Incêndios em Portugal

Ministra da Administração Interna fala pela primeira vez ao país

Margarida Blasco quebrou o silêncio depois de não se ter pronunciado sobre os incêndios dos últimos dias. Considera que, até então, não tinha sido tempo de falar.

Mariana Jerónimo

A ministra da Administração Interna dirigiu-se, pela primeira vez, ao país desde o início dos incêndios que têm lavrado grande parte do território nacional. Diretamente da sede da Proteção Civil, Margarida Blasco refere que, nos últimos dias, foi acionado o "maior dispositivo de combate a incêndios alguma vez mobilizado" em Portugal.

A ministra da Administração Interna justificou o silêncio que manteve sobre a situação dos incêndios, explicando que, até então, não tinha sido tempo de falar.

“As boas práticas aconselham a que não haja intervenções desnecessárias no terreno ou no contexto comunicacional”, disse.

E foi isso que fez, explicou, acrescentando que há um tempo para agir e acompanhar os operacionais e outro - “como este” - para “finalmente” falar ao país e explicar o que aconteceu, o que foi feito e porquê.

A fita do tempo dos acontecimentos:

  • Quinta-feira (12 de setembro) -Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) informa o Ministério da Administração Interna (MAI) sobre um possível agravamento do risco de incêndio rural no fim de semana (14 e 15 de setembro) com incidência nos dois dias seguintes (16 e 17). ANEPC informa que vão ser tomadas um conjunto de medidas operacionais.
  • Sexta-feira (13 de setembro) - ANEPC eleva o estado de alerta para "amarelo" em todo o território nacional. Durante a tarde, a GNR reforçou o patrulhamento e vigilância florestais. No período da noite, ANEPC informa o MAI após contacto com a Infraestruturas de Portugal para serem emitidas mensagens de alerta nas autoestradas.
  • Sábado (14 de setembro) - MAI pede à ANEPC um novo ponto da situação sobre as medidas tomadas. ANEPC eleva o nível de alerta para "laranja" em 11 das 24 sub-regiões do país. Desenhado mapa das ocorrências significativas de incêndio.
  • Domingo (15 de setembro) - Emitida declaração de alerta entre as 13 horas de domingo e as 23h59 de terça-feira. ANEPC faz conferência de imprensa sobre o agravamento do risco de incêndio.
  • Segunda-feira (16 de setembro) - ANEPC eleva o estado de alerta para "vermelho" e solicita autorização para ativação do Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia, autorizado por Margarida Blasco. Primeiro-ministro entra em contacto com Ursula von der Leyen. Canadair espanhóis juntam-se ao combate às chamas. MAI estabelece contacto com homólogos de Marrocos e Espanha. Prorrogação do estado de alerta até às 23h59 do dia 19 de setembro.
  • Terça-feira (17 de setembro) - Parelha de Canadair de França e Itália chegam a Portugal. Operacionais espanhóis juntam-se ao combate às chamas em território nacional. Conselho de Ministros Extraordinário para declarar "situação de calamidade" em Portugal.
  • Quarta-feira (18 de setembro) - Reino de Marrocos envia parelha de Canadair.
  • Quinta-feira (19 de setembro) - Ministra da Administração Interna (MAI) fala pela primeira vez aos portugueses.

De acordo com Margarida Blasco, existiu sempre um contacto "permanente " com Luís Montenegro sobre o "evoluir da situação, do agravamento da situação meteorológica e do risco de incêndio rural".

Falhas no combate aos incêndios? Tudo a seu tempo

Margarida Blasco recusou responder se houve falhas no combate aos incêndios que lavram desde domingo nas regiões Norte e Centro de Portugal continental, afirmando que será elaborado um relatório.

"Ainda temos fogos neste momento, portanto, no final quando estivermos a fazer o rescaldo, quando se fizer o ponto da situação, faremos o relatório e, como sempre, apreenderemos e iremos e estaremos à vossa disposição para esclarecer se houve ou não houve falhas, se tudo correu bem, mas isso tem também o seu tempo", declarou.

Luís Montenegro reúne-se com ministros e autoridades

Na próxima segunda-feira, dia 23 de setembro pelas 15h30, o primeiro-ministro irá reunir-se com a Procuradora-Geral da República, as ministras da Justiça e da Administração Interna, o Diretor Nacional da Polícia Judiciária, o Comandante Geral da GNR e o Diretor Nacional da PSP.

"Havendo a convicção que muitos destes incêndios têm origem criminosa, há que destrinçar entre aqueles que eventualmente sejam negligentes dos outros que possam configurar uma associação criminosa. Esta investigação tem que ser feita com a colaboração entre todas as autoridades judiciárias e órgãos de policia e investigação criminal", frisa Margarida Blasco.

"Maior dispositivo alguma vez mobilizado no país"

Os incêndios dos últimos dias mobilizaram (e continuam a mobilizar) o maior dispositivo de sempre, indicou a ministra da Administração Interna. No terreno, de 14 a 18 de setembro, estiveram 37.772 operacionais, 10.639 meios terrestres e foram efetuadas 827 missões aéreas - a que correspondem 8.757 descargas.

No mesmo período foram registadas 1.044 ignições, das quais 416 foram em período noturno. O total de área ardida encontra-se nos 94.146 hectares.

Com Lusa

[Última atualização às 21h38]

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