MEO Kalorama

"Nada vai para o lixo": voluntários da Refood fecham as portas do MEO Kalorama

Longe dos holofotes e quando as portas se fecham, eles entram em ação. São voluntários por uma causa maior: oferecer comida a quem mais necessita. Depois da estreia em 2022, este ano voltaram a marcar presença, na 2.ª edição do MEO Kalorama, para garantir que o desperdício não é… desperdiçado.

Ana Lemos

Quando a festa acaba são os voluntários da Refood quem sobe ao palco. Este ano, o segundo consecutivo, foram parceiros do festival MEO Kalorama. O objetivo é que o desperdício alimentar tenha um destino que não o lixo. Balanços? Só no final da festa.

Em entrevista à SIC Notícias, Luís Moura, o voluntário responsável pelos eventos da Refood, explicou com funciona a operação de recolha num evento da dimensão do Kalorama, sublinhando desde logo as mudanças “para melhor”.

Como funciona a recolha de comida no terreno, no recinto de um festival? “A nossa operação é diariamente a mesma, [primeiro a] recolha nos refeitórios na parte de produção e dos artistas e, ao fim da noite, a recolha nos concessionários de toda a comida que já está feita e que, em vez de ir para o lixo, é distribuída por famílias carenciadas”.

No caso do MEO Kalorama, há três recolhas diárias: a primeira ao almoço, na produção, outra durante a tarde, também na produção, e depois quando o festival termina nas barraquinhas de comida dispersas pelo recinto.

“Neste tipo de eventos, desta dimensão, temos entre oito a dez voluntários por dia, [mas] não são sempre o mesmos, vão rodando”, disse Luís Moura.

A presença da Refood em festivais não é inédita, mas há sempre uma “expectativa grande”, que nem sempre se concretiza: "[Acreditamos que] vamos recolher muita comida e depois não é assim. Foi o que aconteceu este ano, no primeiro dia houve pouco desperdício, recolheu-se muito pouco”.

“Para nós pode ser um pouco dececionante, e ao mesmo tempo é ótimo, é sinal que não se está a desperdiçar comida. [Aliás], este ano acho que se está a recolher um pouco menos porque se está a desperdiçar menos, e isso é bom”, afirmou, mas prognósticos só no fim da festa, “normalmente é no último dia que sobram mais coisas, às vezes é uma loucura”.

As contas às refeições recolhidas ainda não podem ser feitas, mas o destino, esse está definido: “famílias carenciadas”.

Ou seja, a comida que sai do festival é “canalizada para uma central e depois distribuída por diferentes núcleos para os beneficiários habituais” da Refood, que conta com 64 núcleos no país, cerca de metade na região da Grande Lisboa.

E, se a comida não chegar em condições? “Fazemos o rastreio antes de ser embalada e entregue, se não estiver em condições nem para os animais vai. Agora se estiver seca, por exemplo, pomos à parte e sim, distribuímos por animais. Certo é que “nada vai para o lixo”.

Estando num festival, e tendo de esperar pelo fim dos concertos e fecho de portas para entrar em ação, há tempo para desfrutar dos concertos? Há alturas ao longo do dia ”muito absorventes e cansativas”, nomeadamente o “fim do dia quando todos vão para casa, nós começamos a trabalhar” em tempo de festivais de verão e ao longo do ano.

“Somos 100% voluntários, todos temos as nossas profissões e, às vezes, às duas da manhã, quando [o festival acaba e] nos apetecia ir para a cama é quando começamos a trabalhar” mas, reconhece, também há outros momentos, mais tranquilos, “em que aproveitamos para falar com pessoas, dar a conhecer a Refood, explicar o que fazemos, cativar parceiros, voluntários, e ao mesmo tempo usufruir um bocadinho dos espetáculos”.

Um “prémio”, concluiu Luís Moura, para estes voluntários que durante os três dias do MEO Kalorama estiveram no terreno por uma causa maior.

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