Incêndios em Portugal

"Um inferno de lume": centenas de pessoas viram o fogo à porta

O fogo desta semana em Castro Daire acabou com quase toda a mancha florestal do concelho. Rodeou aldeias quando os bombeiros eram poucos e só não fez mais estragos porque o espírito de entreajuda popular foi mais forte. 

Madalena Ferreira

Paulo Gabriel

A Rota Turística da Nacional 2 guinou para o fogo e Castro Daire ficou em cinzas. O incêndio rodeou aldeias nos dois lados da estrada e nem a A24 escapou ao susto que a chuva aliviou de quinta para sexta-feira. 

Grijó, com pouco mais de meia centena de habitantes, idosos na maioria, viveu o maior sobressalto das últimas décadas. 

“Eu nunca vi o inferno, mas eu vi-o agora nestes dias. Era um inferno de lume.” 

O fogo e o vento ao comando deixaram populações inteiras nas mãos do auxílio vizinho. 

O reforço de meios chegou a Castro Daire de quarta para quinta-feira, quando a história do incêndio já não podia ser reescrita.  

Em Souto D`Alva, no enfiamento de Ribolhos, um aviário esteve por um triz. 

“Eu só gritava para o meu marido ‘Deixa arder, vamos fugir’, mas ele estava com aquela ânsia de tentar salvar o que podia. E depois eu não o queria deixar sozinho. 

António Fernandes queimou o rosto de tanto lutar contra o fogo, que acabaria por sair de cena com perdas pelo caminho. 

Castro Daire não chorou a perda de vidas humanas, mas arderam casas, apoios agrícolas, animais e 75% do perímetro florestal. Pelo menos 30 mil hectares foram engolidos pelo maior incêndio de que há memória. 

Em Coura, já se lavam os cestos para a vindima, mas ninguém esquece os últimos dias. O fogo rodeou a aldeia e algumas perdas foram inevitáveis. 

Em todo o concelho, as famílias ficaram mais pobres. Ardeu o ganho da floresta, dos castanheiros e da vinha. Mas enquanto houver estrada, a viagem continua. 

“Temos de enfrentar a vida, não podemos parar.” 
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