Há um tema de conversa incontornável no início de mais um treino da equipa de cadetes porque, para estes jovens ciclistas, o final de tarde desta quinta-feira não foi passado a pedalar, mas sim em frente à televisão.
“Um orgulho porque ver um atleta que era da nossa equipa a fazer um segundo lugar foi incrível”, conta Simão Trancoso, ciclista GD Santa Marta Portuzelo.
Foi no grupo desportivo do centro paroquial de Santa Marta de Portuzelo, em Viana do Castelo, que Iúri Leitão começou a competir. Chegou com 6 anos e nunca mais largou as bicicletas.
“Desde pequeno ele tentava reconhecer os erros e melhorá-los e a partir de certo momento na carreira dele eu acho que os Jogos Olímpico foram um objetivo, a medalha, secretamente se calhar também era um objetivo, eu acreditava que ele não ia descansar até alcançar isso como agora acredito que ele não vai descansar até conquistar o ouro”, recorda Vítor Pedreira, primeiro treinador de Iúri Leitão.
António Antunes, diretor deste grupo desportivo, também treinou o ciclista e não consegue esconder a emoção ao falar do momento em que o atleta recebeu a medalha de prata.
“Ver um menino que cresceu aqui, vê-lo a brilhar ao mais alto nível para nós é um orgulho imenso. Ver o miúdo a ter esta felicidade e a conquistar algo que nós nunca tínhamos conquistado”, conta, emocionado, António Antunes, diretor do GD Santa Marta de Portuzelo.
Há cerca de 10 anos, Iúri deixou de vestir a camisola, mas manteve sempre a ligação, quer ao grupo desportivo, quer à terra natal. E na taberna do Necas há um prato de leite creme especial à espera de cliente. É ali, na cozinha, que trabalha a mãe da namorada do ciclista.
“É um genro que eu sonho ter e o filho que eu nunca tive. (…) Ainda não falei com ele, vou falar logo, achei que ele ontem estava muito exausto, que devia estar muito eufórico, mas hoje vou falar com ele. (…) Já falei com a minha filha, estava muito feliz, chorou muito”, diz Maria José Ribeiro, mãe da namorada de Iúri.
Oficialmente, Iúri só passa a genro no próximo ano, mas a futura sogra, cozinheira, já sabe as restrições alimentares a que está sujeito um atleta de alta competição
“Bolos que tenham cobertura, chocolates e cremes ele gosta e também não come e comida…um bom bacalhau com natas e essas coisas ele também não come. Ele priva-se dessas coisas todas. É mais as saladas, as comidas mais leves”, enumera Maria José Ribeiro.
A ementa de Iúri Leitão vai certamente voltar a ser menos rigorosa, mas só depois da prova de Madison marcada para este sábado, a última em que participa nestes Jogos Olímpicos.