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SIC foi conhecer uma família ucraniana que se está a preparar para a guerra

Marta e Serhí Yúzkiv dizem estar prontos para lutar, mesmo que signifique deixarem os filhos sozinhos.

Iryna Shev

Em tempos incertos, as famílias ucranianas preparam-se para o que der e vier. Os enviados da SIC à Ucrânia, Iryna Shev e Rui do Ó, foram para os arredores de Kiev conhecer a história de Marta e Serhí Yúzkiv. O casal diz-se pronto para pegar nas armas e lutar, mesmo que isso signifique deixar os filhos sozinhos a tomar conta da casa.

A casa da família Yuzkiv fica a cerca de 30 quilómetros da capital. O espaço é partilhado com dois cães e 10 gatos com quem Marta e Serhí passam os dias úteis da semana.

Estão ambos em teletrabalho, por causa da pandemia. Quanto aos sábados, esses há muito que são passados fora do lar, em treinos militares.

“Temos uma guerra que dura há já oito anos. A Rússia está constantemente a movimentar forças armadas para a fronteira da Ucrânia e nós não vemos, de forma nenhuma, diminuição de tensão. E não é possível viver constantemente com o sentimento de medo porque é preciso fazer planos, é preciso continuar a viver, por isso decidi que não vou viver sob ocupação nem sair deste país, não quero nada disso. A única solução que existe é simplesmente lutar”, conta Marta.

A preparação

A luta é feita nas bases das Forças de Defesa Territorial da Ucrânia, uma organização que nasceu em 2014, depois da anexação da Crimeia pela Rússia.

Na família Yuzkiv, Marta foi a primeira a alistar-se, em abril do ano passado.

“Este é o principal equipamento que levamos para todos os treinos. É o material de proteção individual, capacete, colete antibalas. E, muito importante, um torniquete para estancar o sangue. Temos de nos habituar a ele. Proteção para os joelhos, sem a qual é muito complicado e a cartucheira onde se colocam outras bolsas e tudo o que poderá ser preciso para se ter as mãos livres”, mostra à SIC.

Estas estruturas militares de voluntários têm a função de complementar as forças armadas do país, em caso de agressão.

“A nossa arma é uma air soft, em termos de peso ela é mais ou menos igual à verdadeira. Ou seja, ela é muito prática para os treinos”, refere ainda Marta.

Filhos “conhecem técnicas de sobrevivência”

Serhí e Marta sabem exatamente o que têm de fazer, caso alguma coisa aconteça, mesmo que isso signifique deixar os filhos, dois rapazes, gémeos de 13 anos sozinhos:

“Os nossos filhos não vivem fora da realidade. Eles conhecem técnicas de sobrevivência, sabem como tomar conta de si próprios, sabem prestar os primeiros socorros e sobre aquilo que se passa no país (…). Estamos indecisos se os retiramos de Kiev ou se os deixamos ficar cá, e agora, estou mais voltada para a opção de que será mais seguro eles ficarem mais próximos de nós”.

Com confiança aparentemente inabalável, Marta mostra-nos a cave que poderá funcionar como bunker:

“A grossura aqui, no perímetro, é mais ou menos de 30 centímetros. Nós simplesmente construímos esta casa com muita vontade, nunca pensamos que isto pudesse ser usado como um bunker. Mas os tempos estão estranhos agora”.

Para a primavera, já se preparam as sementes para renovar o stock de batatas, tomates e pimentos.

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