TAP: o futuro e as polémicas

Privatização, despedimentos, reestruturação e nova venda: uma década de turbulência e mudanças na TAP

Para trás fica uma década conturbada para a TAP, privatizada em 2015 e recuperada pelo Estado meses depois.

Sofia Cordeiro Coelho

A TAP passou por uma comissão parlamentar de inquérito e pelos efeitos da pandemia, que levaram à saída de mais de mil trabalhadores.

A primeira vez que se ouviu falar da privatização da TAP foi ainda na década de 90, quando o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, aprovou a transformação do grupo em sociedade anónima.

Só seis anos depois, em 1997, e já com governo socialista de António Guterres foi anunciada pela primeira vez a venda de 49% da empresa.

Mas o negócio acabou por não se concretizar por dificuldades financeiras do comprador.

Em 2006, já com José Sócrates, a TAP é colocada na lista de privatizações a concluir até ao final do ano seguinte, mas acabou por se arrastar e depois de prejuízos históricos, em 2009, de quase 300 milhões de euros a venda foi oficialmente adiada.

A empresa volta a ser colocada na lista de privatizações, em 2011, com a chegada da troika a Portugal.

Chegou a haver uma proposta de compra, que acabou rejeitada.

Os anos seguintes não foram fáceis, com greves dos pilotos a ameaçar a operação e novos aviões que demoraram a chegar.

Só em 2015, já com o dinheiro contado, sem acesso aos bancos, dívidas e despesas por pagar se dá finalmente a privatização.

O consórcio de David Neeleman e Humberto Pedrosa pagaram 10 milhões de euros por 61% do capital. Sem público a assistir nem jornalistas a fazer perguntas. Os documentos foram assinados à porta fechada, pouco antes da 00:00, por um Governo que já tinha sido empurrado para fora do poder.

Dois meses depois, o Estado recupera a TAP. O Executivo de António Costa pagou quase 2 milhões de euros para ficar com 50% do capital. A gestão ficou do lado dos privados.

Em 2020, a pandemia deixou os aviões em terra e tornam-se evidentes os problemas na TAP.

A relação entre os acionistas privados e o Governo era difícil. Neeleman acabou por sair da empresa pouco depois, com uma indemnização de 55 milhões de euros.

No ano seguinte, arranca o processo de reestruturação da companhia aérea, que levou à saída de 1.500 trabalhadores. O Estado teve de injetar na empresa mais de 3 mil milhões de euros.

A intenção de reprivatizar surge com o segundo governo de António Costa.

O Presidente da República levantou dúvidas sobre o decreto-lei e o Governo depois caiu.

O dossier foi recuperado por Luís Montenegro. O novo primeiro-ministro deixou claro que não queria vende mais de 50%, também para evitar um novo veto de Belém

Desde essa altura que se têm apresentado como potenciais compradores: a Air France KLM, a Lufthansa e o grupo dono da British Airways e Iberia.

Já estiveram até representantes em Portugal para deixar ainda mais evidente esse interesse. Aguardavam que o governo arrancasse com o processo.

Últimas