Os separatistas arménios de Nagorno-Karabakh disseram hoje que ainda não há resultados concretos das negociações com o Azerbaijão sobre possíveis garantias de segurança ou uma amnistia para os dissidentes. Efetivos do Exército do Azerbaijão encontravam-se hoje nos arredores de Stepanakert, fazendo aumentar os receios de uma intervenção.
Em Stepanakert, a população está "escondida em caves", com receio da violência, apesar do cessar-fogo assinado com o Azerbaijão, disse à agência France-Presse uma representante das autoridades locais.
"A situação em Stepanakert é horrível, as tropas azeris estão por toda a cidade, estão nos arredores e as pessoas temem que os soldados azeris possam entrar na cidade a qualquer momento e começar a massacrar as pessoas", disse Armine Hayrapetian.
O exército do Azerbaijão lançou na terça-feira um ataque na região separatista de Nagorno-Karabakh.
Vinte e quatro horas depois, as forças de origem arménia concordaram com os termos de um cessar-fogo proposto pela Rússia, face à desproporção de forças e à falta de ajuda da Arménia.
Com mediação da Rússia, que mantém uma força de manutenção da paz em Nagorno-Karabakh desde 2020, representantes dos separatistas e de Baku iniciaram negociações na quinta-feira sobre a reintegração do território secessionista no Azerbaijão.
Acordo ainda não foi alcançado
Baku propôs uma amnistia para os combatentes arménios de Karabakh - região à qual chamam Artsakh - que entregarem as armas, embora alguns tenham prometido continuar a sua resistência, disse Hikmet Hajiyev, conselheiro de política externa do Presidente do Azerbaijão, à Reuters.
Os arménios de Karabakh disseram que o acordo ainda não foi alcançado.
"Essas questões ainda precisam de ser resolvidas", disse David Babayan, conselheiro de Samvel Shahramanyan, Presidente da autodenominada República de Artsakh, à Reuters. “Ainda não há resultados concretos”.
As autoridades do Nagorno-Karabakh concordaram com as exigências militares do Azerbaijão, mas as conversações sobre a forma como a região pode vir a ser integrada no Azerbaijão não foram conclusivas.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, afirmou na quinta-feira, nas Nações Unidas, que o país está determinado em garantir aos residentes do Nagorno-Karabakh "todos os direitos e liberdades", em conformidade com a Constituição e com as obrigações internacionais em matéria de direitos humanos, incluindo a proteção das minorias étnicas.
As conversações sobre a situação Nagorno-Karabakh na cidade azerbaijanesa de Yevlakh vão continuar, acrescentou o ministro azeri.
Baku anuncia envio de bens essenciais para o enclave
O Azerbaijão anunciou que iria envia alimentos e ajuda humanitária para o enclave.
O conselheiro do Presidente da autodenominada República de Artsakh confirmou que foi alcançado um acordo para a passagem de um comboio humanitário para Nagorno-Karabakh através do corredor de Lachin.
Sete veículos russos de manutenção da paz, incluindo grandes camiões, passaram por um posto de controlo arménio em direção a Nagorno-Karabakh à região esta sexta-feira, testemunhou um repórter da Reuters no local.
“A situação é muito difícil: as pessoas estão com fome, não há eletricidade, não há combustível – temos muitos refugiados”, disse David Babayan sobre a situação.
Os 120 mil habitantes do Nagorno-Karabakh têm sofrido uma grave escassez de alimentos e de medicamentos desde o final do ano passado, quando começou o bloqueio da principal estrada que liga a região à Arménia.
A posição da Arménia
O primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, afirmou hoje, numa reunião governamental, que não havia necessidade imediata de os arménios da região abandonarem as casas onde residem, mas frisou que a Arménia está preparada para receber 40 mil deslocados, caso seja necessário.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Arménia, Ararat Mirzoyan, afirmou na ONU que a ofensiva do Azerbaijão, esta semana, visou infraestruturas como centrais elétricas, cabos telefónicos e equipamento de internet.
Segundo o Governo de Erevan, nos últimos combates morreram 200 pessoas e 400 ficaram feridas, incluindo mulheres e crianças.
As tropas do Azerbaijão controlam as principais estradas do Nagorno-Karabakh, o que torna impossível visitar e obter informações no terreno", afirmou ainda o chefe da diplomacia de Erevan.
Com agências AFP, Reuters e Lusa