A Transnístria é uma região separatista pró-Rússia da Moldávia, na fronteira com a Ucrânia, onde as tensões têm sido elevadas desde o início da ofensiva de Moscovo contra Kiev, em fevereiro de 2022.
Situada entre a Moldávia e a Ucrânia, a Transnístria é uma região marcada por questões políticas, económicas e e tensões étnicas. Com uma economia assente em indústrias mas um historial de vários negócios ilícitos, a Transnístria procura obter reconhecimento internacional como um Estado independente, separado da Moldávia.
O receio de uma nova frente de guerra
Desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, surgem regularmente especulações sobre a abertura de uma nova frente da Transnístria em direcção ao grande porto ucraniano de Odessa, no Mar Negro.
Em setembro de 2023, foram encontrados pedaços de um míssil nesta região separatista, a oeste da região de Odessa, alvo de ataques russos.
Moscovo é também acusado de tentar destabilizar a Moldávia, anteriormente na sua zona de influência, mas agora liderada por autoridades pró-europeias.
A UE concedeu à Moldávia o estatuto de candidato à entrada na União em junho de 2022, ao mesmo tempo que a Ucrânia.
Por seu lado, as autoridades pró-russas da Transnístria acusam Kiev de querer atacar o território que administram depois de, segundo elas, terem frustrado um ataque em março de 2023 contra os líderes deste autoproclamado Estado, que atribuem à Ucrânia.
Uma breve guerra de secessão
Com apenas 200 quilómetros de comprimento e pouco mais de 20 km de largura, com oficialmente 465.000 habitantes, a Transnístria está localizada entre o rio Dniester e a fronteira com a Ucrânia.
A história da Transnístria remonta ao período da União Soviética, altura em que fazia parte da República Socialista Soviética da Moldávia, que se tornou independente com o colapso da União Soviética em 1991.
Maioritariamente de língua russa, a Transnístria proclamou unilateralmente a sua independência em 1990, desencadeando um conflito armado entre as forças separatistas da Transnístria e o governo moldavo.
O conflito durou até julho de 1992, quando foi alcançado um cessar-fogo, mas deixou um legado de tensões étnicas e políticas na região, várias centenas de mortos e a intervenção do exército russo.
Uma região no limbo político
Desde então, a Transnístria considera-se uma entidade independente, mas não é reconhecida como tal pela comunidade internacional, sendo considerada legalmente como parte da Moldávia. No entanto, a região possui as suas próprias instituições governamentais, forças de segurança e moeda, mantendo laços estreitos com a Rússia.
O estatuto político da Transnístria continua a ser uma questão não resolvida e um ponto de conflito entre a Moldávia e a Rússia. Têm sido realizadas várias negociações para resolver a situação, mas até agora não houve uma solução definitiva para a região.
Moscovo mantém no território cerca de 1.500 soldados.
Maioria pró-russa
O primeiro “Presidente” da Transnístria, de dezembro de 1991 a dezembro de 2011, foi Igor Smirnov. O atual líder é Vadim Krasnosselski, também pró-russo.
Ao contrário da Moldávia, manteve o alfabeto cirílico, tem a sua própria moeda e as suas próprias forças de segurança.
Num referendo realizado em setembro de 2006, cujo resultado não é reconhecido internacionalmente, esta região votou 97,1% a favor da sua ligação ao território russo.
Futebol, caviar e negócios duvidosos
A Transnístria está fortemente dependente economicamente da Rússia, que lhe fornece gás gratuito.
A sua economia baseia-se na indústria pesada, como a produção de aço, maquinaria pesada, produtos químicos, entre outros. Mas também em atividades ilícitas variadas, desde contrabando a tráfico de armas e drogas, especialmente a partir do vizinho porto ucraniano de Odessa, mas o nível de vida da população é muito baixo.
O grupo Sheriff, fundado no início da década de 1990 por dois antigos agentes da polícia soviética e regularmente acusado de corrupção, goza de um quase monopólio económico e político na Transnístria.
É dono de supermercados, postos de gasolina e até de um clube de futebol, o FC Sheriff, que, para surpresa de todos, se destacou pela estreia na Liga dos Campeões, em 2021-2022.
Sheriff também é dono da famosa destilaria de conhaque Kvint e de uma quinta de esturjão beluga que fornece um valioso caviar.
O grupo de investigação RISE Moldova afirma que um terço do orçamento do território acaba nos cofres deste grupo.
Imagética soviética
Apesar do seu capitalismo desenfreado, a Transnístria continua a ser um museu ao ar livre da era soviética.
No centro da principal cidade, Tiraspol, ergue-se uma estátua de Lenine e um busto do pai da revolução bolchevique de 1917 permanece em frente ao edifício da Câmara Municipal que manteve o seu nome original: a Casa dos Sovietes.
A bandeira da Transnístria permanece estampada com os símbolos comunistas mais conhecidos: a foice e o martelo, bem como uma estrela vermelha.
Com agências, Infopédia e Enciclopédia Britânica