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Papa Francisco "representa um desafio" só pelo nome

O atual Papa, Francisco, só pelo nome "representa uma desafio", afirma Adolfo Pérez Esquivel, que no prefácio à obra "A Lista de Bergoglio", de Nello Scavo, tem esperança que na Igreja Católica "entre luz".

Esquivel, que foi Prémio Nobel da Paz em 1980, referindo-se ao papa  argentino, afirma: "os desafios que o esperam são muitos e não sei se o  Espírito Santo terá advinhado; seja como for, esperamos que Francisco possa,  tal como o papa João XXIII, escancarar as portas e abrir as janelas para  sacudir as teias de aranha dos séculos passados, para que, finalmente, entre  a  luz". 

O autor do prefácio acredita na preocupação de Bergoglio "pelos mais  pobres" e no seu "empenhamento em reduzir o flagelo da pobreza". 

O Nobel da Paz, que lutou contra a ditadura dos generais na Argentina  (1976-1983), sublinha no texto o esforço de Bergoglio, eleito papa em fevereiro  último, "em favor do ecumenismo, em condições de igualdade para todas as  fés" e também pelos "problemas que afligem a mãe natureza". 

A obra "A Lista de Bergoglio" resulta de uma longa investigação do jornalista  italiano Nello Scavo sobre Jorge Bergoglio, face às acusações da "sua conivência  com os bárbaros que governaram a Argentina", segundo o autor. 

Esquivel, por seu turno, é claro: "Bergoglio contribuiu para ajudar  os perseguidos", mas "não participou, então, na luta em defesa dos Direitos  Humanos contra a ditadura militar". 

O jornalista atesta nas suas conclusões que o jesuíta Jorge Mario Bergoglio  ajudou de maneira clara os perseguidos pela ditadura argentina. 

"Encontrei documentos e testemunhos que excluem qualquer concluio com  o regime  1/8ditatorial 3/8; aliás, evidenciam de maneira clara a sua ajuda aos  perseguidos pela Junta Militar", refere. 

O jornalista do Avvenire afirma que estas suas conclusões são corroboradas  por "vozes acima de qualquer suspeita", desde Adolfo Pérez Esquivel, a Germán  Castelli, o presidente do tribunal que indagou sobre os crimes da ditadura  ou ainda "organizações notoriamente rigorosas e alheias a simpatias 'católicas'como  a Amnistia Internacional". 

Esta obra é tema da intervenção, hoje à tarde, do patriarca de Lisboa,  Manuel Clemente, na conferência de encerramento do Ano de Fé, intitulada  "Uma Esperança sem fronteiras" e que se realiza na Universidade Católica,  em Lisboa. 

Esta intervenção é seguida de um debate sobre "O papa Francisco, a   Fé e os Direitos Humanos", com a participação de Nello Scavo e também do  padre José Tolentino de Mendonça e de Eliete Duarte, da editora Paulinas.

A obra de Scavo divide-se em três partes,"o porquê de um inquérito",  "Bergoglio's list. As histórias" e "as respostas encontradas", e ainda,  em apêndice, "o interrogatório ao cardeal Bergoglio", em novembro de 2010,  diante Tribunal Oral Federal, em Buenos Aires, assim como uma cronologia.

A lista de Bergoglio são as pessoas que o jesuíta acudiu, abrindo com  o testemunho do uruguaio Gonzalo Mosca, que encontrou ajuda, fugido da ditadura  de Montevidéu, como outros do "tacão dos generais" argentinos. 

Bergoglio, como escreve Scavo, agiu "na sombra, correndo riscos e perigos  pessoais e da sua Ordem religiosa, para salvar, esconder, proteger e fazer  expatriar muitos, pessoas que, pelas mais diversas razões, foram perseguidas  pelo regime que imperou violentamente" na Argentina. 

Todavia, esta ação não é "apregoada aos quatro ventos" porque Jorge  Bergoglio "parece ter incarnado plenamente aquela frase evangélica de Mateus,  quando Jesus fala do dever da esmola,  'Que a tua mão esquerda não saiba  o que faz a tua direita'. 

"Em suma, seria melhor o silêncio sobre os seus próprios méritos, do  que ser acusado de autopromover-se à custa de terceiros", atesta Scavo.

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