A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos começou a viagem oficial à Ásia na segunda-feira. Após muita especulação em torno da visita a Taiwan, Nancy Pelosi chegou esta terça-feira à ilha, após dias de tensão entre Pequim e Washington. A China considera esta visita uma afronta e voltou a « ameaçar os EUA.
Nancy Pelosi estava a bordo de um avião que deixou a Malásia e chegou a Taipé às 22:45 (hora local, 15:45 em Portugal continental). A líder do Congresso norte-americano foi recebida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, que recusou comentar a viagem de Pelosi quando esta ainda era uma incógnita, e pela representante dos EUA em Taiwan, indica o The Guardian.
Numa declaração, o Instituto Norte-Americano em Taiwan admitiu que iria liderar a visita de Pelosi em Taiwan até quarta-feira, centrando-se nas relações entre os dois países, abordando temas como segurança, comércio, pandemia, crise climática, direitos humanos e outras questões de "interesse mútuo".
Na agenda para quarta-feira está um encontro com a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.
Os meios de comunicação locais tinham mencionado na segunda-feira a presença da presidente da Câmara dos Representantes norte-americanos em Taiwan.
Nancy Pelosi está hospedada no Grand Hyatt Hotel em Taipé, com barricadas erguidas no exterior para garantir a sua segurança. A multidão recebe a líder do Congresso dos EUA no hotel.
AS PRIMEIRAS PALAVRAS DE PELOSI EM TAIWAN
Nancy Pelosi recorreu, minutos depois da chegada, às redes sociais para afirmar que a visita "honra o compromisso inabalável da América em apoiar a vibrante Democracia de Taiwan".
Também foi no Twitter, que a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, fez chegar um artigo de opinião que escreveu para o jornal Washington Post a explicar o que impulsionou esta decisão, anunciando que "respeitamos o nosso compromisso para com a democracia".
No Washington Post, Pelosi sublinha que "face à agressão acelerada do partido comunista chinês, a visita da nossa delegação do Congresso deve ser vista como uma declaração inequívoca de que os EUA estão com Taiwan, o nosso parceiro democrático, na defesa da sua própria liberdade".
PEQUIM DENUNCIA ATITUDE "EXTREMAMENTE PERIGOSA" DOS EUA
A China denunciou a atitude "extremamente perigosa" dos EUA, pouco depois da chegada de Pelosi a Taiwan, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês numa declaração.
Acrescenta ainda que Washington "continua a distorcer o princípio de uma só China (...) estas ações, como brincar com o fogo, são extremamente perigosas".
Em resposta à visita de Pelosi a Taiwan, a China anuncia "ações militares direcionadas" à ilha.
A operação do exército visa "defender resolutamente a soberania nacional e a integridade territorial e impedir firmemente a interferência externa e a tentativas separatistas", disse Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa chinês.
O exército chinês irá conduzir operações militares conjuntas perto de Taiwan, a partir desta terça-feira, e irá testar o lançamento de mísseis convencionais no mar a leste da ilha.
AS AMEAÇAS DE PEQUIM
Pequim considera Taiwan, ilha democrática autónoma, como território chinês. Por isso, a opõe-se ao contacto entre Taipé e Washington e considera que qualquer intervenção "colocará em causa a soberania da China".
Quando foi anunciada uma possível viagem da segunda figura do Estado, os peritos norte-americanos acreditavam, na altura, que seria improvável que a China utilize a força para impedir a aterragem do avião dos EUA com Pelosi a bordo. Porém, as recentes declarações de Pequim provam o contrário. O Presidente Biden veio a público afirmar que a visita da líder do Congresso a Taiwan não seria boa ideia.
O Presidente Biden foi avisado pelo Presidente chinês para "não brincar com o fogo" em relação a Taiwan dias antes da viagem de Pelosi à Ásia.
"Aqueles que brincam com o fogo acabam por se queimar", disse o chefe de Estado chinês ao homólogo norte-americano no dia 28 de julho, citado pela agência noticiosa oficial chinesa Xinhua (Nova China).
A dois dias da viagem de Pelosi a Taiwan, Pequim promove um exercício militar com "munição real" no estreito da ilha.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês reforçou recentemente que a visita da alta funcionária irá prejudicar as relações entre os dois países. Zhao Lijian admite ainda que a China tomará "medidas fortes e resolutas (...) Quanto às medidas em concreto, esperem para ver, caso ela se atreva a realizar a visita".
Recorrer à força poderá fazer parte dessas medidas, já que o porta-voz indica que o "Exército de Libertação Popular jamais ficará de braços cruzados".
No dia da chegada de Pelosi a Taiwan, há uma ameaça de bomba no aeroporto internacional, aumentando o nível de segurança. A operadora do aeroporto, o maior de Taiwan, recebeu esta manhã uma ameaça que alertava para a colocação de três engenhos explosivos nas suas instalações, avançou a agência de notícias taiwanesa CNA.
As fontes militares citadas pela agência CNA de Taipé acrescentam que contratorpedeiros, fragatas e navios de telecomunicações do Exército Popular de Libertação (República Popular da China) foram avistados "nos últimos dias" ao largo da ilha de Lanyu pertencente a Taiwan.
Vários caças chineses estão a atravessar o estreito de Taiwan, anunciou a televisão da China, numa altura em que o avião que transportava a líder do Congresso norte-americano, Nancy Pelosi, estava em direção a Taipé.
Sirenes de defesa foram acionadas na região de Fujian, na China, momentos após a entrada de avião de Pelosi no espaço aéreo de Taiwan.
A POSIÇÃO DA RÚSSIA E PRIMEIRA REAÇÃO
A Rússia considera que seria uma provocação à China a eventual visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA a Taiwan. O Kremlin diz que a hipótese da visita está a agravar a situação e a aumentar as tensões e acusa ainda os EUA de escolherem o "caminho do confronto".
Trata-se de "uma provocação" com o objetivo de pressionar Pequim, disse Maria Zakharova esta terça-feira, porta-voz do ministério russo dos Negócios Estrangeiros.
"O Governo chinês é o único legítimo representante legal de toda a China, e Taiwan é uma parte inseparável da China", acrescentar a representante russa.
MINISTÉRIO DA DEFESA DE TAIWAN AUMENTA SEGURANÇA
O Ministério da Defesa de Taiwan terá aumentado a segurança militar durante os próximos quatro dias e avisou que iria enviar forças em reação a "ameaças inimigas". Numa declaração, a que o The Guardian recorreu, afirmou ter a "determinação, capacidade e confiança" para garantir a segurança nacional e já terá um plano para executar em caso de emergência.
NANCY PELOSI É A PRIMEIRA ALTA FUNCIONÁRIA DOS EUA A VISITAR TAIWAN DESDE 1997
Nancy Pelosi é a primeira política americana de mais alto nível a visitar Taiwan desde 1997.
Nancy Pelosi está na Ásia em visita oficial e, até agora, anunciou que a visita passará por países como Singapura – onde já se encontra -, Indonésia, Coreia do Sul, Malásia e Japão, sem nunca ter referido Taiwan.
A China reivindica soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província rebelde desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para lá, em 1949, depois de perder a guerra civil contra os comunistas.
Taiwan, com quem o país norte-americano não mantém relações oficiais, é uma das principais fontes de conflito entre a China e os EUA, principalmente porque Washington é o principal fornecedor de armas de Taiwan e seria o seu maior aliado militar em caso de conflito com o gigante asiático.