Euclid que farão parte do mapa do Universo tridimensional, o início de uma missão de seis anos que visa investigar os mistérios da matéria e energia escuras, entidades que compõem 95% do Universo.

Catarina Solano de Almeida

O telescópio espacial europeu Euclid, o detetive que vai investigar o “lado escuro” do Universo, revelou a 15 de outubro a primeira secção do vasto mapa do Universo que irá criar, com milhões de estrelas e galáxias. No entanto, segundo a ESA, representa apenas 1% da área que Euclid irá pesquisar.

Este primeiro fragmento do mapa cósmico, um mosaico de 208 gigapixéis composto a partir de 260 observações realizadas entre 25 de março e 8 de abril de 2024, já contém cerca de 14 milhões de galáxias e dezenas de milhões de estrelas na nossa Via Láctea. “Em apenas duas semanas, Euclid cobriu 132 graus quadrados do Céu Austral com uma precisão extraordinária, mais de 500 vezes a área da Lua cheia”, explica a ESA.

No entanto, reflete uma ínfima parte da abrangente pesquisa que o Euclid fará nos próximos seis anos.

“Esta imagem impressionante é a primeira parte de um mapa que em seis anos revelará mais de um terço do céu. Isto representa apenas 1% do mapa e, no entanto, está repleto de uma variedade de fontes que ajudarão os cientistas a descobrir novas formas de descrever o Universo,” afirma Valeria Pettorino, cientista do Projeto Euclid na ESA.

Uma viagem no tempo de 10 mil milhões de anos

Euclid tem como objetivo investigar como a matéria escura e a energia escura influenciam a formação e evolução do Universo como o conhecemos.De acordo com os cientistas, 95% do cosmos é constituído por estas misteriosas entidades, cuja natureza é ainda desconhecida. A sua presença só pode ser inferida através de pequenas alterações nos movimentos e na aparência de objetos visíveis.

Para revelar a influência “obscura” no Universo visível, durante os próximos seis anos, Euclid vai analisar as formas, distâncias e movimentos de milhares de milhões de galáxias até 10 mil milhões de anos-luz. O objetivo é criar o maior mapa cósmico tridimensional jamais feito, permitindo aos astrónomos estudar a evolução do Universo ao longo de milénios.

Matéria escura e energia escura

A matéria escura e a energia escura compõem 95% do Universo, mas a sua natureza permanece um grande mistério para os cientistas. Enquanto a matéria escura garante a coesão das galáxias, mantém as galáxias unidas, a energia escura é a força motriz por detrás da expansão acelerada do Universo.

“A matéria escura faz com que as galáxias se mantenham coesas e girem mais rapidamente do que a matéria visível pode justificar; por outro lado, a energia escura está a impulsionar a expansão acelerada do Universo. O Euclid vai permitir, pela primeira vez, que os cosmólogos estudem ambos os fenómenos em conjunto,” segundo a diretora de Ciência da ESA, Carole Mundell.

Graças ao mapa 3D que irá criar, será possível realizar medições detalhadas sobre a distribuição das galáxias e a expansão do Universo, que terá começado há seis mil milhões de anos.

As galáxias observadas pelo Euclid permitem-nos recuar até 10 mil milhões de anos no tempo – o tempo necessário para que a sua luz nos alcance.

A esperança dos astrónomos é que Euclid seja capaz de detetar os vestígios deixados pela matéria escura e pela energia escura à medida que as galáxias se formam.

“Euclid vai permitir um avanço na nossa compreensão do cosmos como um todo e estas imagens mostram que a missão está pronta para ajudar a responder a um dos maiores mistérios da física moderna", de acordo com Carole Mundell.

Uma viagem de 1,5 milhões de quilómetros

O Euclid descolou da Florida a 1 de julho de 2023 a bordo do foguetão Falcon 9, da empresa aeroespacial norte-americana SpaceX. Após uma viagem de quatro semanas, o telescópio europeu, com a participação da NASA, chegou ao seu destino a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra, para um ponto estável do sistema Terra-Sol, designado Ponto de Lagrange 2 (L2).

O Euclid tem dois instrumentos a bordo: um gerador de imagens de luz visível (VIS),para captar a forma exata das galáxias, e um espetrómetro de infravermelho próximo (NISP) para determinar as suas distâncias.

O telescópio europeu revelou as primeiras imagens de teste a 1 de agosto, para verificar o funcionamento dos instrumentos científicos e para calibrá-los.

Em novembro desse ano revelou as suas primeiras imagens a cores do cosmos.

Portugal participa na missão

Portugal participa no projeto desde 2012, faz parte de um consórcio que foi criado para desenvolver, construir e explorar o telescópio. O consórcio Euclid é constituído por mais de 2.000 cientistas de 300 institutos em 13 países europeus, EUA, Canadá e Japão

Cientistas, engenheiros e empresas portuguesas estão envolvidos em diversas áreas, desde o controlo das operações de voo até ao fabrico de componentes do telescópio e ao planeamento das observações.

Últimas