A UNICEF estima que os refugiados o ano passado foram mais de 43 milhões, um novo recorde mundial. Só a guerra na Ucrânia terá levado à fuga de mais de dois milhões de menores. O número de crianças deslocadas dos lares duplicou na última década. As principais razões para este valor recorde são conflitos internos dos países e eventos climáticos extremos, como as cheias no Paquistão e a seca no Corno de África.
André Costa Jorge, Presidente da Plataforma de Apoio aos Refugiados, convidado da SIC, explica e comenta a situação atual no Dia Mundial do Refugiado.
Para presidente as maiores preocupações relativamente aos refugiados ainda se relacionam com as condições de segurança e a falta de consenso político internacional ou interno.
“As maiores preocupações estão nas condições de proteção e segurança que os refugiados não encontram, a forma como na Europa não temos sido capatazes de criar o consenso político necessários para dar proteção que as pessoas merecem. Os refugiados são vítimas desta incapacidade de criar condições para que não tenham de recorrer a situações perigosas, onde os mais vulneráveis são as principais vítimas”, explica o presidente.
A par dos mais vulneráveis, a UNICEF alerta que, em Portugal, as crianças refugiadas enfrentam discriminação e risco de exclusão.
"O risco que corremos é que estas crianças não tenham o acompanhamento devido no seu processo de acolhimento e integração no meio escolar, o acompanhamento da saúde mental dos mais jovens importa garantir", exemplifica.
No que diz respeito a Portugal, sabe-se que vêm, mas será que ficam?
"Nos últimos anos, temos a chegada de grupos desde 2015 até 2022 muito diferentes em diversas situações. A população que recebemos vinda da Grécia, sírios, houve movimentos secundários para países onde estas pessoas tinham mais comunidade, de alguma forma são compreendidos à luz dessas redes familiares", explica André Costa Jorge.
No entanto, boa parte da população afegã que Portugal acolheu tem permanecido. Já a da Ucrânia veio numa situação transitória, após uma situação de resgate. Segundo o presidente, a guerra ainda não terminou, mas assiste-se a uma expectativa que as coisas melhorem e boa parte das famílias acabam por retornar.
Portugal acolhe e alguns permanecem, mas qual é a atitude que se tem? Recetora ou olha-se para os refugiados como intrusos que roubam espaço?
"Creio que a tradição portuguesa é muito positiva de hospitalidade e acolhimento, não só do ponto de vista turístico. Ao nível da solidariedade, a sociedade portuguesa tem manifestado acolhimento, sobretudo no que se trata de guerras", explicita André Costa Jorge.
Para o presidente, “é este espírito solidário que os portugueses têm manifestado que faz com que Portugal ser capaz de acolher”.
A propósito do Dia Mundial do Refugiado, esta terça-feira assinalado, a UNICEF refere que, de 43,3 milhões de crianças que estavam em situação de deslocamento forçado no final do ano passado, quase 60% (25,8 milhões) foram deslocadas internamente devido a conflitos e violência.
Também eventos climáticos extremos, como as cheias no Paquistão e a seca no Corno de África, resultaram em mais 12 milhões de deslocamentos de crianças ao longo de 2022.