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Regras secretas do Facebook permitem divulgação de imagens violentas

A política interna da empresa Facebook defende que nem todos os vídeos violentos publicados na rede social devem ser apagados porque "não quer censurar ou punir pessoas em perigo". A revelação é feita pelo jornal britânico The Guardian após uma investigação em que conseguiu ter acesso ao manual interno.

Dado Ruvic

Catarina Solano de Almeida

Perante os novos desafios que colocam publicações online com conteúdos violentos como a auto-mutilação, violência sexual, discursos de ódio, terrorismo ou racismo, os moderadores do Facebook vêem-se muitas vezes sobrecarregados com decisões que muitas vezes têm de ser tomadas em dez segundos.

Os Facebook Files

As regras internas a que o The Guardian teve acesso dão aos gestores da rede social linhas orientadoras para lidar com tais situações.

São perto de 100 documentos, folhas de cálculos e gráficos que revelam a tentativa do Facebook em manter-se um espaço sem censura ao mesmo tempo que quer banir imagens horríveis. Tais conteúdos serão removidos após denúncias dos utilizadores, o que significa que as "imagens horríveis" podem ser vistas por milhões antes de serem sinalizadas.

Mas as diretrizes parecem baralhar ainda mais os moderadores, revela o jornal. Responsáveis por esta tarefa confessaram que há distinções que não percebem e que têm imensa dificuldade em dar conta do excesso de trabalho.

O The Guardian sublinha algumas respostas a alguns dos problemas que se podem colocar:

- Observações como "Alguém que mate o Trump" devem ser apagadas porque um chefe de Estado está numa categoria protegida. Mas é permitido escrever "Para partir o pescoço à cabra, faz pressão no meio da garganta dela" ou "Desaparece e morre" porque não são encaradas como "ameaças reais e credíveis".

- Vídeos de mortes violentas, embora sejam consideradas perturbadoras, não têm de ser sempre apagadas porque são gritos por ajuda e podem servir para chamar a atenção para as doenças mentais.

- Algumas fotografias de violência que não seja sexual ou bullying de crianças não têm de ser apagadas ou "intervencionadas" a não ser que sejam sádicas.

- As fotografias que mostrem violência contra animais podem ser partilhadas. Algumas extremamente perturbadoras podem ser marcadas como "impressionantes".

- Vídeos de abortos são permitidos desde que não haja nudez.

- É permitida a divulgação em streaming de auto-mutilações porque o Facebook "não quer censurar ou punir pessoas em perigo".

- Utilizadores com mais de 100 mil seguidores na rede social são considerados figuras públicas - ficando sem as proteções atribuídas aos utilizadores privados.

"Preservar a segurança dos utilizadores do Facebook é o mais importante para nós", escreveu a responsável pela política global da rede social, Monika Bickert, em comunicado citado pelo The Guardian. "Trabalhamos arduamente para manter o Facebook tão seguro quanto possível ao mesmo tempo que promovemos a liberdade de expressão. Para que isto aconteça, é precisa uma reflexão sobre questões muitas vezes difíceis".

A responsável lembrou que a rede social tem quase 2 mil milhões de utilizadores e que é difícil chegar a um consenso sobre o que pode ou não ser publicado.

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