Mundo

"A pressão diplomática tem força mas não vai mudar os três objetivos de Israel"

Ana Cavalieri, especialista em Relações Internacionais, faz uma análise ao acordo de cessar-fogo, ao papel do Qatar nas negociações e a pressão diplomática dos EUA.

Ana Cavalieri

SIC Notícias

A trégua de quatro dias acordada entre Israel e o grupo islamita Hamas, que prevê a libertação de 50 reféns em troca da libertação de prisioneiros palestinianos, entrou em vigor às 7:00 (5:00 em Lisboa) desta sexta-feira. Ana Cavalieri, especialista em Relações Internacionais, faz uma análise ao cessar-fogo mediado pelo Qatar.

“À partida é do interesse de ambas as partes que este acordo de troca de reféns por prisioneiros e entrada de ajuda humanitária, vá para a frente. Mas existe a perspetiva que ambas as partes queiram pelo menos que estes quatro dias ocorra as trocas e a que estão planeadas e a entrada de ajuda humanitária para depois ver também se há um prolongamento".

Ana Cavalieri, explica que há uma diferença no cessar-fogo na parte sul, onde é um cessar-fogo completo, e na parte norte vão ser seis horas de interrupção das operações aéreas. “Isto porque o chefe do Hamas no terreno quer provavelmente fugir àquilo que são as operações vigilâncias que as forças aéreas israelitas conseguem executar e durante 6 horas na parte norte, isso vai ser interrompido”.

Pressão diplomática para cessar-fogo durar mais

Biden está a fazer uma grande pressão sobre Israel ao pôr a tónica que a ajuda humanitária ou proteção da vida civil em Gaza seja reforçada.

"Mas não vai mudar aquilo que são os três objetivos fundamentais de Israel que Netanyahu descreveu e que são o desmantelamento total do Hamas, ou seja, o Hamas com estrutura atual dos últimos 15 anos, vai ter de deixar de totalmente existir, a recuperação total dos reféns e também ter a certeza que aquelo território não possa mais a configurar uma ameaça perpétua e constante, nomeadamente de milhares de bombas e rockets que estavam a ser lançados periodicamente contra Israel#.

“Por isso a guerra vai continuar. Este cessar-fogo tem um limite temporário que pode ser prolongado se o Hamas continuar com uma abertura de voltar a libertar reféns”.

Segundo Ana Cavalieri, “os americanos estão a fazer uma grande pressão para voltar a reforçar a ideia que Israel tem de, nas suas operações militares, evitar o máximo de baixas civis, mas eles continuam e vão continuar a apoiar aquilo que são aqueles três objetivos de Israel”.

Porque o Qatar tem sido tão importante nas conversações entre as duas partes

“O Qatar tem linhas diretas para alguns líderes do Hamas que estão exilados. É uma das críticas até que Israel tem feito, a falta de possibilidade que o Qatar tem tido em limitar a ação destes líderes que estão no exílio e a viverem vidas luxuosas no Qatar.”

É um país pequeno, extremamente rico, com dois vizinhos que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que fazem alguma ameaça sobre a independência do Qatar, pelo que é do interesse do Qatar terem abertura não só com os Estados Unidos, mas também, com o Irão, que é xiita, sendo que o Qatar é de uma maioria sunita.

“O Qatar e o Egito estão até numa espécie de competição para quem consegue assegurar esta posição de mediador no Médio Oriente e, neste caso específico, o Qatar tem sido fundamental para aproximar aquilo que a delegação Israelita do desses líderes do Hamas que estão no Qatar”.

Últimas