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Quem são os Houthis, o que querem e quem os apoia?

O Iémen é palco de uma guerra civil desde 2014, quando os Houthis tomaram Sanaa e forçaram o Governo a fugir para a Arábia Saudita. O conflito tornou-se numa guerra regional que matou dezenas de milhares de civis e combatentes e criou uma crise humanitária, com milhões de pessoas vítimas da escassez de alimentos e de cuidados médicos.

Catarina Solano de Almeida

SIC Notícias

Os ataques dos Houthis contra navios no Mar Vermelho levaram as forças lideradas pelos EUA e Reino Unido a realizar ataques aéreos contra alvos no Iémen. Washington acusa o Irão de estar “profundamente envolvido” no planeamento destes ataques. Quem são os Houthis, o que querem e quem os apoia?

Uma coligação liderada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido retaliou a 12 de janeiro depois de vários ataques contra navios no Mar Vermelho pelos Houthis – um grupo rebelde apoiado pelo Irão que controla grande parte do Iémen - em “solidariedade” com os palestinianos de Gaza.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os militares dos EUA e do Reino Unido lançaram ataques com sucesso na manhã de sexta-feira contra alvos Houthi com o apoio da Austrália, Bahrein, Canadá e Holanda.

Quase duas dezenas de locais foram atacados tendo sido atingidos pelo menos 60 alvos dos Houthis, incluindo a capital, Sanaa, e Hudaydah, o reduto portuário Houthi no Mar Vermelho. Os alvos Houthi no Iémen incluem centros logísticos, sistemas de defesa aérea e depósitos de armas.

Ataques dos Houthis aos navios no Mar Vermelho

Os ataques começaram após o início da guerra Israel-Hamas, em 7 de outubro. Os Houthis declararam o seu apoio ao Hamase disseram que atacariam qualquer navio que viajasse para Israel. Não há a certeza se todos os navios atacados estavam realmente a dirigir-se para Israel.

Em novembro, apreenderam o que disseram ser um navio de carga israelita. Desde então, atacaram vários navios comerciais com drones e mísseis balísticos.


Os ataques dos Houthis no Mar Vermelho aumentaram 500% entre novembro e dezembro. A ameaça tornou-se tão grande que as principais companhias marítimas deixaram de navegar na região e os custos dos seguros aumentaram 10 vezes desde o início de dezembro. As principais empresas de navegação, incluindo a Mediterranean Shipping Company, a Maersk, a Hapag-Lloyd e a petrolífera BP, desviaram os seus navios do Mar Vermelho.

O receio é que os preços dos combustíveis subam e as cadeias de abastecimento sejam prejudicadas. Quase 15% do comércio marítimo global passa pelo Mar Vermelho, que está ligado ao Mediterrâneo pelo canal de Suez e é a rota marítima mais curta entre a Europa e a Ásia.

Quem são os rebeldes Houthis?

Os Houthis são um grupo armado de uma corrente da minoria muçulmana xiita do Iémen, o zaidismo. O nome vem do fundador do movimento, Hussein Badreddin al-Houthi.

Os Houthis (ou formalmente Ansar Allah, Ajudantes de Deus, em árabe) formaram-se como um movimento na década de 1990 para lutar contra a marginalização de que a sua comunidade zaidita afirmava ser vítima, num país predominantemente sunita e para combater o que consideravam a corrupção do então Presidente, Ali Abdullah Saleh.

Os zaiditas atingiram o seu apogeu no norte do Iémen com o estabelecimento de um “imamat”, regime político liderado por um imã, no século IX, que foi mantido até o século XX.

Apesar de serem uma minoria no Iémen, cerca de um terço da população, os Houthis impuseram regras sociais e religiosas muito rigorosas, especialmente dirigidas às mulheres. Os combatentes Houthis serão à volta de 20 mil num país que tem 3 milhões de pessoas.

O Presidente Saleh, apoiado pelos militares da Arábia Saudita, tentou eliminar os rebeldes Houthis em 2003, mas sem sucesso.

Guerra civil desde 2014

O Iémen é palco de uma guerra civil desde 2014, quando os Houthis tomaram Sanaa, a capital, e grande parte do norte do país, forçando o Governo, liderado pelo Presidente Abd Rabbo Mansour Hadi, a fugir para o sul e depois para a Arábia Saudita.

Uma coligação liderada pela Arábia Saudita, que incluía os Emirados Árabes Unidos e apoiada na altura pelos Estados Unidos, envolveu-se na guerra meses mais tarde, em 2015, na tentativa de devolver o poder ao Governo.

O conflito tornou-se entretanto numa guerra regional que matou dezenas de milhares de civis e combatentes. A guerra também criou uma das piores crises humanitárias do mundo, com milhões de pessoas vítimas da escassez de alimentos e de cuidados médicos.

No início de 2022, a guerra tinha causado cerca de 377 mil mortes e obrigado à fuga de quatro milhões de pessoas, segundo a ONU.

Mais de 11.000 crianças morreram, ficaram feridas ou mutiladas no Iémen e outras 4.000 foram recrutadas para a guerra desde 2015, revelou a UNICEFem dezembro de 2022.

Os Houthis declaram-se parte do “eixo de resistência” liderado pelo Irão contra Israel, os EUA e o Ocidente em geral – juntamente com o Hamase o Hezbollah.


Quem apoia os rebeldes Houthis?

Os rebeldes Houthi inspiram-se no movimento armado xiita no Líbano, o Hezbollah. Este grupo libanês tem-lhes fornecido formação militar desde 2014, de acordo com o instituto de investigação dos EUA, o Centro de Combate ao Terrorismo.

Os Houthis também consideram o Irão um aliado, porque a Arábia Saudita é o seu inimigo comum.

O Irão é suspeito de fornecer armas aos rebeldes Houthi e os EUA afirmam que os serviços de informação iranianos são fundamentais para que consigam atacar navios.

“Sabemos que o Irão esteve profundamente envolvido no planeamento das operações contra navios comerciais no Mar Vermelho. O apoio iraniano aos houthis é sólido e traduz-se em entregas de equipamento militar sofisticado, transmissão de informações, ajuda financeira e treino", afirmou a porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, Adrienne Watson.

O Irão nega envolvimento nos ataques dos Houthis no Mar Vermelho.

Os EUA e a Arábia Saudita afirmam que o Irão forneceu os mísseis balísticos que os Houthis dispararam contra a capital saudita, Riade, em 2017, mas que foram abatidos. Nos anos seguintes os Houthis têm lançado vários mísseis contra a Arábia Saudita.

A Arábia Saudita também acusa o Irão de fornecer mísseis de cruzeiro e drones que os Houthis usaram para atacar as instalações petrolíferas sauditas em 2019.

Os Houthis dispararam dezenas de milhares de mísseis de curto alcance contra a Arábia Saudita e também atacaram alvos nos Emirados Árabes Unidos. Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas também dispararam mísseis balísticos e drones contra Israel.


Que parte do Iémen controlam os Houthis?

O Governo oficial do Iémen é o Conselho de Liderança Presidencial, para o qual o Presidente Abdrabbuh Mansour Hadi transferiu os seus poderes em abril de 2022.

No entanto, o Governo está sediado na capital saudita, Riade, onde Hadi se exilou em 2015.

A maior parte da população iemenita vive em áreas sob controlo dos Houthis, que controlam Sanaa, o norte do Iémen e a costa do Mar Vermelho. O grupo arrecada impostos e imprime dinheiro.

Segundo o Conselho de Segurança da ONU, em 2010 os Houthis tinham entre 100.000 e 120.000 seguidores, entre tropas armadas e apoiantes civis..


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