A Rota Turística da Nacional 2 guinou para o fogo e Castro Daire ficou em cinzas. O incêndio rodeou aldeias nos dois lados da estrada e nem a A24 escapou ao susto que a chuva aliviou de quinta para sexta-feira.
Grijó, com pouco mais de meia centena de habitantes, idosos na maioria, viveu o maior sobressalto das últimas décadas.
“Eu nunca vi o inferno, mas eu vi-o agora nestes dias. Era um inferno de lume.”
O fogo e o vento ao comando deixaram populações inteiras nas mãos do auxílio vizinho.
O reforço de meios chegou a Castro Daire de quarta para quinta-feira, quando a história do incêndio já não podia ser reescrita.
Em Souto D`Alva, no enfiamento de Ribolhos, um aviário esteve por um triz.
“Eu só gritava para o meu marido ‘Deixa arder, vamos fugir’, mas ele estava com aquela ânsia de tentar salvar o que podia. E depois eu não o queria deixar sozinho.”
António Fernandes queimou o rosto de tanto lutar contra o fogo, que acabaria por sair de cena com perdas pelo caminho.
- "Obrigado heróis": emoção no último adeus aos bombeiros que morreram no incêndio de Tábua
- A noite mais longa do ano: gritos de aflição, confusão e muito medo das chamas que devoravam tudo
Castro Daire não chorou a perda de vidas humanas, mas arderam casas, apoios agrícolas, animais e 75% do perímetro florestal. Pelo menos 30 mil hectares foram engolidos pelo maior incêndio de que há memória.
Em Coura, já se lavam os cestos para a vindima, mas ninguém esquece os últimos dias. O fogo rodeou a aldeia e algumas perdas foram inevitáveis.
Em todo o concelho, as famílias ficaram mais pobres. Ardeu o ganho da floresta, dos castanheiros e da vinha. Mas enquanto houver estrada, a viagem continua.
“Temos de enfrentar a vida, não podemos parar.”