“Vai buscar água!”, gritavam os moradores, entre si. E a ajuda não chegava. Faltavam braços. Faltava quase tudo. Menos coragem.
O chão de fogo era cada vez maior. O vento empurrava as chamas em direção às casas.
“Não foi o inferno, era o fim do mundo", desabafa uma mulher.
Era madrugada, mas poucos dormiam. Os bombeiros tentavam controlar a linha de fogo cada vez mais musculada. Os moradores desesperavam. Estava cada vez mais perto.
As projeções multiplicavam-se e o fogo, desvairado, já não tinha rédea. Espalhava-se por todas as freguesias.
“Nunca vi tal coisa na minha vida”, dizia um habitante. “Foi horrível”, lamentou outra. Viu parte da casa ficar destruída e os animais morrerem.
“Ardeu tudo. Tudo.”
O centro de saúde de Albergaria abriu as portas para receber quem precisasse. Foram assistidas pelo menos 20 pessoas com dificuldades respiratórias, por inalação de fumo, e queimaduras.
A Proteção Civil dava conta de 40 casas e 12 empresas atingidas. O pavilhão municipal era usado como dormitório.
Mas para Lúcia, mais do que nunca, era hora de arregaçar as mangas. Com a mangueira, Manuel, o marido, defendia o património da família. E, à falta de recursos, improvisava-se.
Mais de 10 mil hectares de floresta já arderam no distrito de Aveiro. Em Águeda há também várias casas em risco – com os moradores entregues a si próprios.
As chamas acalmaram esta terça-feira. As principais estradas de Albergaria reabriram ao trânsito. Mas a normalidade ainda está longe.