Jornada Mundial da Juventude

"Pôr dons ao serviço": jovens de 21 países vão cantar e dançar para Papa e peregrinos

A Jornada está a chegar e mais nervosos que os peregrinos que anseiam estar com o Papa, estão os 50 jovens e equipa artística portuguesa que os coordena que terão de atuar perante milhões de pessoas que irão assistir às cerimónias. Para a direção artística, o importante é que a felicidade jovial do Ensemble23 seja contagiante e que a arte transmita o transcendente.

JMJ Lisboa 2023

Maria Madalena Freire

Meia centena de jovens de mais de 20 países vão ser a cara dos milhares de peregrinos do mundo em cima do palco, onde vão cantar, dançar e atuar perante o Papa e os espectadores que, entre os momentos solenes, vão entreter, rezar, personificar o que os une: a história de Jesus, Maria e a fé.

“Cantar é rezar duas vezes”, diz-se entre os católicos e, por isso, cantar, dançar e representar deve multiplicar ainda mais as contas do terço.

É isso que o Ensemble23, nome escolhido para o grupo de artistas voluntários que farão parte do elenco oficial dos Eventos Centrais, pretende trazer àJornada Mundial da Juventude em Lisboa.

50 jovens de 21 países diferenteschegaram a Portugal a meio de junho, com residência artística, para ensaiarem praticamente todos os dias e participarem nos três eventos artísticos centrais da JMJ.

Segundo a diretora artística dessas atuações, Matilde Trocado, que faz tripla com Isabel Maria Mónica e Peu Madureira, não haverá um musical para o Papa, mas diferentes maneiras de expressar a narrativa bíblica.

Os eventos centrais da JMJ Lisboa são a Missa de Abertura, o Acolhimento, que será o primeiro encontro entre os jovens e o Papa Francisco, a Via-Sacra, uma experiência “imersiva” dos passos de Jesus, a Vigília e a Missa de Envio.

“O evento mais festivo, a “welcoming ceremony”, é mais nesse registo. A Via Sacra é diferente, do ponto de vista performativo, como a Vigília, antes da Adoração, sendo que o arranque do evento é com o Ensemble 23 e pode ser uma espécie de bailado, com narrativa”, explica a dramaturga Matilde Trocado.

O sentimento geral é de entusiasmo e a sala de ensaio enche-se de diversidade, multiculturalidade e genuinidade de acordo com Trocado. As pontas do mundo unem-se nos ensaios, desde a Austrália, a Portugal, a Porto Rico com “laços muito fortes”.

“Os membros do elenco não são profissionais, quisemos contar com jovens reais, os mesmos jovens que fazem parte da Igreja, que com ela colaboram. O Ensemble23 é um bom exemplo de como há muitos jovens comprometidos com Jesus, pondo os seus dons ao serviço", conta Isabel Maria Mónica.

Ao contrário de todas as outras Jornadas, a direção artística da JMJ Lisboa fez castings a jovens do mundo inteiro para transmitir esse sentimento “cru e genuíno”.

A Mensagem

Não são profissionais, mas têm uma mensagem a transmitir e, tanto Matilde, como Isabel, ajudam a expressar a fé através da arte.

“O caminho artístico é muito espiritual, não são separados, o meu ímpeto artístico está ligado ao meu ímpeto espiritual. Andam de braços dados. Aproximo-me de Deus na sala de ensaio, através da linguagem artística”, explica Trocado.

Para Isabel, a arte visual e sonora, a música, vai ser uma “peça essencial” para conseguir transmitir a mensagem necessária.

“Temos a intenção de que quem viva a Jornada, mais de perto ou de longe, que possa ter a vida mudada, com mais esperança. Num tempo com tantas más notícias e falta de ânimo, queremos mostrar uma proposta - não de facilitismo, nem de soluções fáceis, mas que implique o cuidado do outro, o sairmos de nós mesmos, o "desumbigarmos”, detalha Isabel.

Esperança e generosidade é a missão, que a direção artística encara com “grande responsabilidade”. Mas tal como diz o tema da JMJ, “Maria saiu apressadamente”, também estes jovens e a direção querem mostrar que é importante, na fé, sair-se de si próprio.

“Em contraste com a espiral que nos encontramos, que é mais confortável não ter de lidar com ninguém, a figura de Jesus e Maria inspira-nos a sair do nosso conforto e olhar para fora, para o outro”, exemplifica Isabel.

Para Matilde Trocado o objetivo é aproximar os peregrinos - e a si mesmos - do transcendente e para a diretora artística é através da música que esse caminho pode ser feito.

Isabel complementa a ideia e refere que tentam apenas “expressar aquilo que com as palavras não é possível e pode ser acolhido com a sensibilidade de cada pessoa, adaptado a si”.

“Pegamos nesta mensagem que nos move e só dá para transmiti-la melhor fazendo recurso da arte, porque comove e toca na vida das pessoas”, conclui.

E agora, com os últimos ensaios a serem concretizados, a expectativa dos jovens é muita esperança, mas tal como refere Matilde, “ninguém sabe a dimensão que aqueles dias terão”.

Para muitos, já só estar presente é uma vitória, como conta a diretora artística que dá o exemplo de um jovem da Nigéria em que para as pessoas do seu país e família só estarem presentes é importante.

A expectativa é incerta. Sabe-se da resistência de algumas pessoas noutros países no que diz respeito ao evento católico, como no Panamá em que os taxistas iam fazer greve nessa semana da Jornada e, nos dias da Jornada, contagiados pela alegria dos jovens, chegaram a oferecer boleias grátis “para trás e para a frente”.

O importante para Matilde é que “a alegria que os jovens trazem possa ser contagiante para todos”.

Ensemble é uma palavra francesa que significa “juntos” ou “conjunto”. E será esse o propósito do grupo diverso: mostrar que juntos, na fé, são um só, iguais.


“Há pressa no ar”

Aqui fica um dos exemplos musicais que vai contribuir para agregar todos os países do mundo presentes na Jornada - sendo que, conforme o Bispo Amério Aguiar, só falta um para estarem todos representados.

O Hino da JMJ 2023 “desenvolve-se em torno do ‘sim’ de Maria e da sua pressa para ir ao encontro da prima Isabel, como relata a passagem bíblica".

O tema foi escrito por João Paulo Vaz, sacerdote, e com música de Pedro Ferreira, professor e músico, ambos da diocese de Coimbra.

A música tem uma versão portuguesa e internacional, que agrega mais de cinco línguas, incluindo uma versão em linguagem gestual.

Últimas