O conflito na Ucrânia e outros, além das convulsões causadas pela crise climática, levaram a um recorde de deslocados em 2022 e 2023, elevando a urgência de ação imediata e coletiva para aliviar causas e impactos do fenómeno. No ano passado, por exemplo, mais de 40 milhões de crianças foram deslocadas. Joana Brandão, diretora nacional de Portugal com ACNUR, diz que o número de pessoas forçadas a fugir ultrapassou os 110 milhões e é, agora, o maior número de sempre.
“Falamos do maior aumento de sempre, desde o final de 2022 em relação ao final de 2021, um aumento de 19 milhões de pessoas. As situações mais graves neste caso, por exemplo, de onde vêm o maior número de refugiados são a Ucrânia, falamos do Afeganistão e de muitas outras crises”.
Joana Brandão refere que muitos refugiados fogem da Síria, Ucrânia e Afeganistão, mas lembra que há outras crises que levam à fuga das populações - “Quando estamos perto da guerra da Ucrânia, que nos chega todos os dias através das televisões, esquecemos e até deixamos de financiar outras crises, como a do Corno de África”.
Perante este flagelo, Joana Brandão deixou um apelo, durante a entrevista na SIC Notícias:
“As pessoas através de parceiros nacionais do ACNUR, como somos nós a Portugal com a ACNUR, que é recente no país, possam doar porque o ACNUR tem em mãos desafios que não tinha há anos, o número de pessoas deslocadas ultrapassou os 110 milhões. Posso dizer que em 2015 estava abaixo de 70 milhões, ou seja, estamos a falar de um gráfico que não para de crescer e estão pessoas por trás destes números”.
No Dia Internacional dos Refugiados, são divulgados números que dão conta da tragédia incessante dos refugiados e deslocados, com base no relatório anual do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), denominado “Tendências Globais das Deslocações Forçadas 2022”:
- O número de pessoas deslocadas por guerras, perseguições, violência e violações dos direitos humanos atingiu um recorde de 108,4 milhões em 2022, mais 19,1 milhões do que no ano anterior.
- Do total global de deslocados no ano passado, 35,3 milhões eram refugiados - ou seja, pessoas que atravessaram uma fronteira internacional em busca de segurança - enquanto uma percentagem maior (58%), ou seja, 62,5 milhões de pessoas, eram deslocadas internas devido a conflitos e violência e eventos relacionados com a crise do clima.
- A guerra na Ucrânia foi o principal fator de deslocação em 2022: O número de refugiados da Ucrânia aumentou de 27.300 no final de 2021, para 5,7 milhões no final de 2022, o que representa o fluxo mais rápido de refugiados em qualquer lugar desde a Segunda Guerra Mundial.
- Mais de metade de todos os refugiados (52%) no mundo provém de apenas três países: Síria (6,5 milhões), Ucrânia (5,7 milhões) e Afeganistão (5,7 milhões).
- O recente conflito no Sudão desencadeou novos fluxos de saída, elevando o total global para cerca de 110 milhões em maio de 2023.
- Cerca de 76% dos refugiados e outras pessoas com necessidade de proteção internacional estão alojados em países de baixos recursos: 46 dos países menos desenvolvidos - que representam menos de 1,3% do produto interno bruto (PIB) mundial - acolheram mais de 20% do número total de refugiados.
- Em 2022, mais de 339 mil refugiados regressaram aos seus países e, apesar do número ser inferior ao do ano anterior, registaram-se regressos voluntários significativos a países como Sudão do Sul, Síria, Camarões e Costa do Marfim; 5,7 milhões de pessoas deslocadas internamente regressaram em 2022, nomeadamente na Etiópia, Myanmar, Síria, Moçambique e na República Democrática do Congo.
- No final do ano passado, estimava-se que 4,4 milhões de pessoas em todo o mundo eram apátridas ou de nacionalidade indeterminada, mais 2% do que no final de 2021.