Centenas de incêndios atingiram o território nacional desde o fim de semana, fazendo pelo menos sete vítimas mortais e dezenas de feridos. Uma catástrofe que não é novidade em Portugal. Pedro Bingre do Amaral, professor de Engenharia Florestal do Politécnico de Coimbra, analisa o que é preciso fazer de diferente no futuro.
Primeiro é necessário contextualizar que, numa região mediterrânica como a nossa, haver fogos “é inevitável”. No entanto, “sob um risco natural que já existia, acrescentamos outros fatores de risco pela falta de ordenamento florestal", considera o professor.
"Neste momento, graças ao despovoamento do interior, temos o país completamente alterado. (…) Temos 45% do território inculto, entregue a si mesmo - 30% matos e 15% pinhais e eucaliptos abandonados".
Há, neste cenário, uma tarefa técnica por fazer: substituir os milhões de hectares de terrenos incultos. Pedro Bringe do Amaral lista quatro opções:
"Ou praticamos a agricultura - o que parece improvável -, instalamos pastagens, instalamos um bosque fechado, ou instalamos montados, como vemos no Alentejo.
“Os recursos estão aí”
Não existem soluções mágicas, mas o professor do Politécnico de Coimbra considera que “há dinheiro” para colocar em prática a reforma necessária.
“Exige tempo e recursos, mas os recursos estão aí. Na prevenção e combate a incêndios estamos a gastar, coletivamente, cerca de 520 milhões de euros por ano".
No entanto, a falta de técnicos pode ser um problema. “A profissão de engenharia florestal está em franco declínio”, afirma Pedro Bringe, recordando que “este ano entraram menos de 10 alunos em todo o país para estudar engenharia florestal".