A 6 de junho de 1944, soldados dos Estados Unidos, do Reino Unido, do Canadá e de outras nações aliadas desembarcaram na Normandia. As cerimónias para comemorar os sacrifícios feitos pela geração de tropas aliadas que lutaram no Dia D, há 80 anos, na Segunda Guerra Mundial, começaram no domingo. Esta quarta-feira, representantes de vários países chegaram a França. A este pretexto, Daniel Pinéu, comentador da SIC, diz que é difícil traçar paralelismos entre a Europa atual e a que existia antes do início da Segunda Guerra Mundial, mas que "temos de entender que estão a ser feitos por razões políticas e eleitorais hoje, também para lidar com alguma fraqueza ocidental”.
"As celebrações do dia D têm sido sempre objeto, sobretudo durante a Guerra Fria, objeto de intenso debate ideológico é uma tentativa de encarar a história de uma determinada maneira, nomeadamente de como as democracias se juntam para lidar com autocracias.
Se olharmos historicamente, aconteceram várias coisas interessantes no Dia D. A primeira é que não havia nenhuma Aliança Atlântica e, na verdade, quem derrotou a Alemanha nazi foi uma aliança entre os países ocidentais que hoje estão contra a Rússia e a China, com a Rússia e com a China. Na verdade, o país que permitiu que houvesse um sucesso da entrada americana na guerra foi a Rússia, que teve cerca de 80% das baixas de batalha durante a Segunda Guerra Mundial", começa por referir.
Daniel Pinéu destaca depois que interessa agora “reformular as lições que foram tiradas disso como uma ideia de unidade ocidental, que era coisa que na altura não era assim tão clara e, sobretudo, de uma confrontação global entre democracias e não democracias entre países mais livres e menos livres (…) na face de desacordos importantes no seio, não só da União Europeia, mas no seio da própria NATO".
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, o Presidente dos EUA Joe Biden e a realeza britânica estão entre as personalidades convidadas para as comemorações. O Presidente russo, Vladimir Putin, ficou de fora da lista de convidados para as comemorações do Dia D.
Joe Biden vai encontrar-se com o homólogo da Ucrânia à margem das comemorações do desembarque na Normandia e depois na Cimeira do G7, em Itália, anunciou a Casa Branca. O anúncio foi feito na terça-feira, pouco depois do Presidente dos EUA ter partido para França.
Biden está “a tentar preparar o terreno para talvez perder a eleição para Trump e perceber que Trump vai pôr em causa a identidade e a existência da NATO, mas repare-se que o próprio Joe Biden, enquanto está a dizer isso aos seus aliados (…) ao mesmo tempo está a dizer à NATO, em 2003, que a Ucrânia se juntaria à NATO um hora e 20 minutos depois do fim da guerra”.
“Há uma semana, numa entrevista à revista Time voltou atrás e veio dizer que a paz quer dizer que a Rússia não é capaz de ocupar toda a Ucrânia, mas que não quer dizer a entrada da Ucrânia na NATO e que ele não apoia a transformação da Ucrânia num país NATO”, explica Daniel Pinéu.
Em conclusão, o comentador da SIC realça que estamos a assistir a uma mudança de posições “que está a levar a algumas dissensões no seio da NATO sobre como lidar com a Rússia e como lidar com a crise ucraniana e tentando projetar uma ideia de unidade, olhando para a História como uma lição disso, quando na verdade a História, é uma lição de outro tipo de alianças. Portanto, é muito difícil fazermos estes paralelos, mas temos de entender que estes estão a ser feitos por razões políticas e eleitorais hoje, também para lidar com alguma fraqueza ocidental”.