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João Gomes Cravinho: “Kamala pode ser adversária mais difícil para Trump do que Biden”

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho, considera que a desistência de Biden foi a decisão certa para os Estados Unidos da América (EUA), e, por acréscimo, para a Europa. Na SIC Notícias, o ex-governante defendeu que Kamala Harris pode ser uma adversária mais difícil para Donald Trump do que Joe Biden.

SIC Notícias

Na opinião de João Gomes Cravinho, o surgimento de uma nova candidata democrata altera a narrativas das presidenciais norte-americanas, que deixa de ser “exclusivamente sobre a idade de Biden” e torna-se “muito mais competitiva”.

Para o ex-ministro, teria sido melhor se esta desistência tivesse ocorrido logo a seguir àquele que classifica como um “desastroso” debate entre Biden e Trump, mas, concede, “antes agora do que não ser”.

Saiu com dignidade, por ter sido ele a tomar a decisão este fim de semana. Se tivesse procurado ficar mais alguns dias, a dignidade saía mais ferida”, aponta João Gomes Cravinho, referindo o “legado notável” de Biden e a forma como esta saída permite alguma “beatificação a posteriori".

“Atentado contra Trump já é Pré-História”

O antigo governante refere como aquela que parecia ser a “imagem da campanha” - o atentado contra Trump – é agora “Pré-História” e toda a a conversa gira já em torno de Kamala Harris.

João Gomes Cravinho diz acreditar que Kamala Harris pode mesmo até ser uma adversária mais difícil para Trump do que Biden seria.

“Vai conseguir, se jogar bem as suas cartas – o que significa defender o legado de Biden, mas oferecer uma visão de futuro para o eleitorado (...) – estar numa posição forte”, defende.

A importância do candidato a “vice”

No entanto, para que a candidatura de Kamala Harris tenha hipóteses de ser vencedora, a escolha do candidato a vice-presidente “é fundamental”.

“Tem de ser uma pessoa que traz mais-valia eleitoral", alerta João Gomes Cravinho. Mais-valia, por exemplo, por pertencer a um “swing state” (como Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, ou Roy Cooper, governador da Carolina do Norte), ou uma personalidade totalmente nova (como Peter Buttigieg, atual secretário dos Transportes, que é um grande comunicador, com capacidade de mobilização, apesar de ser homossexual, o que, nos EUA, admite o ex-ministro, pode ser controverso).

Que futuro para a relação com a Europa?

Em relação às implicações internacionais desta eleição, Gomes Cravinho afirma que Donald Trump “não tem uma visão geoestratégica, tem uma visão comercial do mundo”. Por isso, a ameaça que tem feito de cortar o apoio à Ucrânia pode de facto concretizar-se (e passar para uma lógica de vender armas aos europeus para darem armas aos ucranianos, por exemplo).

“A europa não pode estar à espera do que pode acontecer ou não nos EUA em novembro. O futuro tem de passar por autonomia estratégica da Europa, ganhe Donald Trump ou Kamala Harris”, afirma João Gomes Cravinho.

Para o antigo chefe da diplomacia portuguesa, o ritmo a que esse trabalho de autonomização está a ser feito é “demasiado lento”. “Uma vitória de Trump pode ser um grande acelerador”, atira.

João Gomes Cravinho lembra que a experiência prévia de contacto entre a Europa e os EUA liderados por Trump foi “extremamente penosa”, sendo que é preciso tirar “lições do passado”.

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