A curta visita do Papa Francisco ao santuário de Fátima ficou marcada pela emoção dos fiéis. Alguns passaram a noite no recinto para guardar lugar, porém a lotação do recinto ficou muito aquém das expectativas.
À medida que se aproxima a hora de chegar o Papa Francisco, os fiéis começaram a aproximar-se dos gradeamentos que delimitam a via destinada ao papamóvel. A luta por um bom lugar leva a uma troca de comentários e alguns empurrões entre fiéis, mas há quem tenha já estratagemas para ter uma vista privilegiada.
Abílio Oliveira, de 73 anos, é de Fátima e está habituado a estes cenários. Quando o Papa vem ao santuário, fecha a loja de recordações que tem e faz-se peregrino. De escadote debaixo do braço, percorre o recinto em busca de um bom lugar.
“Zaqueu também subiu à árvore para ver Jesus passar, eu trouxe um escadote”, conta. “Costumo trazer outro para oferecer a alguém, mas, como vim a pé, só consegui trazer um.”
O escadote não terá causado surpresa aos militares da GNR que revistam os peregrinos à entrada do santuário. Abílio Oliveira garante que ninguém lhe disse nada. Do alto do escadote, abana uma bandeira do Vaticano, que encontrou no lixo perto dos Valinhos: “Nossa Senhora dos Valinhos deu-me esta bandeira”, conta com um sorriso.
Enquanto o Papa não chega, os peregrinos vão-se acomodando. “Aqui, se calhar, é um sítio melhor”, ouve-se um homem dizer à família. A proximidade é crucial para quem vem de longe, como é o caso de uma mulher de Barcelos que quer sentir “o cheiro da santidade”, supostamente emanado pelo Papa.
Nem todos os peregrinos procuravam estar perto dos gradeamentos. Junto ao ecrã juntou-se um aglomerado de pessoas, que aproveitava o muro para descansar. Com terços na mão, preparavam-se para o grande momento do dia.
Apesar das expectativas, o recinto não chegou a encher. No total, estariam no recinto cerca de 200 mil pessoas - dados oficiais divulgados pela organização -, longe das 500 mil esperadas para este dia.
O aplauso e as lágrimas à passagem de Francisco
Perto das 08:30, o helicóptero onde o Sumo Pontífice viajava sobrevoou o santuário. O momento provocou uma onda de alegria entre fiéis, que bateram palmas e acenaram à aeronave. Estava cada vez mais perto o momento por que todos esperavam: a passagem do papamóvel com Francisco.
O percurso, desde o heliporto até ao santuário, era acompanhado com atenção no ecrã gigante, montado no recinto para transmitir a cerimónia. As imagens mostravam os fiéis de um lado e de outro da via, acenando, abanando bandeiras e emocionando-se ao ver o Papa a passar.
No santuário, as lágrimas caíam pela cara de alguns dos peregrinos que ansiavam por ver o Sumo Pontífice passar. Maria Adelina Batista e José Marto, ambos de 59 anos, choram abraçados, depois de terem visto Francisco a poucos metros de distância.
“É uma emoção muito grande, nem há palavras para descrever”, confessam.
Maria de Fátima Frade, de 80 anos, também se emocionou com o momento. É a primeira vez que o vê sem ser na televisão, o que, sublinha, “é muito diferente”.
“Ao perto é muito melhor. Senti tudo de bom, emocionei-me e gostei muito de o ver. Abençoado seja o dia em que pude cá vir”, afirma, acrescentando que veio de propósito de Vagos.
As crianças são as únicas que se aproximam de Francisco, durante o percurso pelo santuário. Em várias paragens, o Papa abençoa os que se aproximam do papamóvel. Rosa Tavares, de 6 anos, pediu à mãe para ir também e acabou por dar-lhe um abraço.
“Fiquei contente. Dei-lhe um abraço e ele deu-me um de volta”, diz Rosa, escondendo a cara com alguma vergonha.
Para Teresa Mota Ribeiro, mãe dos gémeos Rosa e Tiago e também de Graça, com três anos, o momento é “indescritível”.
“Ela é a mais tímida, não esperava isto dela”, comenta. “Alguns miúdos começaram a aparecer e ela disse que também queria ir. Como estava sentada na grade, baixei-a e ela foi ter como Santo Padre. Os seguranças não a impediram.”
Quando o papamóvel retoma caminho, Francisco acena aos fiéis que erguem os telemóveis para captar o momento “único” e criar memórias para a posteridade.
Ao contrário do evento de Lisboa, a maioria dos peregrinos no santuário de Fátima são portugueses. Mas há também jovens que fizeram um desvio da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) para rezarem o terço com o Sumo Pontífice.
Pedro Riesgo e Ignacio Martin, ambos com 17 anos, estão no santuário com o padre Antonio Vargas-Machuca. Vêm das Astúrias, em Espanha, para participar na JMJ. Vieram em busca da “alegria, emoção e felicidade” de ver o Papa de perto.
“Gostamos sempre de vir a Fátima”, confessam, acrescentando que da parte da tarde partem de volta para Lisboa, onde vão participar na vigília.
A igreja “de porta aberta” para “todos, todos, todos”
Depois de ter sido recitado o terço com jovens com deficiência, o Papa Francisco dirigiu-se aos fiéis repetindo o mote que tem marcado a JMJ: “A igreja não tem portas, para que todos possam entrar”, disse, comparando a instituição com a Capelinha das Aparições.
Para a família de Linda Sawa, iraquiana e católica a viver em Londres, estar no santuário, como o Papa, é como “sentir o espírito santo” à sua volta. Trouxe ao santuário os três filhos e um bandeira gigante.
“Tenho muito orgulho em ser católica no Iraque. Somos abençoados”, conta.
As bandeiras de diferentes países pintam o santuário - da China a Espanha e também Moçambique. Mas nem todos são jovens peregrinos da JMJ. Ivone Custódio, por exemplo, é moçambicana e aproveitou as férias em Portugal para vir ver o Papa. É a segunda vez que o vê, mas o sentimento continua a ser “indescritível”, “único” e “emocionante”.
“Chorei tanto quando o vi a passar”, conta a mulher de 58 anos, acrescentando que irá rezar o terço pelos filhos.
No final da celebração, o Papa cumprimentou pessoalmente um grupo de jovens com deficiência, que participaram no recitar do terço - um momento que causou emoção e alegria.
De volta ao papamóvel, seguiu viagem em direção ao heliporto para regressar a Lisboa, onde vai presidir à vigília, pelas 20:45, e, no domingo, à missa do envio. Os fiéis começaram a abandonar o recinto, deixando espaço para uma pomba branca caminhar entre os peregrinos