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Jornalista russa que já foi envenenada faz revelações: "Tinham ordens para me matar"

Elena Kostyuchenko muda-se de país todos meses, como quem vive com o medo de ser a próxima vítima. Já teve seis colegas de trabalho assassinados e ela própria já foi envenenada. Em entrevista à TV Globo, a jornalista comenta ainda o caso Navalny.

Alexander Zemlianichenko/AP

Daniel Pascoal

A lista de óbitos ou desaparecimentos de opositores de Putin é longa e na última sexta-feira ganhou mais um nome: Alexai Navalny, o principal desafeto do Presidente russo, morreu na prisão. O medo é uma constante para quem ousa levantar a voz. Quem o diz é Elena Kostyuchenko, uma jornalista que, por precaução, muda de país todos os meses.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, a jornalista russa contou como é trabalhar no jornal independente Novaia Gazeta, que está na mira do Kremlin. Elena já teve seis colegas assassinados. E sabe que o seu nome também está na “lista negra".

"Eu estava a ir para Mariupol, quando o meu editor [Dimitry Muratov, vencedor do Nobel da Paz de 2021] ligou-me a dizer para não ir, porque recebeu a informação de que os soldados da Guarda Nacional Russa, que cercavam a cidade, tinham ordens não para me deter, mas para me matar".

Houve uma tentativa. Quando estava exilada na Alemanha, a jornalista adoeceu abruptamente durante uma viagem de comboio, a caminho da capital Berlim. Elena fora envenenada.

Poucos sabem qual é o paradeiro de Elena, que garante estar fora da Rússia, mas não revela onde vive atualmente: “Não tenho residência fixa, por questões de segurança”.

Ainda assim, questionada se pretende regressar à casa no futuro, garante acreditar em dias melhores.

“Com certeza. Essa luta dá-me forças para continuar. Mantenho a esperança”.

"Navalny foi assasinado”

Navalny morreu na prisão, onde cumpria uma pena de perto de 20 anos por atividades alegadamente extremistas. A causa de morte ainda não é conhecida, mas vários líderes mundiais apontam para o regime de Putin como culpado. Elena Kostyuchenko diz ter a certeza de que o opositor russo foi assassinado.

“Um colega falou com um dos prisioneiros e ele disse-lhe que os preparativos para a ”morte súbita" começaram na noite anterior. Foi assassinato. Não sei como o podemos provar, se não entregarem o corpo".

Esta segunda-feira, a viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, falou sobre o mesmo tema, acusando as autoridades russas de esconderem o corpo para que uma autópsia do corpo não consiga identificar sinais de envenenamento.

Prigozhin morreu há seis meses

Não faz assim tanto tempo que o mundo recebeu a notícia avassaladora sobre a morte de Yevgeny Prigozhin. O líder do Grupo Wagner estava num jato privado que despenhou-se a norte de Moscovo, em agosto de 2023.

O óbito aconteceu dois meses depois de Prigozhin protagonizar uma tentativa de rebelião na Rússia. Nessa altura, Putin considerou o antigo aliado um “traidor”.

Nunca houve conclusões definitivas sobre a morte, mas investigações jornalísticas, como a do Wall Street Jounal, mostram que tudo foi planeado pelo diretor do Conselho de Segurança da Rússia, aliado de Putin e antigo espião.

Navalny é o último de uma longa lista, que envolve políticos, opositores, espiões, traidores e jornalistas. Os casos variam desde os ataques exóticos, envenenamento ao beber chá misturado com polónio ou ao contacto com um agente nervoso mortal, até aos mais mundanos, como ser atingido por um tiro à queima-roupa ou uma queda fatal por uma janela aberta.

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