As entrevistas dadas por Bento XVI e Francisco e o filme lançado após a abdicação que abalou a Igreja Católica, intitulado "Dois Papas", foram suficientes para suportar uma ideia de amizade entre estas duas figuras. No entanto, um livro que será publicado no dia 12 de janeiro vai derrubar essa imagem. O assistente de longa data de Bento XVI revela as tensões entre os dois Papas num livro de memórias que promete ser altamente crítico.
O Papa emérito Bento XVI foi enterrado na semana passada e, horas após o funeral, uma editora italiana enviou a algumas redações a cópia do livro escrito pelo arcebispo alemão, Gerog Ganswein, segundo a Reuters.
Ganswein terá prometido a Bento XVI que iria publicar o livro de memórias após a sua morte, embora não esteja claro se o Papa emérito chegou a dar essa bênção ou se leu o manuscrito.
"Nada mais que a verdade - A minha vida do lado de Bento XVI" vai “mostrar, por fim, a verdadeira face de um dos maiores protagonistas das últimas décadas, que muitas vezes foi injustamente difamado pelas críticas”, indica a editora italiana.
O braço direito de Bento XVI transmite uma visão privilegiada da eleição do Papa em 2005, da sua decisão de renunciar, a sua doença e as últimas horas de vida.
DESENTENDIMENTOS ENTRE BENTO XVI E FRANCISCO
O livro de Ganswein inclui detalhes sobre alegados desentendimentos do Papa emérito com o sucessor sobre vários temas. Francisco é descrito como um Papa liberal, enquanto Bento XVI é apontado como conservador. Portanto, as tensões entre as duas figuras da Igreja não surpreendem.
Nas suas reformas iniciais, o Papa Francisco incluiu a repressão da missa em latim, o que na ótica de Bento XVI foi um “erro”. Ganswein admite que o Papa emérito ficou “perplexo” com o alcance de Francisco aos católicos divorciados e casados no civil.
As declarações públicas do atual chefe da Igreja Católica sobre questões sociais como o aborto e a homossexualidade geraram críticas por parte de Bento XVI.
Após a saída de Bento XVI, muitos conservadores católicos acompanharam-no por não se identificarem com as posições do atual Papa.
A DEMISSÃO DE GANSWEIN
Secretário pessoal de Bento XVI desde 2003, quando o Papa emérito ainda era cardeal Ratzinger, Ganswein permaneceu ao seu lado até à morte. Porém, houve um período em que Gerog serviu os dois Papas, exercendo também a função de prefeito da Casa Pontifícia.
Contudo, nunca foi capaz de alcançar a confiança de Francisco e acabou por ser demitido em 2020, na sequência de um escândalo a propósito de um livro sobre o celibato sacerdotal, originalmente com a coautoria de Bento XVI.
Fontes oficiais do Vaticano disseram que o Papa Francisco não estava satisfeito com o episódio e afastou o arcebispo do seu cargo como prefeito, dizendo simplesmente "não voltes ao trabalho amanhã".
Gaenswein diz que ficou "chocado e sem palavras" com uma série de decisões que Francisco tomou para se desfazer do legado de Bento XVI.
PAPA FRANCISCO RECEBEU SECRETÁRIO DE BENTO XVI
O Papa Francisco recebeu na segunda-feira o arcebispo Georg, secretário pessoal de Bento XVI. Todavia, a Santa Sé não deu detalhes sobre o encontro com o arcebispo alemão.