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Eleições em Espanha: PP vence sem maioria, e agora?

Os resultados das eleições em Espanha deixaram o país num impasse político. Enquanto os partidos pegam nas calculadoras e começam as negociações, analisamos os vários cenários em cima da mesa.

Filipa Traqueia

SIC Notícias

O resultado das eleições de Espanha colocou o país num impasse político. O PP venceu a noite com 33% dos votos, seguido de perto pelo PSOE com 31%. O VOX ficou em terceiro lugar, muito perto da coligação de esquerda Sumar. A possibilidade de haver novas eleições ainda está em cima da mesa.

Alberto Feijóo gritou vitória. Mas Pedro Sánchez também. Para o líder do PSOE o resultado das eleições deste domingo mostram que os espanhóis rejeitaram “o bloco retrógrado que propunha a revogação total de todos os avanços feitos nos últimos quatro anos”.

Os líderes dos dois maiores partidos enveredam agora pela matemática da maioria, mas os números não estão a ajudar nas contas: nem o PP, nem o PSOE consegue alcançar maioria com uma coligação de dois partidos.

O cenário é complexo e até os partidos que conquistaram apenas um deputado podem ser chamados às negociações.

Governo de direita à boleia do VOX

O PP conquistou 136 deputados no Congresso (mais 47 do que tinha antes), um número que fica aquém da maioria absoluta de 176 membros. Depois de ter sido conhecido o resultado, Alberto Feiróo apelou aos partidos que o deixem formar um Governo.

Garantiu que irá “abrir diálogo” com os partidos que compõem o Congresso para “tentar formar Governo”. Sublinha que o resultado das eleições é “a vontade expressa dos espanhóis” e pediu que “ninguém tenha a tentação de voltar a bloquear Espanha”.

Para ultrapassar este “bloqueio”, Alberto Feijóo poderá adicionar às suas conta os 33 deputados do VOX, o partido de extrema-direita liderado o Santiago Abascal. Essa possibilidade foi referida por diversas vezes, durante a campanha eleitoral, e não seria inédita – os dois partidos têm acordos de governação em vários municípios.

Mas este aproximação à extrema-direita não chega para a maioria – soma 169 deputados – e pode até fechar portas ao PP na busca pelos sete deputados que lhe faltarão para formar Governo.

Alberto Feijóo terá também de adicionar às contas os partidos independentistas da Catalunha e dos Países Baixos. No entanto, a dura posição que o líder do PP tem manifestado sobre os separatistas também pode não abonar a favor do partido de centro-direita.

A confirmar-se uma coligação do PP, do VOX e de outro partido para formar Governo, esta seria a primeira vez que a extrema-direita subia ao Palácio da Moncloa desde a ditadura de Franco.

Uma maioria a seis para travar a direita

Do outro lado, o PSOE de Pedro Sánchez também poderá alcançar um número de deputados suficientes para bloquear a chegada do Governo de direita ao poder. Mas as contas terão de incluir ainda mais parcelas.

A associação à Sumar – uma coligação de vários partidos de esquerda, nos quais se inclui o Podemos – será uma primeira ajuda e aumenta em 31 deputados a equação de Sánchez. Poderá também repetir o acordo de governação com a Esquerda Republicana da Catalunha, que apoia o Governo socialista desde 2020.

Mas, mesmo assim não chega: o atual primeiro-ministro terá de negociar com os partidos independentistas da Catalunha e dos Países Bascos.

A oposição alerta que a coligação com os independentistas pode colocar em causa a nação de Espanha. E, de facto, Pedro Sánchez pode ter de lidar com uma série de exigências, entre as quais a realização de referendos à independências de ambas as regiões autónomas.

Essa questão já foi colocada pelo Junts pela Catalunha. Miriam Nogueras, candidata ao Congresso, disse que qualquer passo atrás na posição do partido terá de ter a garantia de um referendo à independência da Catalunha, assim como garantias de investimento.

O Junts pela Catalunha foi também o partido que, em 2017, sob liderança do antigo Presidente da Generalitat Catalã Carles Puigdemont, organizou o referendo pela independência da Catalunha.

Os partidos dos Países Baixo, EH Bildu (6 deputados) e PNV (cinco deputados), serão chamados a trazer os seus deputados para as contas.

Andoni Ortuzar, líder do partido nacionalista moderado PNV já reagiu à “difícil aritmética do Parlamento”: “Parece que os nossos votos serão mais uma vez decisivos.

O líder do EH Bildu manifestou já a sua intenção de impedir a direita de chegar ao Governo: “Se depender de nós, ‘no pasaran’ [Não passarão em português]”, disse Arnaldo Otegi, utilizando o slogan republicano da altura da Guerra Civil para se referir à coligação PP e VOX.

Somando os seis partidos é que Pedro Sánchez conseguirá a maioria de 178 deputados.

Mas se um destes partidos falhar, as contas ficam complicadas para os socialistas: a única possibilidade de alcançar maioria de esquerda será sem os cinco deputados do PNV e os três deputados únicos dos partidos de Navarra, Galiza e Canárias

Novas eleições, novos números para somar

Como vencedor das eleições, Alberto Feijóo será convidado a formar Governo, procurando alcançar a maioria. Mas a possibilidade de haver novas eleições não foi descartada.

As negociações entre os partidos podem demorar, uma vez que não está definindo um prazo legal para ser apresentado o novo Governo. No entanto, se a primeira eleição do primeiro-ministro falhar, o Congresso tem dois meses para alcançar uma maioria ou volta a eleições.

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