Guerra Rússia-Ucrânia

Um ano de guerra: 1,5 milhões de crianças "à beira do abismo"

A percentagem de crianças que vive numa situação de pobreza duplicou, segundo a UNICEF, para além dos efeitos traumáticos que as bombas, a insegurança, as deslocações, a perda de educação terão na vida das crianças daqui para a frente. A organização apela ao apoio humanitário internacional pela defesa das crianças ucranianas e do seu futuro.

Vadim Ghirda/ AP

SIC Notícias

O comunicado da UNICEF alerta para o ambiente traumático que as crianças ucranianas têm vivido há quase um ano, não havendo um único aspeto da sua vida que a guerra não tenha afetado: mortas, feridas, forçadas a abandonar as suas casas, sem educação crítica, sem sentirem um ambiente seguro e protegido.

De acordo com a Diretora Executiva da UNICEF, as crianças ucranianas suportaram, neste último ano, um grande sofrimento.

"As crianças na Ucrânia viveram um ano de terror. Milhões de crianças vão dormir com frio e assustadas, e acordam com esperanças de um fim para esta guerra brutal. Crianças foram mortas e feridas, e muitas perderam pais e irmãos, os seus lares, escolas e lugares para brincar. Nenhuma criança deveria jamais ter de suportar esse tipo de sofrimento.", afirma.

No entanto, a guerra na Ucrânia não está a ter apenas um impacto direto nas crianças ucranianas, mas também, indireto, pelas consequências externas ao conflito bélico.

Quais os impactos da guerra

A crise económica causou uma grande perda de rendimento e poder de compra a um um vasto número de famílias. Também a crise energética - consequência da guerra - que leva muita gente a não te possibilidades de aquecer a sua casa.

Tudo isto coloca em causa o bem-estar das crianças e das famílias. Segundo dados da UNICEF, a percentagem de crianças que vivem em situação de pobreza quase duplicou de 43% para 82%. A situação é especialmente grave para os 5,9 milhões de pessoas que estão atualmente deslocadas no interior da Ucrânia. Da mesma forma, existe uma crise de saúde mental, tendo em conta o impacto devastador que a guerra.

Estima-se que 1,5 milhões de crianças estão em risco de depressão, ansiedade, stress pós-traumático e outros problemas de saúde mental, com potenciais efeitos e implicações a longo prazo.

"As crianças precisam do fim desta guerra e de uma paz sustentada para recuperarem a sua infância, voltarem à normalidade e começarem a recuperar", disse Catherine Russell. "Até que isso aconteça, é absolutamente crítico que a saúde mental e as necessidades psicossociais das crianças sejam priorizadas. Isto deve incluir ações de prestação de cuidados de nutrição adequadas à idade, iniciativas para a construção de resiliência; e especialmente no caso das crianças e adolescentes mais velhos, é necessário dar-lhes oportunidades de expressarem as suas preocupações."

Por último, a guerra tem estorvado a educação de mais de cinco milhões de crianças que, segundo o comunicado da UNICEF, lhes nega “o sentido de estrutura, segurança, normalidade e esperança que a sala de aula lhes proporciona”.

Juntando a pandemia covid-19 com a guerra na Ucrânia, a educação das crianças nestes últimos anos tem sido bastante escassa, o que condiciona o seu futuro, sendo que já estão há três anos sem uma situação educacional regularizada.

As crianças que fugiram da guerra enfrentam maior risco de tráfico humano e as que ficaram continuam à mercê dos ataques das forças russas.

As soluções (inexistentes)

As crianças e famílias ucranianas já não têm um acesso facilitado e direto a serviços básicos, dado que mais de 1.000 instalações de saúde foram destruídas ou danificadas por bombas e ataques aéreos russos.

Estes ataques causaram mortes ou lesões graves aos que já estavam hospitalizados, como crianças e pessoal médico, condicionando, então, a prestação de serviços e o acesso que as famílias têm a cuidados básicos.

Exemplo disso são as milhares de crianças que tiveram de migrar e se deslocar para se protegerem do conflito que não tiveram possibilidade de se imunizar, através da vacinação, contra o sarampo a difteria, poliomielite, entre outras.

Os apoios internacionais

A UNICEF, desde o primeiro dia de guerra na Ucrânia - 24 de fevereiro de 2022, conseguiu ajudar o país invadido graças ao apoio da comunidade internacional.

  • forneceu material de aprendizagem a 770.000 crianças;
  • beneficiou 1,4 milhões de crianças com acesso a educação formal e não formal;
  • facultou acesso a serviços de saúde mental e apoio psicossocial a 2,9 milhões de crianças e cuidadores;
  • prestou serviços de resposta à violência baseada no género a 352.000 mulheres e crianças;
  • beneficiou 4,6 milhões de pessoas com acesso a água potável;
  • facilitou acesso a serviços de saúde a 4,9 milhões de pessoas;
  • forneceu assistência em dinheiro a 1,4 milhões de pessoas dentro da Ucrânia e a 47.494 agregados familiares refugiados nos países vizinhos.

A UNICEF lançou recentemente o seu Apelo Anual de Acão Humanitária para as Crianças.

A organização esclarece que necessita de 1,1 mil milhões de dólares para “satisfazer necessidades imediatas” . Os doadores portugueses podem fazer o seu donativo na página da UNICEF Portugal aqui.

Estas doações são importantes, segundo a instituição, para colmatar os efeitos destas crises através da ação da UNICEF, ao permitir que esta forneça serviços de saúde, nutrição. proteção infantil, violência baseada no género, água e saneamento.

As perdas, até agora

A ONU estima que, entre 24 de fevereiro de 2022 e 5 de fevereiro de 2023 o número de vítimas civis na Ucrânia ascendia a 18.817: 7.155 mortos e 11.662 feridos embora reconheça que "os números reais são consideravelmente mais altos". Entre os mortos contam-se 438 crianças.

A maioria das vítimas morreu em bombardeamentos russos, segundo a ONU.

Da mesma forma, desde o início da guerra, e segundo o documento do Laboratório de Investigação Humanitária, financiado pelo Departamento de Estado norte-americano, milhares de crianças, incluindo bebés a partir de quatro meses, terão sido levadas para campos educacionais na Rússia.

No total, serão 43 centros instalados desde a Crimeia até à Sibéria, destinados à “reeducação patriótica e militar pró-Rússia".

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