Os quatro polícias militares da cidade brasileira do Rio de Janeiro que realizaram a operação que resultou na morte a tiro de um adolescente de 13 anos, na comunidade Cidade de Deus, foram afastados de funções na rua.
De acordo com o portal G1, que cita fontes da assessoria da Polícia Militar, a decisão do afastamento permanecerá até ao fim das investigações em curso.
Na madrugada de segunda-feira, Thiago, de 13 anos, foi morto durante uma operação policial. Segundo a família, o rapaz não estava armado e foi executado sumariamente por um polícia.
"O Thiaguinho estava passeando de moto com um amigo, saindo da Cidade de Deus, que foi abordada já a tiro. Um tiro pegou na perna, o Thiaguinho caiu, aí a gente tem um trechinho da imagem, que vê o Thiago no chão, ainda vivo, e o policial acaba de executar ele", descreveu o tio do jovem, à imprensa local.
A versão da polícia brasileira indica que o adolescente estaria armado e que houve uma troca de tiros.
Polícia afirma que adolescente estava armado
Entretanto, na quinta-feira, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, reagiu ao caso e disse que a polícia tem de ser capaz de distinguir entre um bandido e uma pessoa pobre.
"Nós precisamos criar condições de a polícia ser eficaz, de a polícia ser pronta para combater o crime. Mas, ao mesmo tempo, essa polícia tem que saber diferenciar o que é um bandido e que é o pobre que anda na rua", disse Lula da Silva, durante um evento no Rio de Janeiro, cidade onde o adolescente foi morto, ao lado do governador do estado, Cláudio Castro.
O Presidente brasileiro disse ainda que o jovem "foi assassinado por um policial despreparado ou irresponsável", acrescentando que não se pode culpar a polícia, mas que é necessário dizer que "um cidadão que atira num menino que já estava caído é um irresponsável e não estava preparado do ponto de vista psicológico para ser policial".
Por outro lado, Lula da Silva admitiu, em declarações citadas na imprensa local, que o Governo Federal deve ajudar os governadores no combate à violência.
"O crime organizado está tomando conta do país", disse.
Amnistia Internacional defende fim de operações policiais mortais
Na terça-feira, a organização Amnistia Internacional defendeu que as autoridades brasileiras devem interromper imediatamente as mortíferas operações policiais nas quais 45 pessoas foram mortas nos últimos dias, nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.
No estado brasileiro da Bahia, operações policiais realizadas nas cidades de Salvador, Itatim e Camaçari entre 28 de julho e 01 de agosto resultaram na morte de 19 pessoas.
No estado do Rio de Janeiro, uma operação policial desencadeada em 02 de agosto deixou 10 mortos e quatro feridos na Vila Cruzeiro, bairro associado a uma das operações mais mortíferas do estado que deixou 25 mortos em maio de 2022.
Na Baixada Santista, litoral do estado brasileiro de São Paulo, uma operação da Polícia Militar nomeada de operação Escudo, iniciada em 28 de julho em resposta à morte do soldado Patrick Bastos Reis, resultou na morte de pelo menos 16 pessoas.
Equipa de série brasileira denuncia agressões policiais
Atores e membros da equipa de produção da série Cidade de Deus - que retrata a história de um dos filmes brasileiros de maior sucesso global -, denunciou agressões por parte da Polícia Militar enquanto estavam a gravar na comunidade 12 do Cinga, em São Paulo.
Num vídeo publicado nas redes sociais, um figurante mostrou os ferimentos, alegadamente feitos por um polícia. De acordo com o jornal O Globo, as autoridades foram ao local após uma denúncia de que ali estava a acontecer um "tribunal do crime", indivíduos de uma fação criminosa que aplicam punições caso as regras da organização criminosa não sejam cumpridas pelos seus integrantes. Contudo, era apenas uma cena da série que estava a ser gravada.
"A Polícia Militar informa que, no dia 27 de julho, equipas do 5.° Brigada Militar foram acionadas para a região do Parque Novo Mundo, na zona Norte da capital, por conta de uma suposta ação criminosa em andamento", explicaram as autoridades, de acordo com o jornal brasileiro.
"Logo após tomar conhecimento do acontecido, a Secretaria de Estado de Segurança Pública reuniu-se com a produtora responsável pela gravação para se desculpar pelo facto e dar todo o suporte necessário para que a gravação volte a acontecer sem nenhuma intercorrência", acrescentaram.
A série está a ser produzida para a HBO e ainda não tem previsão de data de estreia.