Um incêndio que atingiu dois prédios de apartamentos na cidade espanhola de Valência, que matou pelo menos 10 pessoas, levantou preocupações sobre os padrões de segurança contra incêndio e materiais de revestimento. O incidente já foi comparado com o caso da Torre de Grenfell em Londres que ardeu em 2017. Saiba tudo o que aconteceu e os danos que causou.
O início duvidoso
As autoridades ainda estão a investigar o que causou o incêndio e onde é que originou, mas de acordo com uma sequência de vídeos publicados no X, a varanda do canto esquerdo do nono andar da mais alta das duas torres estava em chamas às 17:37 na quinta-feira.
O incêndio espalhou-se rapidamente para a varanda no andar de baixo, aproximadamente em dois minutos.
Nos 11 minutos seguintes, quase todo o lado esquerdo do edifício e o topo da parte central estavam em chamas.
Às 18:22, o fogo já tinha chegado à torre menor adjacente.
A grande propagação
Segundo a Reuters, existem especialistas que dizem que, com base nos vídeos disponíveis, uma combinação de ventos fortes, coberturas de lona para varandas e materiais compósitos de revestimento da fachada provavelmente ajudaram a atiçar o fogo.
Ivan Cabrera, diretor da Escola de Arquitetura da Universidade de Valência, disse à TVE que, assim como o incêndio da Torre Grenfell provocou mudanças na legislação britânica de segurança contra incêndios e levou à renovação de revestimentos em muitas propriedades, o mesmo deveria acontecer na Espanha.
O incêndio no oeste de Londres começou após uma falha elétrica, mas o elevado número de mortes de 71 pessoas foi em grande parte atribuído ao uso de revestimento externo altamente inflamável.
Quantas pessoas morreram?
As autoridades espanholas disseram que 10 pessoas foram confirmadas como mortas após a primeira inspeção dentro dos edifícios de em Valência. Um tribunal local já abriu uma investigação.
Segundo o presidente da Câmara de Valência, já foram todos contabilizados.
Um total de 105 pessoas que perderam as suas casas foram transferidas para hotéis nas redondezas. Mais de uma dúzia de pessoas, incluindo bombeiros, ficaram feridas no incêndio.
Os edifícios modernos
Os edifícios ficavam numa nova área residencial de Valência que foi desenvolvida nas últimas duas décadas.
Os blocos atingidos eram dois edifícios de 14 e 10 andares, ligados por um elevador panorâmico e com piscina aberta no pátio. Era composto por um total de 138 apartamentos.
Os dois andares inferiores eram instalações comerciais e os apartamentos do último andar tinham grandes terraços.
O promotor, FBEX, ergueu o edifício em 2008, quando o boom imobiliário espanhol da década de 2000 estava prestes a ruir.
A FBEX entrou em falência em 2010 e os bancos credores venderam a maior parte dos apartamentos, segundo o jornal El Pais.
Os materiais duvidosos
A Câmara Municipal de Valência não respondeu ao pedido da Reuters para comentar os materiais utilizados no edifício, enquanto o Conselho de Arquitetos da cidade disse que só manteve registos técnicos dos edifícios durante 10 anos.
Esther Punchades, da agência de inspeção de seguros APCAS, que já avaliou o edifício, disse à emissora estatal TVE que a falta de firewalls e o uso de poliuretano sob uma camada de revestimento de alumínio permitiram que o fogo se espalhasse.
O material plástico, segundo o que disse a inspetora à Reuters, tende a derreter e pegar fogo quando em contacto com chamas abertas, caindo nos andares inferiores em grandes bolas de fogo, ao mesmo tempo que propaga as chamas para cima.
No entanto, a Associação Espanhola da Indústria de Poliuretano Rígido afirmou num comunicado que não havia provas de que o revestimento compósito continha poliuretano.