Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: a longa (mas inevitável) caminhada ucraniana

A NATO, os EUA e o Reino Unido identificam “progressos graduais” das tropas de Kiev no terreno. As ações ofensivas na Crimeia e em território russo provocam desconforto crescente no Kremlin. A Ucrânia prossegue a sua longa caminhada rumo à resistência e à reconquista possível. Sabe que não tem alternativa – e corre contra o tempo, perante as propostas de “cedência pragmática” em nome de uma suposta (mas ilusória e, no limite, miserável) “paz”. Assim mesmo, com aspas. Premiar o agressor? Não seria Paz alguma. Análise do comentador da SIC Germano Almeida.
Alexey Furman

Germano Almeida

1 – Stoltenberg em Kiev: Ucrânia está “gradualmente a ganhar terreno”

O Secretário-geral da NATO e os ministros da Defesa de França e do Reino Unido foram a Kiev para visita surpresa. Stoltenberg foi claro: “A NATO tem contratos firmados no valor de 2,4 mil milhões de euros para compra de munições essenciais para a Ucrânia. Isto ajudará os aliados a reabastecer os seus stocks. Quanto mais forte a Ucrânia se tornar, mais perto estaremos de acabar com a agressão da Rússia”.

Stoltenberg afirmou que as forças ucranianas estão “gradualmente a ganhar terreno” na sua contraofensiva contra as forças russas. Durante uma conferência de imprensa conjunta com Zelensky, Stoltenberg afirmou que as tropas russas estão a lutar por “ilusões imperiais” do Kremlin. Num encontro com o Presidente ucraniano, Grant Shapps, sucessor de Ben Wallace, prometeu manter o apoio incondicional do Reino Unido à Ucrânia. O Reino Unido pretende treinar 30.000 soldados ucranianos até ao final do ano.


2 – EUA aprovam empréstimo de dois mil milhões de dólares a Polónia, fundamental para modernização dos sistemas de defesa polacos

O Departamento de Estado norte-americano aprovou este empréstimo em reconhecimento de Varsóvia ter “demonstrado o seu compromisso inabalável no fortalecimento da segurança regional através dos seus sólidos investimentos em despesas de defesa”. A Polónia vai construir a primeira central nuclear em parceria com EUA. O primeiro-ministro Morawiecki acredita que a central nuclear — fonte de energia que considera "estável" e "limpa" — marca novo capítulo que visa reduzir dependência polaca dos combustíveis fósseis russos. A central deverá começar a produzir eletricidade em 2033. A Alemanha opõe-se.

Enquanto isso, a República Checa vai comprar 24 caças F-35 norte-americanos, anunciou hoje o primeiro-ministro, Petr Fiala. "Os primeiros F-35 estarão prontos em 2029 e os nossos pilotos começarão a treinar nos Estados Unidos", disse Fiala, acrescentando que os primeiros aviões de combate deste modelo chegarão ao país em 2031 e todos os 24 estarão disponíveis até 2035. A ministra da Defesa checa, Jana Cernochova, disse que o preço total da transação foi de 150 mil milhões de coroas (cerca de seis mil milhões de euros). As Forças Armadas da República Checa utilizam atualmente aviões de caça Gripen, de fabrico sueco, cujo aluguer expirará em 2027; Serviços Informação Checos acusam agentes russos de subornarem figuras públicas checas para difundirem propaganda pró-invasão.

Os Países Baixos anunciaram que irão entregar os primeiros caças F-16 à Ucrânia já em 2024. Demora na entrega destas aeronaves de guerra é justificada pela necessidade de treinar as forças ucranianas para que estejam em condições de saberem pilotar os caças. Pilotos e equipas técnicas terão de ser treinados antes da entrega dos aviões, estimando que este período de treino leve entre seis a oito meses. Já a Bulgária vai doar à Ucrânia mísseis de defesa aérea que estão defeituosos.


3 – Ministro ucraniano afirma que o país está dedicado a resolver a tensão com a Polónia

“Nós transmitimos sinais claros à Polónia acerca do nosso compromisso para com uma solução construtiva desta situação. Nem nós não precisamos desta guerra dos cereais nem precisa a Polónia”, afirmou Dmytro Kuleba, ministro ucraniano dos negócios estrangeiros em entrevista à Interfax-Ukraine, agência noticiosa ucraniana. Kuleba afirmou que a “narrativa sobre a ingratidão da Ucrânia que está plantada nas cabeças do povo polaco pode ter consequências extremamente negativas para a segurança”. O ministro reforçou que a Ucrânia está “sincera e profundamente grata” ao povo e governo polaco. O ministro avisou ainda que, até às eleições polacas, “as temperaturas na Polónia ainda podem subir”.

4 – Metsola quer negociações com Ucrânia até dezembro e admite “desafio” nas eleições europeias de 2024 em Portugal

A presidente do Parlamento Europeu defende que as negociações formais sobre a adesão da Ucrânia e Moldova à União Europeia devem ser iniciadas até ao final do ano, pedindo aos Estados-membros que "não desiludam milhões de pessoas". "Em vez de nos centrarmos na data -- e é bom que exista uma data em cima da mesa --, vamos concentrar-nos na esperança de iniciar as negociações de adesão até ao final deste ano", disse Roberta Metsola. A líder da assembleia europeia insistiu que "se a Ucrânia e a Moldova estiverem prontas, as negociações de adesão devem poder ser iniciadas de forma progressiva". "As negociações de adesão deveriam poder ser iniciadas e progressivas [porque] cada país tem o seu próprio caminho, mas não desiludamos os milhões de pessoas que olham para a Europa como a sua casa". O tema do alargamento estará em cima da mesa na terceira cimeira da Comunidade Política Europeia, que se realiza na cidade espanhola de Granada na quinta-feira da próxima semana. No dia seguinte, decorre um Conselho Europeu informal, realizado em Espanha no âmbito da presidência espanhola do Conselho da UE, também dedicado à extensão do bloco comunitário. "Aguardo com expectativa as discussões", observou Roberta Metsola." Posso dizer, com base na minha experiência de país candidato, que é preciso dar passos e que se estamos a avançar rapidamente porque as recomendações que nos são feitas estão a ser atendidas, então temos de estar prontos para dar o próximo passo e, portanto, se a Ucrânia e a Moldova estiverem prontas, então as negociações de adesão devem ser concluídas", vincou ainda a responsável. Para a abertura das negociações formais de adesão é necessário o acordo de todos os Estados-membros da UE, sendo que tal processo visa preparar um país candidato em termos de adaptação à legislação e de aplicação das necessárias reformas judiciais, administrativas e económicas.


5 – Comissão defende que a guerra da Ucrânia causada pela invasão russa “sublinha a importância” do alargamento da União Europeia

Em posição divulgada antes do Conselho Europeu informal de Granada, que se realiza a 06 de outubro no âmbito da presidência espanhola da UE e que será dominado pela eventual entrada de novos membros no projeto comunitário, a Comissão Europeia vinca que “a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia sublinha a importância do alargamento da UE”. “A UE continua a prestar assistência a todos os países candidatos na via da plena adesão e avaliará os progressos realizados até à data no seu próximo pacote anual sobre o alargamento”, salienta o executivo comunitário. “Uma União alargada tornará a UE mais segura e mais próspera”. “O alargamento é um motor para melhorar as condições económicas e sociais dos nossos cidadãos e reduzir as disparidades entre os países. Na perspetiva de uma nova União alargada, tanto a UE como os futuros Estados-membros têm de estar preparados: os futuros membros devem intensificar os seus esforços de reforma e a União tem de efetuar o necessário trabalho de base a nível interno”, refere o documento, a ser acordado pelos 27 chefes de Governo e de Estado europeus. “Teremos, nomeadamente, de nos debruçar sobre questões fundamentais [como] o que é que fazemos em conjunto, como é que decidimos, como é que fazemos corresponder meios e ambições”, é ainda mencionado, numa alusão a eventuais reformas institucionais como revisão de Tratados e a uma hipotética passagem para a maioria qualificada em vez da unanimidade em certas matérias.


6 – Lavrov: “Ocidente destruiu integridade territorial da Ucrânia”

Ao falhar os acordos de Minsk, foram os países ocidentais que puseram em causa o território ucraniano, alega o ministro dos negócios estrangeiros russo “Quando aqueles que desenvolveram os Acordos de Minsk juntamente com Vladimir Putin reconheceram que o tinham, de facto, enganado, pois não tinham planeado implementar os acordos, arruinaram a integridade territorial da Ucrânia”.

No sábado, ainda na AG da ONU, o chefe da diplomacia de Moscovo já tinha dito que o plano de paz proposto por Kiev é “completamente inviável” e criticou a postura do país. “Não é possível implementar o plano de 10 pontos. Não é realista e todos entendem isso, mas, ao mesmo tempo, continuam a insistir que esta é a única base para negociações”. Lavrov voltou a acusar o Ocidente de ser um “império de mentiras” que apoia o lado ucraniano. “Uma manifestação flagrante do egoísmo da minoria ocidental são as tentativas obsessivas de ucranianizar a agenda dos debates internacionais. De fora ficam várias crises regionais não resolvidas, muitas delas arrastam-se há anos e mesmo décadas”.

7 – Cerca de 600 militares da NATO até sexta no exercício “Toxic Trip”

Aa base aérea belga de Koksije acolhe exercício de grande envergadura, que testa a defesa da Aliança Atlântica contra ataques químicos, biológicos, radiológicos e nucleares. Nele participam militares de 18 países, incluindo aliados e parceiros da NATO como a Áustria e a Coreia do Sul. A Suécia, futuro aliado que aguarda a ratificação da Hungria e da Turquia para se tornar membro de pleno direito da NATO, também participa. O objetivo do “Toxic Trip” é implementar e harmonizar procedimentos e técnicas de defesa passiva em “cenários realistas” contra estes quatro tipos de ameaças no país que acolhe o exercício e, por extensão, em todo o território da NATO. A ideia é que, no caso de uma ameaça real em qualquer parte do mundo, a ação e a cooperação possam ser “ainda melhores e mais rápidas”.

Entretanto, EUA e Coreia do Sul realizam exercícios militares de fogo real no mar do Japão, em resposta a perigosa aproximação Coreia do Norte/Rússia. Já a Rússia efetua exercícios ao largo do Alasca com 10 mil militares, nos mares de Chukotka e de Bering, ao largo do estado norte-americano do Alasca: “O exercício tático envolve cerca de 10 mil militares e mais de 50 unidades de material de guerra, incluindo navios de superfície e de apoio, submarinos, aviões e helicópteros”. Ainda antes da invasão da Ucrânia, Moscovo promoveu a rota do Mar do Norte como o futuro do transporte global de mercadorias da Ásia para a Europa.


8 – Espiões russos estão a utilizar piratas informáticos para atacar os sistemas informáticos das agências responsáveis pela aplicação da lei na Ucrânia

O objetivo é ter acesso as provas recolhidas de crimes de guerra russos na Ucrânia. Se no ano passado o foco das ações dos piratas russos eram as infraestuturas energéticas ucranianas, desta vez o departamento de prevenção do cibercrime da Ucrânia aponta que os alvos são “a procuradoria-geral da Ucrânia, tribunais, procuradores e instituições responsáveis pela aplicação da lei”.

Entretanto, o Ministério Público da Ucrânia está a trabalhar com advogados de direitos humanos com um objetivo de acusar a Rússia de provocar fome aos ucranianos, de forma deliberada; em preparação um dossier para ser entregue ao Tribunal Penal Internacional.

9 – Rússia emite mandado de busca contra presidente do TPI

A Rússia incluiu o Presidente do Tribunal Penal Internacional (TPI), o polaco Piotr Hofmanski, na lista de pessoas procuradas pela Justiça russa, sem especificar o motivo. “Procurado no âmbito de uma investigação criminal”, indicou o Ministério do Interior russo (equivalente ao Ministério de Administração Interna) no portal de dados de pessoas procuradas. Uma bizarra inversão da verdadeira ordem das coisas.


10 – FMI começa segunda revisão de empréstimos à Ucrânia

Uma missão de monitorização do Fundo Monetário Internacional (FMI) começou esta segunda-feira o segundo trabalho de revisão de empréstimos multianuais à Ucrânia no valor de aproximadamente 14,6 mil milhões de euros, escreve a agência Reuters. Vahram Stepanyan, representante residente do FMI, disse em comunicado que as discussões com o Governo ucraniano teriam como tópicos os recentes desenvolvimentos económicos e políticas fiscais e financeiras.

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