Guerra Rússia-Ucrânia

Irmãs fizeram 60 horas de autocarro até Portugal para espalhar as cinzas do filho e sobrinho que morreu na guerra

Na Ucrânia, os funerais de soldados caídos em combate tornaram-se um ritual comum em todo o país. Menos comum são as vezes em que os soldados deixam testamentos a detalhar como querem que os seus restos mortais sejam tratados. O jovem Kostya tinha 23 anos quando morreu na linha da frente. Agora a sua mãe veio até Portugal, acompanhada pela irmã, espalhar as cinzas do filho no Cabo da Roca, o local mais ocidental da Europa que o jovem sempre sonhou conhecer.

Iryna Shev

Salvador Reto

Paulo Gamito

Olga e Iryna chegam a Lisboa depois de uma longa viagem a partir da Ucrânia. As duas mulheres, irmãs, estão em Portugal para cumprir uma missão. Ambas perderam filhos na linha da frente. Em sítios diferentes, mas praticamente na mesma altura.

Um deles chamava-se Kostya e sonhava conhecer o ponto mais ocidental da Europa. Local para onde a mãe fez questão de o levar.

"Dizem que isto é o fim do mundo. Mas talvez isto seja uma espécie de despedida da vida que existia antes. E o início de uma nova vida, com lembranças, com trabalho em memória dele. Com continuação de trabalho pelas forças armadas da Ucrânia. Para que a Ucrânia vença. Sem ele, mas com o nome dele", refere Olga.

O jovem Kostya tinha 23 anos. Pediu para ser cremado porque dizia que não queria que as futuras gerações de soldados tivessem de cavar trincheiras por cima dos seus ossos. Deixou isso bem claro no testamento que escreveu ainda antes de se voluntariar para o exército. Agora, as cinzas de Kostya estão a percorrer o mundo.

A irmã de Olga também de luto tem apenas recordações do próprio filho. Aos 22 anos, Mykola morreu depois de um ataque com uma bomba aérea guiada. Ficou apenas o crucifixo que trazia ao pescoço.

"Ele passou a vida toda na aldeia. Estava sempre a dizer piadas, sempre a rir. Eu vejo as fotografias e não consigo encontrar nem uma fotografia séria. Em todas as fotografias está sempre com um sorriso. Era teimoso. Gostava muito de cozinhar. Era uma criança como outra qualquer", descreve Iryna.

O filho de Iryna estava na Polónia quando começou a invasão e regressou de propósito para combater uma guerra sem fim à vista.

"Que guerra é esta? Na minha opinião, trata-se de genocídio. É a destruição dos ucranianos enquanto nação", acrescenta.

Viver por si próprias e pelos filhos que caíram em combate. É o que mantém acesa a chama destas mulheres, tal como a de muitas outras mães pela Ucrânia fora.

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