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População arménia de Nagorno-Karabakh teme intervenção de tropas do Azerbaijão

Soldados azeris encontram-se nas imediações de Stepanakert, a autodenominada capital da região separatista habitada principalmente por arménios, numa altura em que separatistas afirmam um impasse nas negociações.

Soldados de uma missão de paz russa guardam uma cerca num campo perto de Stepanakert, Nagorno-Karabakh
AP

Catarina Solano de Almeida

Os separatistas arménios de Nagorno-Karabakh disseram hoje que ainda não há resultados concretos das negociações com o Azerbaijão sobre possíveis garantias de segurança ou uma amnistia para os dissidentes. Efetivos do Exército do Azerbaijão encontravam-se hoje nos arredores de Stepanakert, fazendo aumentar os receios de uma intervenção.

Em Stepanakert, a população está "escondida em caves", com receio da violência, apesar do cessar-fogo assinado com o Azerbaijão, disse à agência France-Presse uma representante das autoridades locais.

"A situação em Stepanakert é horrível, as tropas azeris estão por toda a cidade, estão nos arredores e as pessoas temem que os soldados azeris possam entrar na cidade a qualquer momento e começar a massacrar as pessoas", disse Armine Hayrapetian.

O exército do Azerbaijão lançou na terça-feira um ataque na região separatista de Nagorno-Karabakh.

Vinte e quatro horas depois, as forças de origem arménia concordaram com os termos de um cessar-fogo proposto pela Rússia, face à desproporção de forças e à falta de ajuda da Arménia.

Com mediação da Rússia, que mantém uma força de manutenção da paz em Nagorno-Karabakh desde 2020, representantes dos separatistas e de Baku iniciaram negociações na quinta-feira sobre a reintegração do território secessionista no Azerbaijão.

Acordo ainda não foi alcançado

Baku propôs uma amnistia para os combatentes arménios de Karabakh - região à qual chamam Artsakh - que entregarem as armas, embora alguns tenham prometido continuar a sua resistência, disse Hikmet Hajiyev, conselheiro de política externa do Presidente do Azerbaijão, à Reuters.

Os arménios de Karabakh disseram que o acordo ainda não foi alcançado.

"Essas questões ainda precisam de ser resolvidas", disse David Babayan, conselheiro de Samvel Shahramanyan, Presidente da autodenominada República de Artsakh, à Reuters. “Ainda não há resultados concretos”.

As autoridades do Nagorno-Karabakh concordaram com as exigências militares do Azerbaijão, mas as conversações sobre a forma como a região pode vir a ser integrada no Azerbaijão não foram conclusivas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, afirmou na quinta-feira, nas Nações Unidas, que o país está determinado em garantir aos residentes do Nagorno-Karabakh "todos os direitos e liberdades", em conformidade com a Constituição e com as obrigações internacionais em matéria de direitos humanos, incluindo a proteção das minorias étnicas.

As conversações sobre a situação Nagorno-Karabakh na cidade azerbaijanesa de Yevlakh vão continuar, acrescentou o ministro azeri.

Baku anuncia envio de bens essenciais para o enclave

O Azerbaijão anunciou que iria envia alimentos e ajuda humanitária para o enclave.

O conselheiro do Presidente da autodenominada República de Artsakh confirmou que foi alcançado um acordo para a passagem de um comboio humanitário para Nagorno-Karabakh através do corredor de Lachin.

Sete veículos russos de manutenção da paz, incluindo grandes camiões, passaram por um posto de controlo arménio em direção a Nagorno-Karabakh à região esta sexta-feira, testemunhou um repórter da Reuters no local.

“A situação é muito difícil: as pessoas estão com fome, não há eletricidade, não há combustível – temos muitos refugiados”, disse David Babayan sobre a situação.

Os 120 mil habitantes do Nagorno-Karabakh têm sofrido uma grave escassez de alimentos e de medicamentos desde o final do ano passado, quando começou o bloqueio da principal estrada que liga a região à Arménia.

A posição da Arménia

O primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, afirmou hoje, numa reunião governamental, que não havia necessidade imediata de os arménios da região abandonarem as casas onde residem, mas frisou que a Arménia está preparada para receber 40 mil deslocados, caso seja necessário.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Arménia, Ararat Mirzoyan, afirmou na ONU que a ofensiva do Azerbaijão, esta semana, visou infraestruturas como centrais elétricas, cabos telefónicos e equipamento de internet.

Segundo o Governo de Erevan, nos últimos combates morreram 200 pessoas e 400 ficaram feridas, incluindo mulheres e crianças.

As tropas do Azerbaijão controlam as principais estradas do Nagorno-Karabakh, o que torna impossível visitar e obter informações no terreno", afirmou ainda o chefe da diplomacia de Erevan.

Com agências AFP, Reuters e Lusa

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