Operação Marquês

Sócrates 'atira-se' ao Ministério Público e volta a rejeitar acusações de suborno

O ex-primeiro-ministro manteve uma postura crítica e combativa, negando as acusações e questionando a legitimidade do processo. Foram abordados temas como a adjudicação do TGV, negócios na Venezuela e a relação com Carlos Santos Silva.

Pedro Coelho

Diogo Torres

Margarida Bento Campos

No último dia de sessões antes das férias judiciais, José Sócrates voltou a responder às acusações do Ministério Público, que o implicam em alegados subornos do grupo Lena.

O ex-primeiro-ministro reiterou que a acusação é “absurda”, foi novamente advertido pela juíza pelo tom utilizado, mas manteve a postura crítica, chegando a acusar os procuradores de o tratarem “como se estivesse possuído pelo demónio”.

O grupo empresarial Lena, sediado em Leiria e próximo de Carlos Santos Silva, amigo de longa data de Sócrates, esteve no centro da audiência. O Ministério Público apresentou uma lista de alegados pagamentos ilícitos que, segundo a acusação, foram feitos ao antigo chefe de Governo.

Usando o registo combativo que o tem caracterizado ao longo do processo, Sócrates procurou desmontar ponto por ponto os argumentos dos procuradores. Um dos temas abordados foi a adjudicação do primeiro troço do TGV, entregue a um consórcio do qual fazia parte o grupo Lena.

A acusação sustenta que, apesar da obra nunca ter avançado, o contrato previa uma cláusula que garantia uma indemnização milionária ao consórcio, e que essa cláusula teria sido inserida por influência direta de Sócrates.

Em resposta, o ex-governante procurou demonstrar aquilo que considera ser a fragilidade da acusação, chegando a citar um procurador da antiga União Soviética para ironizar o processo.

Santos Silva, Chávez e Venezuela

O Ministério Público levou ainda a sessão para fora do território nacional, focando-se na construção de milhares de habitações na Venezuela, atribuída ao grupo Lena. A acusação sugere que o negócio foi negociado diretamente entre José Sócrates e o então presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Na reta final da audiência, os procuradores fizeram uma série de perguntas de natureza mais pessoal, o que motivou protestos da defesa. A juíza, no entanto, permitiu a linha de interrogatório.

Entre os temas abordados esteve a relação pessoal com Carlos Santos Silva, que Sócrates confirmou e situou no tempo, bem como a fonte de financiamento do seu estilo de vida após deixar o Governo, nomeadamente durante o período que passou em Paris.

Ao longo de toda a sessão, José Sócrates falou de pé, recusando sentar-se, apesar das várias sugestões da juíza.

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