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Israel: adiamento relaciona-se "com a necessidade de proteção" das bases americanas

O Major-General João Vieira Borges defende que este atrasar das operações serve para se prepararem melhor “com algo que não tinham nessas bases, nomeadamente antiaérea de média e alta altitude”.

Daniela Tomé

Em análise no Jornal da Noite, o Major-General João Vieira Borges, professor de Estratégia e Relações Internacionais analisa a atual polémica que envolve o secretário-geral das Nações Unidas, após se ter mostrado "profundamente preocupado" com "claras violações" do direito humanitário em Gaza. Explicou ainda os motivos do “adiamento” da invasão israelita e a subida dos níveis de terrorismo na Europa.

António Guterres envolto em polémica

Tendo em conta o objetivo de criação das Nações Unidas, construídas após a Segunda Guerra Mundial “para proteger as vítimas e defender os estados mais fracos”, o Major-General defende que o secretário-geral da ONU “esteve muito bem na sua intervenção”.

“O que achei foi que António Guterres esteve muito bem na sua intervenção, porque nós temos que perceber muito bem quem é António Guterres”, defendeu

João Vieira Borges sustenta que Guterres “tem de defender aqueles que estão a sofrer”, tendo exemplificado neste caso “os que sofreram com o 7 de outubro e dirigiu-o, mais do que uma vez, as palavra ao terroristas dos ataques”.

“O que está em causa foi aquela palavra, que não apareceu do nada, ‘o ataque’. Mas depois também a questão dos 56 anos de verdadeiro cerco, em que as Nações Unidas têm estado a apoiar o povo palestiniano, onde morreram mais de 50 funcionários das Nações Unidas”, explicou.

"Podia não a ter colocado. Se fosse meramente um funcionário das Nações Unidas aquelas pequenas frases não estavam lá. É a sua dimensão política que o fez introduzir aquela frase, que levou a interpretações que ele hoje já desmentiu claramente", disse.

João Vieira Borges acrescentou que “Quem não esteve bem certamente foi o embaixador e depois o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel”.

Segundo o especialista em Estratégia e Relações Internacionais, as figuras israelitas “Usaram uma linguagem que nem o próprio Putin, nem o embaixador no Conselho de Segurança usaram quando foram atacados diretamente por António Guterres, classificando quase terrorismos de Estado a ação da Rússia sob a Ucrânia, não o fizeram”.

EUA e o pedido de “adiamento” da invasão israelita

Segundo o especialista, o pedido de adiamento da invasão israelita pelos Estados Unidos “tem direta relação com a necessidade de proteção das diversas bases americanas.”.

“Os Estados Unidos têm 350 mil homens fora do seu território, em mais de 800 bases. Obtivemos informação que bases muito importantes já foram atacadas - quer a base no Iraque, quer a base na Síria, já foram atacadas e com feridos norte-americanos.

Portanto eles sabem que ao passarmos à segunda fase aquelas frentes que apresentei vão ser exacerbadas, designadamente o ataque não só aos Estados Unidos, mas também a possíveis células terroristas adormecidas na Europa - daí a preocupação da França”, explica.

O Major-General defende que este atrasar das operações serve para se prepararem melhor “com algo que não tinham nessas bases, nomeadamente antiaérea de média e alta altitude”.

“É o dotar desses sistemas que vai permitir fazer face a ataques, por exemplo, do Irão. O Irão é a grande preocupação”.

Subida dos níveis de ameaça europeu

O Serviço de Segurança Interna elevou, na semana passada, o nível de ameaça terrorista em Portugal de “moderado” para “significativo”.

O Major-General esclareceu que estes planos de contingência são acionados, pelo consequente "aumento do grau de prontidão" dos países europeus, em consequência do acompanhamento dos movimentos terroristas no médio oriente e na Europa.

“Já não estamos a falar dos lobos solitários. Eles estão a organizar-se, mesmo no interior de estados como a França, a Alemanha, o Reino Unido, em que esse tipo de comportamentos poderão ter lugar naquela segunda fase, ao fim de algum tempo, e em função das posturas” de instituições como as Nações Unidas.

E depois do Hamas?

Segundo João Vieira Borges existem algumas possibilidades, tais como uma ocupação militar em Israel.

Apontou que uma das soluções pode ser o surgimento de uma nova autoridade palestiniana em Gaza, "ainda que seja difícil isso acontecer".

“Mas depois há outras soluções, que uma delas vai buscar referência ao Kosovo, portanto uma força de interposição como foi o Kosovo em 1999. Essa solução acautelada por este território, e não sendo da NATO”, explica.

Acrescenta ainda uma outra solução, que “curiosamente vem de uma intervenção da liga árabe no Líbano, e que também não resultou até porque houve depois a entrada do próprio Israel e a invasão do Líbano”, detalhando que estes são modelos que estão a ser trabalhados, “muito pressionados sobretudo por norte-americanos”.

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