Jornada Mundial da Juventude

JMJ: “A mais bela invenção de João Paulo II” é há 37 anos um “laboratório de fé”

O Papa que agora é santo rejeitou sempre a ideia de ser o criador da JMJ, apontando aos jovens esse papel desde que foram ao seu encontro em Roma, nos anos 80. Passos seguidos por Francisco, até Lisboa.

João Paulo II, o Papa responsável pela criação da Jornada Mundial da Juventude, reza com alguns jovens no primeiro dia da edição de Paris, França, a 21 de agosto de 1997
JEROME DELAY/AP

Cláudia Machado

João Paulo II (1920-2005) nunca quis os créditos, mas até hoje a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é conhecida como a sua “mais bela invenção”. Em vez disso, o Papa - que se tornou santo em abril de 2014 - sempre fez questão de atribuir aos próprios jovens toda a responsabilidade pela criação de um “laboratório de fé”, que os leva a encontrarem-se pelo mundo há 37 anos.

A ideia desta festa internacional foi, na sua essência, amadurecendo em Roma. No Vaticano, corria o ano de 1984, João Paulo II quis organizar um encontro de Domingo de Ramos. Esperava 60 mil jovens e acabou a receber, de braços abertos, 250 mil peregrinos de vários cantos do mundo, recorda a Fundação da JMJ de Lisboa, cidade que acolhe a 16.ª edição internacional do evento.

No ano seguinte, o momento repetiu-se, dessa vez com 300 mil jovens fiéis a celebrarem esse encontro com o Papa na praça de São Pedro. João Paulo II entendeu a 20 de dezembro, ainda em 1985, anunciar a instituição da Jornada Mundial da Juventude. A primeira edição oficial - e, de alguma forma, mais formal - teve lugar poucos meses depois, em março de 1986, ainda em Roma.

A partir daí, João Paulo II fez-se à estrada numa missão de se encontrar com os jovens (de todo o mundo e) pelo mundo, o que é essencialmente a definição da JMJ. Das 15 edições internacionais, esteve presente em nove. Em Buenos Aires, na Argentina, pediu aos jovens que comprometessem a sua “energia juvenil na construção da civilização do amor”.

Comprometidos com a “mais bela invenção” ficaram os Papas que lhe seguiram – Bento XVI (1927-2022) esteve na Alemanha, na Austrália e em Espanha antes de se tornar no primeiro sumo pontífice a abdicar do cargo, em fevereiro de 2013; Francisco chega no próximo dia 2 de agosto a Lisboa, mas antes passou pelo Brasil, pela Polónia e pelo Panamá.

Um tema, um hino e os símbolos

Depois das duas primeiras edições em anos consecutivos, a JMJ passou a realizar-se ora de dois em dois anos, ora com um intervalo de três anos. Só a edição de Lisboa se destaca agora na lista, com quatro anos passados desde a JMJ anterior, no Panamá, em 2019. A festa em Portugal esteve agendada para 2022, mas acabou adiada um ano devido à pandemia de covid-19.

Todas as JMJ têm, desde a sua criação, um tema oriundo de uma citação bíblica e um hino. Para Lisboa, Francisco escolheu como tema “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39).

“Há Pressa no Ar”, com letra de João Paulo Vaz, Matilde Trocado e do padre Hugo Gonçalves, música de Pedro Ferreira e arranjo de Carlos Garcia, é o hino da 16ª edição internacional da JMJ, inspirada precisamente no tema a que é dedicada.

Há ainda duas peças que falta juntar à lista: os símbolos da Jornada Mundial da Juventude. São dois, um que acompanha os jovens desde o início, outro que se lhe juntou em 2003, pela mão de João Paulo II.

São eles a Cruz peregrina e o ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani que, desde novembro de 2021, se encontram em peregrinação por todas as dioceses portuguesas. Começaram pela região do Algarve e chegam a Lisboa em julho, onde permanecerão até que, a 6 de agosto, o Papa Francisco se despeça dos jovens.

A Cruz peregrina é feita de madeira, foi construída em 1983 e entregue, no ano seguinte, aos jovens que em Roma se encontraram com João Paulo II, naquele que foi o encontro-berço da JMJ. Tem quase quatro metros de altura e chegou aos cinco continentes, atravessando quase 90 países e sendo “transportada a pé, de barco e até por meios pouco comuns como trenós, gruas ou tratores”, conta a Fundação da JMJ de Lisboa. Esteve em lugares remotos, como a selva, e locais que ficaram na história por motivos dolorosos, como o Ground Zero, como é conhecida a zona onde tombaram as torres gémeas, nos atentados de 2001, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

A réplica do ícone de Nossa Senhora Salus Populi Romani retrata a Virgem Maria com o Menino nos braços, numa tela de 1,20 metros de altura e 80 centímetros de largura, e foi introduzida, em 2003, pelo Papa João Paulo II. O original está na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, que Francisco visita para rezar e deixar flores antes e depois de cada viagem apostólica.

O que certamente fará antes de deixar Roma para trás e voar até Lisboa.

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