Mais de trinta civis perderam vida no mais recente ataque russo contra a cidade ucraniana de Sumy, que vai, aos pucos, recuperando da carnificina. Quem presenciou os bombardeamentos recorda o episódio traumático que viveu de perto. Alerta-se para a violência das imagens.
Há muito trabalho pela frente. O edifício da Universidade Estatal de Sumy foi esventrado por um míssil balístico lançado pelas forças russas. O projétil estava carregado com bombas de fragmentação, que se espalharam por uma das ruas centrais da cidade.
No momento do impacto, à frente do edifício, seguia autocarro 62. Estava cheio. Tetiana Ivanivna, de 71 anos, estava lá dentro. Ia à missa e faltavam apenas três paragens para chegar à igreja.
“Quando eu abri os olhos, no autocarro, não dava para ver nada. Estava tudo cinzento por causa do monóxido de carbono. As pessoas estavam em pânico. E eu estava ali sem me mexer, continuo a agarrar-me. No chão estava um idoso que já estava morto. Debaixo dele outro idoso [...] Aqui estavam muitos cadáveres, sobretudo de mulheres. E uma das mulheres estava muito desfeita.”, conta à SIC.
Tetiana Ivanivna passou pelos cadáveres e seguiu para a missa. O Domingo de Ramos estava a ser celebrado por muitos moradores. Yulia, estava na catedral próxima do local da segunda explosão:
“Muito triste, há tantas vítimas inocentes, muitas crianças que sofreram, estão nesta altura hospitalizadas, não se sabe o que vai ser delas. Aquilo que nós vemos aqui conseguimos reconstruir, mas as vidas e as nossas psiques traumatizadas, isso nunca passa. Eu nunca vou esquecer o que aconteceu. Espero que quanto mais pessoas souberem e prestarem atenção pode ser que o mundo reaja a este sangrento ato da Federação Russa.”
Governo de Sumy apresentou demissão
Nesse dia, o primeiro míssil caiu 100 metros ao lado. Atingiu o Centro de Congressos da cidade. No abrigo do edifício, estariam reunidos militares para uma cerimónia que contava com a presença do governador da região.
Não é expectável que se realizem ajuntamentos de soldados em lugares onde há civis. Ninguém quer assumir a responsabilidade pela organização de uma cerimónia de entrega de medalhas a militares.
À SIC ninguém quis prestar esclarecimentos, mas o certo é que o governador da região, o chefe da administração militar desta região, renunciou ao cargo.
É precisamente com esta cerimónia que Moscovo justifica o ataque à cidade. Mas do que se sabe, as vítimas são todas civis.