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50 anos do escândalo Watergate: Bernstein e Woodward revisitam o caso e comparam Nixon a Trump

Este caso levou à demissão do antigo Presidente norte-americano, Richard Nixon.

Há 50 anos rebentou nos Estados Unidos o escândalo Watergate, que levou à demissão do antigo presidente, Richard Nixon, em 1974.

Os jornalistas Carl Bernstein e Bob Woodward, cinco décadas após a publicação do primeiro artigo sobre o caso, revisitaram o escândalo e compararam Nixon a Trump, à luz da invasão ao capitólio a 6 de janeiro do ano passado.

“É muito importante entender a progressão da criminalidade de Richard Nixon para a criminalidade de Donald Trump. Ambos são Presidentes criminosos dos Estados Unidos. Mas Trump foi mais longe. Ele é o primeiro presidente sedicioso da nossa história. Ele decidiu que não cumpriria a eleição, a eleição livre e devidamente constituída de Joe Biden como Presidente dos Estados Unidos, e deu um golpe para impedir que Biden assumisse o cargo”, disse Woodward.

O inquérito da Câmara dos Representantes sobre o assalto do dia 6 de janeiro de 2021 no Capitólio dos Estados Unidos, em curso em Washington, coincide com o 50.º aniversário de Watergate desta semana, e por ambos os casos terem ainda aspetos por esclarecer.

Duas das questões que se colocaram há meio século ao ex-Presidente Richard Nixon e que se voltam a colocar agora a Donald Trump são: o que é que o Presidente sabia? e quando é que ele soube?

Enquanto Trump havia perdido a eleição e tentava recuperar o poder, Nixon estava num caminho confortável para a reeleição, mas enveredou pelo esforço de tentar destruir o processo de indicação de candidatos do Partido Democrata. E se Watergate foi um escândalo que derrubou um Presidente norte-americano, o 6 de janeiro derramou sangue.

Há 50 anos, no prédio de escritórios de Watergate, onde o Comité Nacional Democrata mantinha a sua sede, ocorreu um roubo. Em seguida, um encobrimento e, posteriormente, a queda de um chefe de Estado.

“Watergate” representará para sempre a corrupção política e a vergonha do republicano Nixon. Já em 6 de janeiro de 2021, milhares de apoiantes do republicano Donald Trump reuniram-se em Washington para tentar impedir a certificação eleitoral da vitória nas presidenciais de Joe Biden e cinco pessoas morreram. As imagens de uma multidão a invadir a sede do Congresso dos Estados Unidos chocaram o mundo.

Watergate teve ainda um poderoso rescaldo, levando os republicanos a serem expulsos do Congresso às dezenas em 1974. Desta vez, há quase unanimidade de que o partido não terá consequências.

Em comum há ainda os processos de investigação no Congresso do país, através da criação de Comités.

O comité de Watergate, composto por quatro democratas e três republicanos, foi formado após uma votação unânime no Senado, algo inédito em quase todas as questões de substância no país. O comité ficou responsável por investigar o caso Watergate e “todas as outras condutas ilegais, impróprias ou antiéticas” na campanha de 1972.

Já o comité da Câmara dos Representantes que investiga o ataque ao Capitólio norte-americano teve apenas dois republicanos a votar a favor – Liz Cheney e Adam Kinzinger -, que foram integrados nessa comissão.

Com o desenrolar da história, levanta-se outra questão: Daqui a 50 anos, o que dirão os norte-americanos, e o mundo, sobre o 6 de janeiro?

O historiador Michael Beschloss, em comentários na rede social Twitter, indicou que a resposta depende se os Estados Unidos forem uma democracia ou uma autocracia.

“Se for a última opção (autocracia), os líderes autoritários do país podem celebrar o 06 de janeiro como um dos grandes dias da história dos EUA”, como Trump tem feito até agora, disse Beschloss.

O historiador levantou ainda uma questão que pode nunca vir a ter resposta: “O que teria acontecido aos Estados Unidos se o golpe de 06 de janeiro tivesse sido bem sucedido?”

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