Cães ou gatos? A ‘discussão’ não é de agora e se há quem prefira os primeiros pela obediência e companheirismo, há quem prefira os segundos pela independência e personalidade vincada.
Ambos oferecem amor e afeto incondicional, mas na altura de escolher um novo amigo de quatro patas é preciso ter em atenção qual deles se adequa melhor ao estilo de vida e rotinas familiares.
Para ajudar na decisão, a médica veterinária Ilda Gomes Rosa, especialista em comportamento animal, falou com a SIC Notícias. Mas, antes disso, vamos a números.
Cão ou gato: afinal, qual é o preferido dos portugueses?
De acordo com o Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC), em Portugal há cerca de três milhões de cães registados e, em comparação, apenas cerca de 630 mil gatos registados.
Está assim desfeita a discussão? Não é bem assim. Esta diferença pode até “não ter nada a ver com a preferência”, explica à SIC Notícias Ilda Gomes Rosa. A médica veterinária acrescenta que, apesar da obrigatoriedade, nem todos os animais de companhia estão registados, sobretudo os gatos. E afirma:
“Nas grandes cidades, a prevalência agora é de gatos”.
E as estatísticas europeias parecem indicar isso mesmo. Em 2022, na União Europeia, havia mais gatos de estimação (77,9 milhões) do que cães (66,9 milhões). Mas se formos olhar especificamente para a realidade de Portugal, os números invertem-se.
Em 2022, Portugal aparecia em 7.º lugar no ranking da população de cães de estimação, com 2,6 milhões, comparando com o 11.º lugar para os gatos, com cerca de 1,7 milhões.
Destaque ainda para o número de casas com pelo menos um animal de estimação de cada uma destas espécies: em 2022, 39% das casas portuguesas tinha pelo menos um cão e 33% um gato.
A importância de ponderar a decisão
Na hora de tomar a decisão, a escolha “deve ser conduzida, aconselhada e não forçada” e não pode ser feita apenas “com o coração, tem de ser uma decisão da razão”, defende Ilda Gomes Rosa.
“Não podemos adotar porque um animal é giro e levá-lo logo para casa. Muitas vezes vai voltar para trás, porque não era aquilo que as pessoas estavam à espera. Muitas vezes as pessoas só vão pela beleza do animal, mas o animal tem muito mais para além disso”.
Então, que fatores devem as famílias ter em conta? Primeiro, a preferência inata que têm por uma ou pela outra espécie, explica a médica veterinária. Depois, as rotinas diárias e a facilidade que terão em ‘encaixar’ o novo membro nas mesmas.
“As pessoas têm de discriminar pela sua facilidade de vida. E pela sua preferência. Há pessoas que continuam a ser só pessoas de cães e há pessoas que continuam a ser só pessoas de gatos. Mas acho que muitas vezes já se está a começar a escolher corretamente pela facilidade que lhes dá ter uma espécie ou outra”.
Para além disso, Ilda Gomes Rosa alerta para a necessidade de ter consciência que não se pode esperar “de um cão aquilo que se tem de um gato e vice-versa”, uma vez que são “duas espécies completamente diferentes”.
Deve ainda ter-se em conta a idade do animal a trazer para casa e as necessidades correspondentes a cada fase.
“Se vão adotar um bebé, vão ter todos os problemas que o bebé traz, implicam gastos energéticos muito maiores. (...) Se vai buscar um animal adulto, muitas vezes não têm noção do comportamento porque não os viram crescer”, diz a médica veterinária.
“Há pessoas que deixam os cães 12 horas sozinhos e quando chegam a casa há cocós e xixis e zangam-se muito porque estão à espera que o animal não faça nada. Eu costumo perguntar ‘nessas 12 horas, quantas vezes é que foi à casa de banho?’”.
Há, por isso, que adaptar as expectativas e perceber que cada animal é diferente. “Nós esperamos uma coisa do animal, mas temos esse direito de esperar? Não”, sublinha Ilda Gomes Rosa em entrevista à SIC Notícias.
Cão e gato: o que os separa e o que os une
O cão rói os móveis, o gato pendura-se nos cortinados. A necessidade de uma “casa à prova de criança” é uma das poucas coisas que os une, já que são mais as diferenças do que as semelhanças entre estas duas espécies.
“Estamos a falar de duas espécies completamente diferentes, uma domesticada há muito mais tempo, portanto com níveis de seleção para obediência e para ligação ao ser humano muitíssimo maiores”. Falamos do cão, claro.
“O gato é muito mais independente, acha que a casa não é nossa, é dele. O gato é assim. Pode não ter o nível de empatia que muitas vezes as pessoas esperam, mas é um animal excepcional para se ter”, sublinha a médica veterinária.
O que os une? Ambos precisam de rotinas. “Educação desde o primeiro dia”, com estabelecimento de regras, sítio onde dormir e horas a que é alimentado. “Os animais precisam de rotinas, como nós”.
A nível do sexo, explica Ilda Gomes Rosa que os machos tendem a ser mais territoriais e agressivos do que as fêmeas, independentemente de serem cães ou gatos.
Então, em que ficamos? “São duas espécies completamente diferentes, mas é muito mais fácil manter um gato do que manter um cão. O cão tem que ir à rua (...) tem a ver com aquele comodismo que temos, que não tem nada de mal”, explica a médica veterinária.
E para quem não consegue escolher?
E se gosta tanto de cães como de gatos, saiba que é possível as duas espécies conviverem felizes. Mas, para isso, são precisos alguns cuidados, sobretudo na introdução.
“Eu prefiro introduzir cachorros numa casa já com gatos, do que fazer o contrário, mas também já introduzi gatinhos numa casa já com cães adultos”.
“Tem que se dar tempo, não é chegar lá, juntar e estamos bem, nem dentro da mesma espécie se pode fazer isso. Tem de haver um período de adaptação e esse período de adaptação pode ser prolongado”, sublinha a médica veterinária.
Quando pedir ajuda? “Antes de ter o animal”
Se está a ponderar acrescentar um amigo de quatro patas à família e tem dúvidas sobre qual será a melhor decisão, saiba que o ideal é pedir ajuda a um especialista ou médico veterinário antes de se comprometer.
“As pessoas deveriam pedir ajuda antes de ter o animal. Falar e perguntar. Pedir aconselhamento ao veterinário. Expôr as condições de vida que têm e perguntar que animal se adequa mais”.
Melhor do que ninguém, estes profissionais serão capazes de o auxiliar naquela que será uma decisão para a vida.