A Ilha da Páscoa (Rapa Nui em idioma polinésio) dispensa qualquer apresentação. Qualquer entusiasta de história já foi certamente capturado pela atmosfera enigmática que foi figurativa e literalmente erguida em torno desta, que é a ilha mais remota no planeta (refiro-me às famosas moais da imagem deste texto).
Quem tem seguido esta rubrica mensal com algum interesse, já terá certamente identificado os tópicos que invariavelmente fazem uma aparição. Contam-se entre os mesmos a história ambiental, o colapso de sociedades do passado, e analogias com os limites da sustentabilidade no presente. Por conseguinte, a Ilha da Páscoa representa um tipo de apoteose de todas estas alíneas, uma espécie de peregrinação ao Santuário de Fátima que qualquer especialista em colapso civilizacional tem de encarar mais cedo ou mais tarde no seu percurso de treino.
Porém, as reflexões na esfera pública variam bastante daquilo que se discute em ambiente académico e, como iremos ver, diferentes interesses têm causado divergências significativas naquilo a que se presta atenção e acaba a ser financiado. A título de exemplo, entre as questões que regularmente acompanham exames da Ilha da Páscoa para audiências generalistas temos:
- O que terá levado uma sociedade com uma cultura tão expressiva a colapsar?
- Terão os habitantes desflorestado a ilha causando uma degradação ambiental da qual não conseguiram recuperar?
- Que simetrias é que existem entre a Ilha da Páscoa e o que a humanidade está a fazer ao planeta no presente?
De forma resumida, estas ponderações são bastante representativas daquilo que é o discurso em torno de Rapa Nui, sendo que a mais relevante é a que apresenta a ilha como uma parábola de aviso, a exposição de uma sociedade que entrou numa espiral de destruição ambiental, culminando no seu colapso. Todavia, no mundo académico, esta é só uma das diversas considerações que ocupam os especialistas. Exploremos de seguida, um pouco mais dos tópicos que muitos indivíduos dedicam as suas vidas a tentar reconstruir e clarificar.
A Ilha da Páscoa pelos olhos dos cientistas
A questão crucial a deslindar é: a quem é que pertence, predominantemente, a tarefa de reconstruir o passado tumultuoso da Ilha da Páscoa?
Os historiadores necessitam de fontes primárias como documentos, imagens e artefactos que ofereçam testemunhos em primeira mão para fortalecer as suas áreas de investigação. Infelizmente, no que concerne a Ilha da Páscoa, o seu trabalho é bastante dificultado pela simples razão que a única evidência de uma linguagem escrita, o Rongorongo, não ter sido ainda integralmente descodificado.
Complementarmente, a linguagem aparenta ter sido maioritariamente usada para fins religiosos, e por uma minoria irrisória da população, negando o acesso à mesma por parte da maioria dos habitantes para descreverem o seu quotidiano e reduzindo, significativamente, a disponibilidade de documentos serem analisados pelos historiadores.
Adicionalmente, a tese que o Rongorongo foi uma resposta ao contacto com exploradores Europeus, que possuíam uma linguagem escrita, tem vindo a ganhar terreno. Se assim for o caso, a maior parte da história desde a sua colonização em meados do século XIII, estará destinada ao esquecimento. Em suma, os historiadores têm muito pouco material com que possam trabalhar, ocupando-se principalmente de relatos e narrações por parte dos exploradores, após o primeiro contacto descrito em 1722. Em todo o caso, é uma parte crucial para ajudar a montar o puzzle da Ilha da Páscoa.
Quem se segue?
Os antropólogos têm a complexa tarefa de perscrutar as sociedades humanas e, para isso, precisam de detalhar os seres humanos que as compõem, e como estes interagem uns com os outros, bem com o meio físico e aquele que é construído por estes no abstrato. O empreendimento de desvendar a cultura de uma dada sociedade não é uma incumbência que se possa assumir de ânimo leve, mas os profissionais que aceitam o desafio têm-no feito com ampla idoneidade, especialmente quando o objeto de estudo é uma sociedade que, repetidamente, se considera ter colapsado.
Mas, contrariamente ao que frequentemente se assume, o colapso de uma sociedade não tem de significar a extinção da totalidade da sua população. Casos paradigmáticos como o Império Romano em 476, Constantinopla em 1453, os Maias do Período Clássico (entre 800 e 1000) ou a Ilha da Páscoa, preconizam que as suas populações tenham desaparecido numa mescla de insurreições, invasões, e variadas tribulações - causadas por alterações climáticas e degradação ambiental ou pela dissolução do sistema político e da estrutura organizacional de uma sociedade.
Contudo, em qualquer um destes casos, o cenário mais plausível é que as populações se tenham fragmentado e dispersado, migrando para outras terras (algo mais difícil de fazer numa ilha e, ainda mais, numa tão remota como Rapa Nui), estabelecendo novos sistemas ou sendo absorvidos por outros mais dominantes.
No entanto, é preciso frisar que no caso dos Maias e da Ilha da Páscoa – mas particularmente no último - as suas populações foram reduzidas de tal forma que os sobreviventes devem ter encarado o extermínio e desaparecimento das suas culturas como uma verdadeira possibilidade.
No que concerne a Ilha da Páscoa, uma das conjeturas mais influentes é a denominada ‘hipótese de genocídio’. Esta postula que a contração populacional observada na Ilha da Páscoa foi o resultado do contato com os Europeus a partir do século XVIII. Segundo esta hipótese, a chegada dos exploradores veio acompanhada de doenças às quais os habitantes não possuíam qualquer tipo de imunidade, tendo causado considerável perda de vida. Mas não só. Junto com as novas patologias, seguiu-se também a escravização da população tanto por parte de Europeus como de países como o Peru e o Chile. Finalmente, a introdução de ovelhas na ilha veio alterar profundamente a ecologia da mesma, afetando métodos de subsistência tradicionais.
A hipótese do genocídio é apadrinhada principalmente por antropólogos que reconhecem a abertura da Ilha da Páscoa ao mundo exterior como o momento que sentenciou os nativos a uma espiral de colapso. Esta é comumente aliada à hipótese de resiliência, uma que eleva a superação dos nativos, celebrando o seu engenho e adaptação face a condições que poderiam ter levado à sua exterminação.
Independentemente da irrefutabilidade de cada hipótese, há um facto que se sobrepõe a toda a teoria. Os descendentes da Ilha da Páscoa (e dos Maias) estão vivos, e muitos permanecem obstinados em não deixar a cultura de Rapa Nui cair no esquecimento. O trabalho dos antropólogos está bastante dependente dos costumes, mitos, hábitos e tradições que estes indivíduos se recusam a abandonar e que são indispensáveis na missão de reconstruir o decurso da Ilha da Páscoa.
Uma vez que o propósito é a recomposição de eventos e circunstâncias do passado, erraria se não mencionasse o trabalho crítico dos arqueólogos. Quando o objeto de estudo é uma sociedade em que o seu sistema político, a hierarquia, a organização social e a uma parte substancial da sua população sofreram uma transformação profunda, o papel do arqueólogo é possivelmente o mais relevante entre todos os especialistas já referidos.
Entre as especialidades mencionadas, a que quiçá tem sido capaz de perscrutar o passado da Ilha da Páscoa com maior veracidade é a arqueologia. Enquanto os registos escritos, narrações e mitos tendem muitas vezes a enaltecer e/ou desprezar eventos e indivíduos, os objetos (e restos) materiais deixados para trás pela humanidade - e por alterações que estes causaram ao seu meio – descrevem uma história mais factual.
Paralelamente, a arqueologia tem vindo a beneficiar de um interesse renovado devido a dois fatores. O primeiro diz respeito aos avanços nos métodos de análise, os quais reduzem a incerteza dos seus resultados e aumentam a robustez das suas conclusões (Weiss 2017). Em segundo lugar, a preocupação crescente na atualidade com temas como as alterações climáticas e a devastação da frágil ecologia do planeta, produziu uma curiosidade tanto na academia como na sociedade em geral, em responder às perguntas:
- Terão os nossos antepassados lidado eficazmente com mudanças climáticas? A adaptação foi possível, ou terá a variação sido demasiado severa e súbita para levar ao colapso das suas sociedades?
- Os nossos antecedentes teriam a capacidade de degradar os seus ambientes e sobre explorar os recursos ao ponto de criar um ponto de rutura que levaria ao colapso das suas sociedades?
De momento, a arqueologia e suas subdisciplinas (tais como a paleoclimatologia, a zooarqueologia ou a paleobotânica) estão idealmente preparadas para nos ajudar a responder a estas questões, sobretudo através do estudo de proxies climáticas como organismos, anéis de árvores, sementes, sedimentos ou núcleos de gelo. A análise destes testemunhos permite inferir se a acção humana foi de tal forma consequente que a deflorestação de uma área tenha resultado numa transformação de um bosque para um regime de savana, ou se as alterações climáticas podem ter modificado padrões de precipitação e levado a secas extremas, com repercussões significativas.
Este anteâmbulo leva-nos à última hipótese em destaque relativamente à ilha da Páscoa. A mesma veio a ser apelidada de hipótese de ecocídio, e tornou-se possivelmente a mais célebre de todas, devido ao distinto trabalho do biogeógrafo Jared Diamond, Colapso: Ascensão e Queda das Sociedades Humanas (2005) que popularizou o tema de colapso de sociedades passadas, particularmente aquele que era autoinfligido por negligência para com o meio que sustenta as necessidades de uma população.
Contrariamente às hipóteses anteriormente descritas, a que foi avançada por Diamond (e outros) alega que houve uma contração populacional significativa, anterior a qualquer contato da ilha com os Europeus. Essa diminuição da população teria sido o resultado conjunto de um crescimento populacional que ultrapassou a capacidade de carga da ilha, em simultâneo com a desflorestação da floresta de palmeiras autóctones, invariavelmente reduzindo a autossuficiência alimentar da população e causando revoltas sociais que culminaram em violência e na suspensão dos trabalhos com as moais.
A popularidade da tese de Diamond conferiu uma atenção a um tema que até à data era principalmente debatido em corredores de universidades e em conferências científicas bastante furtivas. A narrativa do colapso de sociedades do passado através de overshoot ecoou imediatamente com as apreensões que se têm vindo a avolumar desde os anos 60, com a génese do movimento ambiental moderno. Porém, a fama da hipótese de ecocídio na Ilha da Páscoa teve o efeito impremeditado de ofuscar outras áreas de estudo, especialmente aquelas hipóteses até agora apresentadas.
No que diz respeito, por exemplo, ao argumento da sobre exploração das palmeiras nativas Jubaea por parte dos habitantes (uma fração fundamental na hipótese de ecocídio), já outras proposições foram avançadas. Uma das que adquiriu mais suporte é a que coloca a espécie invasora de ratos (Rattus exulans) no centro da polémica. Estes terão alegadamente sido trazidos pelos colonos aquando da chegada à ilha. Os investigadores que intercedem por esta hipótese (Hunt and Lipo 2007) defendem que o roedor teve um impacto ecológico tremendo, tendo consumido as sementes da árvore de tal forma que a continuidade da espécie foi posta em causa.
Um dos simpatizantes mais conhecidos desta hipótese é o polímata Vaclav Smil, que escreveu na sua obra Growth: From Microorganisms to Megacities (2019):
“Numa explicação citada inúmeras vezes, Jared Diamond atribui o colapso da sociedade da Ilha da Páscoa a uma desflorestação irresponsável. Isto pode ter saciado a curiosidade de leitores pouco exigentes e audiências de TV, mas Hunt (2007) identificou a introdução do rato da Polinésia como sendo a principal causa de destruição das florestas de palmeiras Jubaea, enquanto que Puleston e colegas (2017) estimaram que o cultivo da batata doce teria suportado uma população superior a 17 mil pessoas. O eventual colapso populacional não terá sido provocado por desflorestação ou fome, mas sim pela introdução de doenças infeciosas (seguindo o contato com os primeiros Europeus em 1722) e escravização.”
Em 2010 foi publicada a obra editada Questioning Collapse: Human Resilience, Ecological Vulnerability and the Aftermath of Empire pela universidade de Cambridge. Este livro foi o resultado de um trabalho conjunto de historiadores, antropólogos e arqueólogos que estavam convencidos que as hipóteses de resiliência e genocídio não estavam a conseguir penetrar a opinião pública e que a hipótese de ecocídio/overshoot desfrutava de excessiva atenção.
Como resultado, os autores defendiam que as audiências generalistas desconheciam os argumentos em objeção, e que eram capturados pela sua simplicidade e afinidade com inquietudes do presente.
Questioning Collapse foi um desafio direto à obra de Diamond (desde o conteúdo à capa), o que acabou por criar um episódio bastante insólito no mundo da ciência. Jared Diamond foi convidado pelo afamado jornal científico Nature a escrever uma apreciação deste novo livro, embora o mesmo fosse já considerado uma crítica ao seu trabalho. Isto deixou a comunidade científica em alvoroço, já que esta alegava que existiria um evidente conflito de interesses que não podia ser ignorado.
Entre os pareceres feitos em Questioning Collapse era que Diamond explorava o tema de colapso com demasiada simplicidade e com terminologia desadequada ao estudo. A jeito de exemplo estão as próprias definições que tenho usado aqui como alguma frequência como “colapso” ou “sociedade”. Termos como estes ajudam a classificar e a organizar mentalmente um tópico para que seja mais fácil comunicarmos, mas também fazem com que transformemos algo abstrato num objeto de estudo empírico. Imediatamente surgem questões como “o que é uma sociedade?” “é possível desenhar uma linha à volta de uma?” “é possível apontar para um colapso e reconhecer um como tal?”
As suposições que Diamond usou valeram uma torrente de críticas, mas ao mesmo tempo a ausência de uma nomenclatura que especialistas de várias áreas possam usar e aceitar delonga uma análise coordenada e que tem de ser essencialmente interdisciplinar (como tentei demonstrar até agora).
Outra das principais reprovações dizia respeito ao cariz polímata de Diamond. A academia científica gosta de celebrar e exortar um ambiente multidisciplinar e diverso, mas no seu âmago não é isso que acontece. Biogeógrafo por treino, muitos foram os que consideraram que Diamond estava a ser improvidente ao escrever um livro de divulgação científica que interpelava tópicos que diziam respeito a historiadores, antropólogos e arqueólogos. Isto porque, independentemente do grau de curiosidade e aplicação de um indivíduo, não seria possível replicar anos de treino em cada área de conhecimento, como tal, o resultado só poderá ser um trabalho que não corresponde às exigências que são esperadas de qualquer especialista nos variados ramos.
Para o melhor ou para o pior, o mundo científico funciona por silos isolados. Cada área tem uma linguagem, premissas e requisitos que todos aquele que enveredam pelas mesmas aquiescem, de forma a conseguirem trabalhar e comunicar (os cientistas fazem-no fundamentalmente na forma de artigos científicos). Ora, o problema é que essa comunicação é feita sobretudo dentro de cada um destes silos, o que leva a crer que a missão cardinal de interdisciplinaridade está perdida à partida, dada a dificuldade inerente a uma pessoa se afirmar distintamente noutro campo sem pisar as variadas minas de nomenclatura ou a constante revisão das conjeturas dominantes.
E é assim que o método científico tem funcionado como a nossa melhor ferramenta para entender a realidade. Grupos de especialistas que trocam impressões e ideias entre si, com crossovers ocasionais na forma de eruditos que simplificam as suas doutrinas para outras audiências. Todavia, isto leva-me ao último tema de discussão deste texto. Se os cientistas receiam pisar a linha que encasula a sua especialidade, será que o mesmo sucede com a população em geral quando estão prestes a pronunciar-se sobre um tópico com o qual não estão suficientemente familiarizados?
O efeito Dunning-Kruger e a leviandade em incorporar temas complexos em grandes narrativas
O meu percurso académico levou-me desde uma licenciatura em Saúde Ambiental para um mestrado em Ecologia e Ambiente. Para a dissertação passei dois anos a investigar as diversas maneiras em como a sobrepopulação humana afeta e amplia todo o tipo de problemas ambientais e sociais; enquanto para a tese de doutoramento, estou prestes a entrar no terceiro ano consecutivo a perscrutar a história ambiental de sociedades passadas e apurar casos em que estas tenham – irrefletidamente - causado dano ecológico, ou sido vítimas de mudanças climáticas, que as desviaram de um estado mais desejável.
Ora, este curriculum vitae não compreende treino especializado em nenhum dos três ramos que identifiquei como sendo fundamentais ao estudo e reconstrução do passado da Ilha da Páscoa. Este é um facto que me mantém constantemente num estado de alerta, já que a minha investigação me leva para áreas às quais não possuo o treino exigido para poder debruçar-me, sem restrições, sobre as conclusões de outros especialistas. Porém, considero que isto é uma posição saudável a manter-se, não só no que diz respeito à ciência, mas em temas que possivelmente sobreavaliamos as nossas capacidades e conhecimento. Isto leva-me ao efeito de Dunning-Kruger.
Resumidamente, este efeito declara que antes de uma pessoa estudar adequadamente um tema ou tarefa, que tem tendência a manter um elevado nível de confiança nas suas capacidades. Todavia, assim que se familiariza com a complexidade do assunto, a sua confiança diminui, sendo acompanhado por uma moderação em apreciações insensatas. Com o tempo, e com o oneroso processo de especialização, a confiança tende a aumentar, mantendo-se a um nível mais saudável que no início.
Menciono Dunning-Kruger porque, para todos os efeitos, revejo-me mais no trabalho versado de Jared Diamond, do que na firme especialização num dos silos da ciência. Ainda assim, exerço cautela quando me estou a debruçar sobre temas que posso não compreender totalmente, mesmo quando se trata de um tópico que tenho passado os últimos anos a investigar. Contudo, a Ilha da Páscoa – os seus ‘mistérios’ e afinidades com o presente - são um tema que conquista a atenção das pessoas, e muitas, invariavelmente, tendem a tecer comentários ou a agregar os alegados eventos decorridos na ilha como uma parábola contemporânea.
O momento que me despertou para a ubiquidade deste comportamento, surgiu, nada mais nada menos, por parte daqueles que consideraria meus aliados ideológicos mais próximos, uma organização não-governamental dedicada à consciencialização das problemáticas populacionais. Observei como se usava - com alguma imprudência - a Ilha da Páscoa como uma representação do modelo de ecocídio de uma população que cresce além dos meios e que acaba por devastar o biossistema que a sustém.
A hipótese de ecocídio era assim propagada e replicada por entre afiliados, sem nenhum tipo de escrutínio sério, porque era proveitoso usar exemplos do passado como avisos para grandes narrativas do presente, particularmente na semelhança entre uma população que não cessa de crescer e que está a consumir a rede ecológica que a sustém. Mas quem diz grupos ambientais diz também grupos que celebram o engenho humano e a sua capacidade para resolver problemas e arranjar soluções para os mesmos. A hipótese de resiliência deve assim, ser igualmente partilhada e difundida sem verificação nessas comunidades ideológicas, sendo que podemos imaginar que o mesmo sucede com a hipótese de genocídio em grupos ligados à defesa de direitos humanos.
Como se costuma coloquialmente dizer, cada um puxa a brasa à sua sardinha. Isto a meu ver é um desserviço ao enredamento científico da Ilha da Páscoa, à constante competição entre hipóteses, e ao trabalho de inúmeros cientistas em cada uma das especialidades.
Não quero com isto coagir as pessoas a não se interessarem e enveredarem por teses que não dominam totalmente, aconselho somente a que possamos exercer alguma cautela quando estamos prestes a pronunciar-nos sobre temas dos quais conhecemos só uma narrativa dominante. Termino este texto com outra metáfora mais coloquial, uma que ainda faz mais sentido tendo em conta o tópico da deflorestação da Ilha da Páscoa.
Temos de olhar para as árvores e saber ver a floresta inteira.