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Maior icebergue do mundo à deriva à medida que se afasta da Antártida

A gigantesca massa de gelo está a ser esculpida à medida que derrete, naqueles que provavelmente serão os últimos meses da sua existência.

Catarina Solano de Almeida

O maior icebergue do mundo anda à solta, depois de ter estado preso ao fundo do oceano durante quase quatro décadas. Um fotógrafo da natureza captou as mais recentes imagens do A23a durante uma viagem no oceano Antártico a 14 de janeiro.

O enorme icebergue, com cerca de três vezes o tamanho da cidade de Nova Iorque, está a passar pelo extremo norte da Península Antártica, empurrado por fortes ventos e correntes marítimas.

O A23a separou-se da plataforma de gelo Filchner-Ronne, na Antártida Ocidental, em 1986, mas acabou por encalhar. Ali ficou até 2020, quando começou a flutuar no Mar de Weddell.

Em dezembro de 2023, impulsionado por ventos e correntes, o A23a começou a afastar-se rapidamente das águas antárticas – como mostra esta animação de imagens do Copernicus Sentinel-1, que utiliza imagens tiradas a 2 de novembro, 14 de novembro e 26 de novembro de 2023.

Muitos dos icebergues do setor Weddell terminam a viagem no Atlântico Sul, num caminho chamado beco dos icebergues. O A23a foi visto a partir do espaço em direção à ilha da Geórgia do Sul, um território britânico ultramarino.

Astronauta deteta icebergue

O astronauta da ESA Andreas Mongensen está atualmente na Estação Espacial Internacional, de onde vai captando extraordinárias imagens do nosso planeta. A 10 de janeiro de 2024 fotografou o icebergue A23a e publicou nas redes sociais:

Icebergue A23a avistado a oeste da Geórgia do Sul!

Infelizmente, está bastante nublado, por isso as fotos não são as melhores, mas mesmo assim mostram o quão gigantesco é o icebergue A23a. Na verdade, é tão grande que até parece não ser apenas um icebergue. Basta compará-lo com o tamanho das ilhas Geórgia do Sul! O icebergue, que tem aproximadamente o tamanho de Porto Rico, separou-se da Antártida em 1986, mas permaneceu quase sempre no mesmo lugar até 2020, quando começou a derivar e chegou à Geórgia do Sul em novembro de 2023.

A Geórgia do Sul tem uma grande população de pinguins e também de outras aves marinhas que visitam a área. Antes os ratos eram um grande problema para a vida selvagem local, uma vez que é uma espécie invasora levada para a ilha pelos humanos. Depois de um grande projeto de erradicação, a ilha está agora livre de ratos e a vida selvagem pode voltar a prosperar.

Expedições científicas analisam icebergue e prevêem o seu futuro

Uma equipa de cientistas britânicos do British Antarctic Survey (BAS), a bordo do RRS Sir David Attenborough, quis ir mais perto para estudar o impacto que a massa de gelo vai ter sobre o meio ambiente e recolher amostras da água à volta do A23a.

Uma enorme massa de gelo como esta tem um grande impacto sobre o meio ambiente.

Os grandes icebergues alteram a temperatura do mar e toda a envolvente e introduzem enormes volumes de água doce à medida que derretem. Isso afeta toda a vida marinha - desde os mais pequeno organismos como o planctôn até às maiores criaturas do oceano, como as baleias.

A 4 de dezembro de 2023 os cientistas revelaram as imagens que captaram deste gigante atualmente com 3.900 km2 e 400 metros de altura.

Mais recentemente, um navio da expedição Eyos expeditions chegou tão perto que tirou extraordinárias fotografias, que a BBC publicou esta semana.

A caminho do fim

O icebergue está a ser destruído pelo ar mais quente e pelas águas superficiais que encontra à medida que se afasta lentamente da Antártida.

A interação de ventos, frentes oceânicas e remoinhos determinará o seu curso nas próximas semanas, mas muitos destes gigantescos icebergues que têm a parte de cima achatada passam quase sempre pela Geórgia do Sul, um território britânico ultramarino.

No final, irá fragmentar-se, derreter até desaparecer. Mas deixa um legado à vida oceânica ao libertar nutrientes minerais que vão alimentar desde o plâncton até às grandes baleias.

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