Incêndios em Portugal

Impacto económico dos incêndios pode chegar aos 2,3 mil milhões de euros

As contas são feitas pela Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas, que explica que ao valor somaram não só os custos diretos e indiretos, como o “efeito sistémico”. 

SIC Notícias

A Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas estima que o impacto económico dos incêndios que têm afetado o país possa atingir os 2,3 mil milhões de euros. Em entrevista à SIC Notícias, o presidente Carlos Brito explica que a soma inclui custos diretos e indiretos.

Por um lado, há os custos relacionados com o combate aos incêndios e com a perda de bens, nomeadamente “casas, armazéns, instalações industriais, linhas de telecomunicações”. Por outro, os custos que ainda estão para vir.

“Os custos indiretos são aqueles que hão de vir depois. nomeadamente em termos daquilo que se perde em termos de atividade económica futura, nomeadamente no turismo, e quando em futura não significa que seja amanhã ou depois, já, já, e nós sabemos, por exemplo, que estão a ser canceladas imensas estadias nas regiões afetadas, em termos turísticos, e também há o efeito na perda de população futura nas áreas afetada”, explica Carlos Brito.

Importante calcular também "o efeito sistémico"

É nesta soma que a Ordem chega aos 2,3 mil milhões de euros. Mas há ainda um fator “difícil de calcular”, dizem, “que não pode deixar de ser equacionado e colocado em cima da mesa, que é um efeito sistémico”.

“Ao arder uma parte significativa do território, e devo dizer que Portugal é o país que este ano viu maior percentagem de área ardida no seio da União Europeia, há também um efeito da perda dos ecossistemas, o que significa que só vai contribuir para que o interior do país ainda fique mais desertificado.”

O presidente da Ordem diz que ao nível dos setores económicos, o maior impacto está na atividade florestal e genericamente na agroindústria, mas também no turismo. “Indiretamente, através da perda de populações, certamente que haverá uma menor capacidade para desenvolver a atividade económica generalizada, mas não há dúvida de que a maior parte tem a ver com a agroindústria, a parte florestal e o turismo”.

"Não é encharcando com dinheiro as populações afetadas que se vai resolver este problema”

O Governo já prometeu um apoio aos agricultores com prejuízos até 10 mil euros sem necessidade de comprovativos. Para Carlos Brito, “tudo aquilo que for agilizar os apoios são bem-vindos”, mas “não é encharcando com dinheiro as populações afetadas que se vai resolver este problema”.

“Aquilo que nós verificámos é que até ao momento a forma como tudo isto tem decorrido tem sido, digamos, muito, muito deficiente. Ainda ontem estavam no ar 34 meios aéreos. Curiosamente, antes desta crise começar, dizia-se que Portugal podia contar com 80 meios aéreos”

“Onde é que estão os outros? Isto significa que há aqui alguma descoordenação. Quando o Sr. Secretário de Estado diz que há descoordenação momentânea, eu creio que é mais do que isso. Mas não é só no ataque ao incêndio, é também na prevenção”, acrescenta Carlos Brito.

“O Governo tem comunicado muito mal esta crise"

O Conselho de Ministros reúne-se esta quinta-feira, em Viseu, para aprovar medidas de apoio às populações afetadas. O presidente da Ordem diz que espera que seja anunciado “um grande pacote de medidas e dessa forma o Governo vai resolver um problema que tem tido, que é um problema de comunicação”.

“O Governo tem comunicado muito mal esta crise, porque é uma crise que o país está a viver, a estratégia de comunicação, de marketing, chamemos assim, tem sido extremamente deficiente e o Governo vai tentar colmatar essas falhas e essas deficiências anunciando um pacote muito significativo em termos de montantes para fazer com que as pessoas esqueçam”.

“Esqueçam até quando? Até ao próximo ano, porque vamos ter alguns problemas. Se não for no próximo ano, será no seguinte, porque há uma coisa, há dois fatores que estão a contribuir para isto. Primeiro as alterações climáticas, que vão piorar, depois a desertificação do interior, que vai piorar porque há incêndios e fazem com que as populações ainda saiam mais do interior”, finaliza.

Após vários dias, o país já não está em situação de alerta e a situação está esta manhã mais calma. Até ao momento, os incêndios provocaram três mortos, incluindo um bombeiro, vários feridos e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.

Últimas