Mundo

Relatório aponta o Brasil como "mau exemplo" para a liberdade de imprensa

O Brasil, onde cinco jornalistas foram assassinados  em 2013, é apontado como um "mau exemplo" para a liberdade de imprensa pelos  Repórteres Sem Fronteiras, que indica Cabo Verde como o melhor dos países  lusófonos. 

© STRINGER Brazil / Reuters

Segundo o relatório anual da organização, o Brasil tornou-se no mais  mortífero país do hemisfério ocidental para a imprensa, lugar antes ocupado  pelo México. 

Os Repórteres sem Fronteiras (RFS) destacam que a cobertura diária dos  acontecimentos no Brasil "expõe os jornalistas a perigo físico" e colocou-os  entre os alvos da "repressão policial" dos protestos que se realizaram no  ano passado. 

As manifestações -- contra a subida dos preços dos transportes e os  gastos decorrentes da organização do Mundial de Futebol de 2014 e dos Jogos  Olímpicos de 2016 -- "levantaram questões sobre o modelo comunicacional  dominante e evidenciaram os métodos de terror ainda usados pela polícia  militar", sustenta o relatório. 

Nos protestos, "cerca de cem jornalistas foram vítimas de atos de violência,  mais de dois terços dos quais atribuídos à polícia", contabilizam os RSF.

O Brasil surge lado a lado com Estados Unidos como os "gigantes" que  dão "maus exemplos". A "potência emergente" teve "condições para desenvolver  uma ponderosa sociedade civil" durante os governos de Lula da Silva, mas,  "infelizmente", não "deu à liberdade de imprensa uma posição de destaque",  criticam. 

"O crime organizado e a sua infiltração no aparelho de Estado são um  obstáculo ao trabalho da comunicação social e, em particular, da investigação  jornalística", concretiza o relatório. 

O Brasil é também um país, tal como outros no continente americano,  onde "a posição dos jornalistas é muitas vezes enfraquecida pela (...) nefasta  subjugação da imprensa, especialmente a regional, aos centros de poder e  de influência política". 

Especificamente, "o fenómeno dos 'coronéis', políticos regionais que  são também homens de negócios e proprietários de órgãos de comunicação,  constitui um grande obstáculo ao pluralismo e à independência da informação",  considera a organização. 

Por tudo isto, o Brasil surge no 111. lugar no índice da liberdade  de imprensa (em 2013 estava em 108.) e, entre os países da comunidade lusófona,  está apenas acima de Angola (que ocupa o 124. lugar). 

Os RSF "condenam a contínua intimidação dos repórteres de investigação  pelas autoridades angolanas", mencionando o "exemplo mais recente" de três  jornalistas detidos "por entrevistarem um grupo de jovens manifestantes  antigoverno". 

A organização -- que em 2013 classificou o país em 130. lugar -- destaca  o caso de Rafael Marques, que "tem sido particularmente sujeito" a "perseguição"  desde que escreveu o livro "Diamantes de Sangue", sobre a zona diamantífera  de Angola.  

A atitude das autoridades angolanas "reflete o medo do Governo sobre  o que ele tem investigado", conclui o relatório, mencionando os processos  judiciais instaurados por nove generais angolanos contra Rafael Marques.

"A difamação continua a ser um crime punido com prisão em Angola", denuncia  a organização, sublinhando que as autoridades tentam "silenciar os jornalistas  que expõem a corrupção no Estado ou no setor privado". 

Os RSF expressam "apoio sem reservas" às organizações de direitos humanos  e instam o Governo a "respeitar" os jornalistas, que "informam o povo angolano".

No índice da liberdade de imprensa, Timor-Leste está na 77. posição  (em 2013 estava em 90.), Moçambique na 79. (descida de seis posições)  e Guiné-Bissau na 86. (subida de seis lugares). 

Cabo Verde é o melhor exemplo entre os países lusófonos, ocupando o  24. lugar (subiu um degrau), seis posições acima de Portugal (que desceu  dois lugares). 

Lusa

Últimas