O telhado vermelho e as paredes brancas destacam-se entre o tons das cinzas que agora pintam a cidade de Lahaina, no Havai. A “casa milagre”, como agora é conhecida, ficou intacta à passagem das chamas. E não é uma habitação qualquer: tem perto de 100 anos e faz parte da história de uma importante empresa havaiana.
Segundo os registos distritais da ilha de Maui, a casa está localizada na Rua da Frente há 81 anos. No entanto, o edifício foi construído em 1925, tendo sido lar de contabilistas da histórica empresa Pioneer Mil Company & Lahaina Ice Company. Devido à importância desta habitação para a cidade de Lahaina, foi iniciada uma candidatura para a classificação desta casa como local histórico.
Segundo o formulário entregue à Fundação de História do Havai, o edifício está “associado a eventos que deram contributos significantes” para a história do estado. É também referido que a casa foi habitada por contabilistas da Pioneer Mil Company & Lahaina Ice Company, que tiveram um “importante papel no desenvolvimento da empresa” e na “entrega de gelo e água gaseificada assim como os serviços elétricos e produtos relacionados para os consumidores de Lahaina nos meados do século XX”.
A casa foi movida para a Rua da Frente em 1942, onde tem estado desde então. Atualmente, a moradia - com três quartos, três casas de banho e uma vista desafogada para o mar - vale mais de 3,5 milhões de dólares.
Como é que a casa resistiu?
Esta é a pergunta que se impõe perante uma cidade reduzida a chamas: como é que esta casa sobreviveu? Desde maio de 2021, a habitação é propriedade de Trip e Dora Milliking. Depois de muito sonharem, conseguiram reabilitar o edifício - já visivelmente da danificado pelo tempo.
“A casa estava um absoluto pesadelo, mas via-se a estrutura”, conta o Trip Milliking ao site Civil Beat.
A estrutura da casa é feita com madeira de sequoia-vermelha – que é conhecida por ser resistente ao fogo. Além disso, o casal investiu num telhado de aço e substituiu o pavimento exterior por pedras naturais, num percurso que dá a volta ao edifício.
Provavelmente, o fator que protegeu a casa terá sido o pavimento. Michael Wara, diretor do Programa de Política Climática e Energética do Instituto de Stanford Wood para o Ambiente, explica ao Civil Beat que este tipo de chão evita que se formem brasas e acaba por bloquear a propagação das chamas.
Segundo a Associação norte-americana de Proteção contra o Fogo, é aconselhado utilizar pedra britada ou cascalho na zona de ignição da casa (cerca de 1,5 metros à volta do edifício), o que pode reduzir o risco de incêndio. Além disso, a opção por um telhado de metal e por revestimento de casa resistente ao fogo, assim como a limpeza de detritos mortos e de materiais inflamáveis das zonas de varanda podem proteger as habitações das chamas.
“Se casas suficientes tiverem este tipo de preparação, a reação em cadeia [do incêndio] não começava”, afirma Michal Wara.
As imagens da habitação, intacta, no meio das cinzas apanhou os proprietários de surpresa. Trip e Dora Milliking já tinham assumido que o seu lar tinha ardido no incêndio, ficando emocionados quando viram a fotografia.
“É a nossa casa. Nós começámos a chorar e sentimo-nos tão culpados. Ainda nos sentimos culpados”, contam ao Civil Beat.
Os incêndios que assolaram a ilha da Maui provocaram mais de 100 mortos e milhões de dólares de prejuízo. A cidade de Lahaina ficou completamente destruída e milhares de pessoas desalojadas.