Na reunião secreta entre o PS e a ex-CEO da TAP, em janeiro, foram combinadas as perguntas que o deputado Carlos Pereira devia fazer e as respostas que Christine Ourmières-Widener devia dar na audição no Parlamento. A SIC teve acesso a documentos que mostram que, afinal, tudo foi combinado. A divulgação destas informações confidenciais em órgãos de comunicação social foi considerada pelo PS e pelo presidente da comissão de inquérito à TAP um “ataque ao coração da democracia”. O jornalista Filipe Alves, diretor do Jornal Económico, considera que este não será caso único.
“As comissões de inquérito têm de ser repensadas porque têm servido pouco para apurar a verdade. Têm servido para construir narrativas que interessam aos partidos políticos”, diz Filipe Alves, salientando que as perguntas e respostas combinadas que agora vieram a público “não será o único caso”.
A divulgação destas informações mostra também “mais uma vez, as contradições entre aquilo que o Governo tem dito e outros factos que vêm a lume”.
“Contribui ainda mais para a imagem que já existe na opinião pública de que este Governo tem algum problema com a verdade e mina a credibilidade das instituições”.
PS classifica como “crime grave” e o que isso significa para os media
O PS exigiu esta sexta-feira consequências para a revelação de documentos confidenciais, salientando que constitui um “crime grave” contra o interesse público e do Estado e é um “ataque ao coração da democracia, evitando falar do conteúdo.
“Estão obviamente a tentar desvalorizar o incidente e a desviar a atenção doutros factos que têm acontecido e, esses sim, são um ataque à democracia. Quando tens um Governo que não presta a informação toda em tempo útil à comissão, quando tenta inventar desculpas, quando permitiu que durante uma semana se falasse num parecer e afinal o parecer não existe…", enumera Filipe Alves.
Depois de enumerar algumas das questões mais recentes, o jornalista alerta para as consequências da utilização da palavra “crime”.
“Há aqui uma grande trapalhada. (…) que há um problema com a verdade há, que há um problema com a comunicação social, há”.
“Imagino que já estão com a ideia de ir atrás dos jornalistas, mais uma vez, e isto é típico de maiorias desgastadas e em fim de ciclo”
“Põe em causa, mais uma vez, o ministro João Galamba”
Nas mensagens WhatsApp a que a SIC teve acesso, trocadas entre o ministro João Galamba e o seu adjunto, Frederico Pinheiro, fica provado que Galamba autorizou, dois dias antes da audição no Parlamento, que Christine Ourmiéres-Widener participasse numa reunião secreta onde estava o deputado socialista Carlos Pereira e assessores de Governo. Foi nessa reunião que foram combinadas as perguntas e as respostas para a audição do dia seguinte.